Há 28 anos, o país era apresentado aos habitantes de Santana do Agreste, fictícia cidade no Nordeste brasileiro onde se passa a história de “Tieta”. Em maio, mês que completa sete anos no ar, o canal comemora em grande estilo com esse clássico da teledramaturgia brasileira. O folhetim é um dos mais pedidos pelos assinantes do VIVA e substituirá “A Gata Comeu” a partir do dia 1º, às 15h30 e à 0h30. Pela primeira vez, desde sua estreia em 2010, o VIVA vai exibir, aos domingos, uma maratona dos capítulos da semana da novela “Tieta”. Será todo domingo, a partir do dia 7, às 19h.
Sucesso unânime e campeã de audiência em 1989, quando foi ao ar na Globo, a novela de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares – primeiro trabalho como coautor – conquistou o país com seu enredo irreverente, destacando bordões, sotaques, costumes e figurinos dos personagens. Emblemáticos, esses caíram nas graças do público, desde a protagonista de gênio forte – considerada símbolo do feminismo -, eternizada pela interpretação de Betty Faria, até sua irmã, a caricata Perpétua, vilã consagrada por Joana Fomm.
Inspirada no romance “Tieta do Agreste”, de Jorge Amado, a novela tem como tema central a reviravolta da vida de Tieta (Claudia Ohana/Betty Faria). Vinte e cinco anos após ser escorraçada da cidade pelo pai, Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos), ela retorna à terra natal para se vingar de todos que a trataram mal e riram do seu passado. Sua ousadia mexe com a rotina da cidade, até então, pacata.
Entre os destaques da novela, as atuações de Arlete Salles como Carmosina e José Mayer como o charmoso Osnar, marco na carreira dos atores. Junto com Paulo Betti (Timóteo), Reginaldo Faria (Ascânio) e Roberto Bomfim (Amintas), Zé Mayer forma o famoso quarteto Cavaleiros do Apocalipse. Artur da Tapitanga (Ary Fontoura) e suas “rolinhas” também dão o que falar durante a trama. E, assim como Perpétua, suas discípulas, as beatas fofoqueiras Amorzinho (Lília Cabral) e Cinira (Rosane Gofman), conquistaram público. Já Míriam Pires, falecida em 2004, vive a espirituosa Dona Milu. Ana Lucia Torre, Bemvindo Sequeira, Bete Mendes, Carlos Zara, Cassio Gabus Mendes, Cláudio Corrêa e Castro, Danton Mello, Elias Gleizer, Flávio Galvão, Jorge Dória, José Lewgoy, Lídia Brondi, Luciana Braga, Luiza Tomé, Otávio Augusto e Tássia Camargo completam o elenco.
O folhetim tem direção de Reynaldo Boury e Luiz Fernando Carvalho, direção geral de Paulo Ubiratan e supervisão assinada por Daniel Filho.
A força feminina de Tieta
Exuberância, impetuosidade e persistência formam a personalidade única de Tieta (Claudia Ohana/Betty Faria), personagem que cativou o público além da teledramaturgia e virou símbolo do feminismo. Apaixonada pela vida, ela não mede esforços para ser feliz e corre atrás dos seus sonhos, sem se importar com a opinião alheia. Principalmente com a da irmã e maior rival, Perpétua (Joana Fomm).
Desde cedo desejada por todos, Tieta – na primeira fase vivida por Claudia Ohana – era conhecida em Santana do Agreste como “cabritinha”. A história tem início quando ela é expulsa da cidade por seu pai, o conservador Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos), inconformado com seu temperamento liberal e influenciado pelas armações de sua outra filha, Perpétua (Adriana Canabrava dá vida à vilã na adolescência). Tieta retorna 25 anos depois – já interpretada por Betty Faria -, logo no dia em que está sendo rezada uma missa em sua memória. A cena antológica mescla emoção e risadas: Tieta interrompe a celebração e anuncia que veio para ficar, frustrando a irmã Perpétua (Joana Fomm).
Entre os destaques da trama, o figurino (assinado por Helena Gastal e Lessa de Lacerda) extravagante da personagem, adepta do exagero, quase beirando o brega: roupas justas com cores fortes, estampas e brilhos; saltos altíssimos; joias espalhadas pelo corpo; e unhas grandes. A repercussão da novela fez com que o estilo de Tieta se tornasse tendência e Betty Faria chegou a lançar a linha de roupas Tieta by Betty Faria.
Santana do Agreste também reúne outras moradoras marcantes: Carol (Luiza Tomé), a “teúda e manteúda” amante do coronel Modesto Pires (Armando Bógus); Tonha (Yoná Magalhães), madrasta de Tieta, oprimida pela postura autoritária do marido, Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos); Imaculada (Luciana Braga), uma das “rolinhas” do prefeito Artur da Tapitanga (Ary Fontoura), que promete alfabetizar e dar abrigo às meninas, em troca de favores sexuais; a sensível Carmosina (Arlete Salles); a ingênua Leonora (Lídia Brondi); e Elisa (Tássia Camargo), irmã mais nova de Tieta, que, em crise com o marido, Timóteo (Paulo Betti), sonha com seu ídolo, o ator Tarcísio Meira.
Perpétua: o lado cômico da vilania
Viúva convicta. Beata conservadora. Rancorosa e rabugenta de natureza. Todas as características reunidas popularizaram a vilã, fazendo-a conquistar lugar cativo na lista das principais antagonistas da televisão. Perpétua (Joana Fomm) parece ter uma missão na vida: atazanar a vida alheia, a começar pela de sua irmã, Tieta (Betty Faria). Não é à toa que tem fama de “major” em Santana do Agreste. No passado, foi casada com um militar e tiveram dois filhos, Ricardo (Cassio Gabus Mendes) – a quem ela oferece à Igreja para ser padre – e Cupertino (Danton Mello). Guarda a sete chaves, no armário, uma misteriosa caixa branca cujo conteúdo só é desvendado no fim da trama e tem como seguidoras as carolas Amorzinho (Lília Cabral) e Cinira (Rosane Gofman).
Cheia de trejeitos e bordões, Perpétua ainda se destaca pelo figurino irreverente: roupa preta, sapato abotinado e um guarda-chuva sempre à mão. Durante entrevista ao programa “Damas da TV”, em 2014, Joana conta que deixou a timidez de lado, investiu no humor e somou características circenses à personagem: “Perguntei como eram as ‘perpétuas’ para o pessoal que tinha trabalhado no Norte e tive informações valiosíssimas. Elas eram insuportáveis! Foi muito importante saber como elas eram fisicamente e juntar com o texto sensacional. Eles queriam que eu levasse a sério, mas lia o roteiro às gargalhadas. Não podia fazer sério uma coisa tão engraçada. Montei a Perpétua, que tinha uma loucura, e identifiquei um lado meio circense. Deu tão certo, que a novela toda seguiu esse caminho e foi um sucesso”.”
Além da implicância com a irmã, a viúva persegue veemente Zuleika Cinderela (Maria Helena Dias), prostituta que comanda a Casa da Luz Vermelha.
Os Cavaleiros do Apocalipse
O quarteto formado por Osnar (José Mayer), Ascânio (Reginaldo Faria), Amintas (Roberto Bonfim) e Timóteo (Paulo Betti) é conhecido como os Cavaleiros do Apocalipse em Santana do Agreste. Todos os personagens marcaram a carreira dos atores.
Amigos de infância, eles se separam depois da mudança de Ascânio para a capital. Na mesma época em que Tieta (Betty Faria) volta para Santana do Agreste, o político idealista retorna à terra natal com o objetivo de mudar o destino do local com progresso e civilização. Ascânio é nomeado secretário da Prefeitura e, ao lado de Tieta, promove a modernização do sertão e traz a energia elétrica 24 horas à cidade. Mas Ascânio tem um forte opositor, o comandante Dário (Flávio Galvão), que defende a preservação da natureza.
Já Osnar é irônico, preguiçoso e o mais conquistador do grupo. Corre um boato pela cidade de que o rapaz é o mais bem-dotado do agreste e, por isso, o mais cobiçado pelas mulheres. Foi amante de Tieta no passado.
Timóteo é casado com Elisa (Tássia Camargo) e não se conforma em ter abandonado a solteirice. Amintas é o quarto integrante dos Cavaleiros do Apocalipse. É violeiro e faz rimas sempre debochadas. Com o reencontro, voltam a marcar presença no Bar do Crescente para torneios periódicos de bilhar.
Ícones do Agreste
A novela é composta por uma coleção de figuras peculiares: a virgem sonhadora Carmosina (Arlete Salles), que aguarda o homem ideal – funcionária dos correios, ela não resiste ao conteúdo das cartas e as lê quando pode; o polêmico Artur da Tapitanga (Ary Fontoura) e suas “rolinhas”; as religiosas Amorzinho (Lília Cabral) e Cinira (Rosane Gofman), omissas aos seus desejos sexuais em nome da moral e dos bons costumes ditados por Perpétua (Joana Fomm); o seminarista confuso Ricardo (Cassio Gabus Mendes); a afável Tonha (Yoná Magalhães); o poderoso Modesto Pires (Armando Bógus), que leva rotina dupla e mantém uma casa para a sua “teúda e manteúda” Carol (Luiza Tomé); a faladeira e senhora nada convencional Dona Milu (Míriam Pires), mãe de Carmosina; o mendigo bêbado e desbocado Bafo de Bode (Bemvindo Sequeira), que sabe da vida de todos; e Jairo (Elias Gleizer) e sua “Marinete”, único ônibus da cidade.
Carregada de realismo fantástico, a novela traz ainda como destaque a misteriosa “Mulher de Branco”, lenda de Santana do Agreste que só tem a identidade revelada ao longo dos capítulos. A assombração ataca os homens da região nas noites de lua cheia.
O vocabulário nordestino e os bordões da ficção ganharam as ruas em 1989, como: “Eta lelê”, “Upa la lá”, “Nos trinques”, “Tribufu”, “Te-chau!”, “U-uh!”, entre outros. Já a personagem Dona Milu fez sucesso com o icônico “Mistééério!”.
Nudez na abertura e “rolinhas” do Coronel
As polêmicas também agitam a rotina da sossegada Santana do Agreste. Com o retorno de Tieta (Betty Faria) à cidade, um alvoroço é criado quando ela se envolve com o sobrinho, o seminarista Ricardo (Cassio Gabus Mendes), filho de Perpétua (Joana Fomm). Vale tudo para Tieta afrontar sua irmã.
A novela ousa logo em sua abertura, ao apresentar uma mulher nua, representada por Isadora Ribeiro. Ao som de “Tieta”, na voz de Luiz Caldas, o vídeo – assinado por Hans Donner – mistura imagens paradisíacas de Mangue Seco (aldeia do norte da Bahia que virou locação da trama) com as curvas do corpo feminino.
O assunto pedofilia é abordado de forma consciente pelos autores, sem chocar o público. Cabe ao ator Ary Fontoura interpretar Artur da Tapitanga. O prefeito seduz suas “rolinhas” em troca de lar, comida e alfabetização. A única indomável é Maria Imaculada (Luciana Braga), que se recusa a obedecer às vontades do coronel e foge da fazenda. Artur da Tapitanga conta com a ajuda de Filomena (Cristina Galvão) para cuidar de suas meninas, vividas pelas atrizes: Concy Maduro, Luciene Campos, Maria de Médicis, Patricia Alencar, Rosane Salles e Suzana Seixas.
O Nordeste das dunas à trilha sonora
Com o sucesso de “Tieta”, as dunas de Mangue Seco, no litoral da Bahia, ganharam repercussão e o povoado virou ponto turístico. As paisagens que serviram como cenário são lembradas até hoje por quem visita o local. Inspirada na obra de Jorge Amado, a trama retrata o interior do Nordeste desde o clima solar até o sotaque carregado dos personagens.
A trilha sonora também envolve o público com hits praianos desde os versos da música “Tieta”, eternizada por Luiz Caldas, até a dançante “Meia Lua Inteira”, cantada por Caetano Veloso. Na voz de artistas de peso, a trilha versátil consagrou-se como uma das mais lembradas da TV brasileira: Chitãozinho & Xororó, Elba Ramalho, Emílio Santiago, Fafá de Belém, Fagner, Gal Costa, Guilherme Arantes, João Bosco, José Augusto, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Moraes Moreira, Nana Caymmi, Nando Cordel, Os 3 do Nordeste, Paulo Ricardo, Pepeu Gomes, Quinteto Violado, Roberta Miranda, Sérgio Mendes, Simone e Tim Maia.
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