“Um programa inteiro para que você pense duas vezes antes de chamar uma mulher de louca de novo”. É assim que, em determinado momento do episódio, Taís Araújo define o ‘Falas Femininas’ 2024, que vai ao ar nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, na TV Globo, logo após o ‘Big Brother Brasil’. E Paolla Oliveira complementa: “Mulher que está nos assistindo, saiba que você não é louca quando sente que não está sendo ouvida. Você não é louca quando se incomoda com uma cantada insistente, ou quando acha ruim um homem explicar alguma coisa óbvia. Você não é louca quando tem todos os motivos do mundo para desconfiar de alguém que trai a sua confiança. Você não é louca quando é obrigada a aumentar o seu tom de voz para se impor num ambiente masculino. E nem quando percebe que está exausta. Eu não sou louca porque decidi falar tudo isso aqui para vocês na TV”.
Com a proposta de levantar esse tipo de debate sem perder a leveza, o especial vai tratar de uma temática extremamente contemporânea: a exaustão da mulher – e assuntos relacionados como assédio, gaslighting e abandono. O formato escolhido é o experimento social, que consiste na captação da reação de brasileiros a simulações de situações comuns, e, não por isso, menos absurdas, vivenciadas no cotidiano de tantos de nós. Ao longo de 45 minutos, as apresentadoras conduzem o espectador numa ágil e provocativa jornada que desperta a reflexão da sociedade como um todo, apresentado por Paolla Oliveira e Taís Araújo.
“Durante o processo de criação do ‘Falas Femininas’, conversamos e ouvimos diversas mulheres, de pessoas ‘comuns’ a especialistas, e ficamos o tempo todo nos perguntando: ‘como abordar um assunto que seja transversal a todas?’. Sabendo, é claro, que os privilégios modulam e criam recortes diferentes para cada experiência. A resposta chegou em uma pesquisa estarrecedora, que revelou que a vasta maioria das brasileiras se sente sobrecarregada. E, se as mulheres estão exaustas, o que está acontecendo? A partir disso, começamos a desenvolver o tema, entendendo causas e efeitos colaterais dessa afirmação”, explica a diretora Antonia Prado.
Assim, a equipe teve o desafio de pensar em dinâmicas como ponto de partida para os assuntos que o especial se propôs a abordar ligados a essa temática central. “Foi um super desafio criar os experimentos sociais, que precisavam se encaixar em um programa que também fosse leve, tivesse humor. E tinha que ser algo rápido de gravar, sobre temas relevantes para todas as mulheres. Foi aí que a gente chegou na questão da sobrecarga – algo que atravessa todas, independente da classe social”, complementa a autora Isabela Aquino. “Na TV Globo, estamos falando para todo o país. Estamos falando de mulheres, mas precisamos falar com todos. A ideia foi fazer algo lúdico e, ao mesmo tempo, informativo e provocativo. A ideia do experimento social tem a ver com isso: temos a oportunidade de investir numa transformação tanto para quem está assistindo quanto para quem participa do experimento”, acrescenta a autora Veronica Debom.
O resultado é visto como muito positivo na avaliação do grupo de criadoras. “Famoso no mundo todo, seja na publicidade ou como parte de programas de TV, o experimento social tem a capacidade de refletir dilemas e convicções da sociedade. O ‘BBB’, talvez o maior case de experimento social televisivo, por exemplo, todos os anos, aborda diversos assuntos relevantes, fazendo o público debater, refletir e, eventualmente, repensar comportamentos. E é essa a nossa expectativa com o ‘Falas’: criar um programa que seja gostoso de assistir, mas que, ao mesmo tempo, traga reflexões para temas muito presentes na vida das mulheres. O uso do xingamento ‘Louca’ como título é proposital, uma forma de causar estranheza e chamar atenção para o termo, comumente utilizado para a descredibilização da mulher em muitas esferas”, complementa a diretora.
Experimentos sociais
No programa, a discussão parte de dois experimentos sociais. No primeiro, a produção anuncia uma vaga de gerência em um hotel e chama interessados para uma entrevista de emprego. Mas o hotel não existe, nem a vaga, e a entrevistadora é uma atriz. Só quem não sabe de nada disso são os candidatos, todos homens. Durante a entrevista, a recrutadora pede que eles digam qual seria a remuneração justa para algumas funções como arrumadeira, passadeira, cozinheira e recreadora. Em seguida, explica que não tem verba para pagar todos esses salários e que as funções serão exercidas pela mesma pessoa, que precisa se dedicar 24h por dia ao serviço, dormir no trabalho, não tem férias e… nem pagamento. E, ainda, poderia conciliar tudo isso com outro trabalho. Ao final, uma surpresa revela que se trata de uma dinâmica, instigando todos a pensarem sobre como essa realidade afeta as mulheres de suas vidas.
O segundo experimento é feito em uma empresa de pesquisa fictícia. Lá, os participantes – neste caso, homens e mulheres – presenciam uma situação de assédio e, em seguida, são chamados a testemunhar sobre o que viram. As percepções são as mais variadas. Na sequência, as apresentadoras chamam atenção para essas diferenças e convidam uma especialista, a advogada Fayda Belo, a contribuir com explicações.
“A gente teve uma surpresa positiva ao notar que, em geral, as pessoas que participaram do experimento estavam bem atentas à questão do assédio. Elas perceberam as nuances, estavam ligadas no que estava acontecendo ali. Mesmo sem saber que estavam em um experimento. Mas também notamos que ainda existem muitas dúvidas sobre o que é assédio, qual é esse limite, quando você ultrapassa. E o objetivo era exatamente esse: tentar fazer um retrato da sociedade com as pessoas que estavam ali, homens e mulheres, de diferentes idades, com diferentes profissões, de diferentes regiões”, conta Antonia Prado.
Povo fala
A população também foi ouvida pelo programa como forma de evidenciar as diferentes percepções em torno dos temas abordados. Para isso, a criadora de conteúdo digital Anaterra Oliveira foi convidada a reproduzir no ‘Falas Femininas’ o modelo de trabalho que realiza nas redes sociais. “Eu entrevisto homens e mulheres sobre um mesmo assunto, para mostrar que existem diferenças na forma como os dois gêneros enxergam o mundo. Um dos questionamentos é ‘o que você faz quando chega do trabalho?’, que já fiz na internet e foi reproduzida no especial. Debater relacionamentos abusivos, abandono feminino, entre outros assuntos ligados à pauta feminina, já é comum em algumas ‘bolhas’ na internet. Mas, nas redes sociais, tem conteúdos que, por mais que ‘viralizem’, não saem de um mesmo grupo. Quando a gente trabalha esses temas na TV aberta, consegue acessar mais pessoas, tem a possibilidade de fazer com que mais gente refita sobre”, destaca Anaterra.
Entre outras perguntas, Anaterra questiona as pessoas sobre o significado do termo gaslighting, explicado no programa. “Gaslighting é uma forma de manipulação. É quando, por exemplo, alguém faz você acreditar que você é louca. Quando você viu alguma coisa acontecer, mas a pessoa insiste tanto, que você acaba duvidando da sua própria sanidade”, define a influenciadora.
Abandono
Depois de deixar claro que tarefas relacionadas ao cuidado são, de forma geral, atribuídas às mulheres, o programa mostra, através de depoimentos de anônimas e famosas e de dados estatísticos que, quando essas mulheres precisam de cuidados, muitas vezes, são abandonadas.
Um dos depoimentos é o da cantora Preta Gil. “Nós já estávamos casados há nove anos e, quando fiquei doente, estranhei muito algumas atitudes dele. Como nós, mulheres, temos esse coração acolhedor, compreensivo, de tentar sempre entender os homens, eu colocava num lugar de ‘ele não está sabendo lidar com a minha doença, está muito difícil pra ele também’. (…) A gente idealiza muito esse amor romântico, deposita muita expectativa no outro, vai construindo essa relação de codependência, que é algo estrutural e algo que nos foi ensinado. E isso é muito cruel porque a gente ainda acaba sendo taxada de louca. A gente é chamada de carente, e só quer o mínimo, que é respeito”, defende Preta. Outras histórias de mulheres se entrelaçam à da cantora, em um trecho cheio de emoção que mostra essa triste realidade.
A dupla de apresentadoras
“Quando estávamos escrevendo o roteiro, não sabíamos ainda quem seriam as apresentadoras. E, em quase todas as reuniões, a gente ficava dando sugestões, tentando encontrar as melhores pessoas para isso. Só chegamos nos nomes da Taís e da Paolla mais no final do processo. Foi uma escolha muito acertada porque elas são ótimas, maravilhosas, super profissionais, conhecidas e eu acho que são mulheres que conseguem falar com o Brasil inteiro”, conta a roteirista Isabela Aquino.
“A gente demorou muito para chegar nas apresentadoras porque este programa tem uma mescla muito particular. Elas tinham que, ao mesmo tempo, conseguir falar muito sério e transmitir credibilidade e, por outro lado, ter um tom lúdico, com toques de humor. Precisávamos de uma dupla que tivesse bastante jogo de cintura e carisma. Chegar no nome da Paolla e da Taís, eu sinto que foi de uma perfeição ímpar. Agora não consigo mais pensar em outra dupla de mulheres mais competente, contundente, divertida, com doçura e beleza para fazer esse especial”, complementa Veronica Debom.
As apresentadoras celebram a experiência de estarem juntas em um projeto que levanta debates tão necessários. “Com os experimentos, a gente conseguiu perceber como as pessoas se comportam diante de coisas que ocorrem no cotidiano e que, apesar de não serem ‘normais’, são normalizadas. Isso foi uma experiência incrível. Porque a gente mostra, de maneira quase didática, o que as mulheres, infelizmente, passam no dia a dia. E ter a Paolla, – que é uma amiga querida, uma pessoa que eu admiro muito e que tenho acompanhado a jornada muito de perto – ao meu lado nesse projeto foi muito especial”, declara Taís Araújo.
“Historicamente a mulher é chamada de louca em todos os lugares. Assim como também faz parte da história das mulheres a exaustão, o assédio – os vários nomes que existem para esse assédio velado, como o gaslighting –, o abandono e tudo mais. Tudo isso precisa ser debatido, precisa ser levantado, para que a gente realmente consiga sair de nossas bolhas e falar para o grande público, para o público que a televisão aberta alcança. É importante para que as pessoas consigam talvez ter o primeiro acesso a alguns assuntos, ou se aprofundem em alguns questionamentos feitos nesse especial. Com certeza chegar em tantos lugares é essencial”, destaca Paolla Oliveira.
‘Falas Femininas’ 2024 tem direção de Antonia Prado, roteiro de Isabela Aquino e Veronica Debom, pesquisa de Jaqueline Neves e Zilda Raggio e produção de Ana Luisa Miranda. A direção de gênero é de Mariano Boni.
O evento de lançamento
Na tarde desta quarta-feira (6), o programa foi exibido em primeira mão em um evento de lançamento para a imprensa e influenciadores, no auditório do Mac, nos Estúdios Globo. Os convidados assistiram emocionados ao especial e em seguida, Anaterra Oliveira mediou uma conversa com as apresentadoras, a diretora e a roteirista Veronica Debom.
“Quero falar da honra de participar desse programa tão didático e educativo. Minha tia estava me ajudando com o texto, e ficou emocionada porque não conhecia certas coisas. Eu também fiquei emocionada aqui assistindo. Eu chorei vendo. A gente ainda se emociona com essas histórias e experimentos da vida real que nos colocam diante de tudo. Esse programa é muito direto, ele vai ‘furar a bolha’ e chegar a muitas mulheres e isso é muito importante”, declarou Paolla Oliveira.
“Quando eu recebi o convite, eu já sabia que a Paolla também ia fazer. E eu vi que era super importante fazer, não dava para recusar. Como eu classificaria esse programa? Um programa importante! Quando eu vi a equipe que trabalharia no projeto, pensei : ‘tenho que ir, é bom eu estar nesse programa, eu vou aprender muito nesse programa, eu quero estar lá’. Eu opto por fazer trabalhos que são relevantes para a minha carreira, para a minha vida”, complementou Taís Araújo.
Projeto Falas é ampliado com o ‘Falas PCD’ em 2024
‘Louca’ abre o Projeto ‘Falas’ – série de especiais que abordam as principais efemérides do ano na grade de programação da TV Globo, alinhada à jornada ESG da empresa. Estão previstos seis programas que vão ao ar nas datas sociais que celebram o Dia da Mulher, o Dia dos Povos Indígenas, o Dia do Orgulho LGBTQIA+, o Dia do Idoso, o Dia da Consciência Negra e o Dia de Luta da Pessoa com Deficiência, que será produzido pela primeira vez pela emissora, previsto para ir ao ar em setembro.
“Com o ‘Falas’ buscamos, a cada ano, ampliar o debate em torno de temas importantes para a sociedade, através de conteúdos que provocam a reflexão. Isso sem deixar de lado a leveza e o entretenimento que engaja, levando às salas de casa ou às rodas de conversa novos pontos de vista e promovendo o diálogo. O ‘Falas’ para marcar o Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência surge como um marco importante do projeto na TV aberta, ao contemplar uma parcela da população pouco representada no audiovisual. Com mais essa iniciativa, reforçamos o objetivo da Globo em ter diversidade e múltiplas representações em seus conteúdos e em sua programação”, destaca Leonora Bardini, diretora de programação e marketing da TV Globo.