Eugenia (Paula Possani) e Glória (Mariana Lima) são duas mulheres completamente diferentes e jamais se conheceram. Em comum, fragilidades e sonhos que sofrerão duros golpes do renomado médico Roger Sadala (Antonio Calloni). A primeira é uma arquiteta de classe média alta que convence o marido, que fez vasectomia, a tentar ter um filho via fertilização artificial. A segunda é uma mulher da alta sociedade paulistana, esposa do tal médico, que descobre que está sendo traída.
Mais uma das vítimas de Roger, a trajetória de Eugênia tem um requinte de crueldade maior. Ela se vê sangrando ao acordar da sedação no dia da coleta dos óvulos e desconfia de que há algo errado ali. Mas é quando ela retorna ao consultório, no dia da implantação, que passa a não ter dúvidas: aconteceu o pior. “Ser mãe para mim era uma questão de tempo. Tinha levado quase dois anos para convencer o meu marido e achava que a parte mais difícil eu já tinha conseguido. O que ele fez comigo enquanto eu dormia? O que realmente aconteceu enquanto eu estava sedada naquela sala? Quando eu voltei para implantar os embriões, acabaram as dúvidas. Aconteceu sem anestesia, sem nada. Naquele dia eu tive certeza de que eu não era a única”, conta Eugênia, na trama.
A atriz Paula Possani pondera que denunciar era ainda mais difícil quando o abuso acontecia enquanto elas estavam sedadas. “A mulher percebe o que aconteceu, mas não tem provas materiais, nem mesmo a lembrança exata de como foi. Então tem que lidar com a angústia do sentimento de impotência. O abuso cometido contra uma pessoa inconsciente se chama abuso de vulnerável e, infelizmente, acontece mais do que a gente imagina. Isso gera na vítima um sentimento de impotência máxima, pois foi roubado dela qualquer possibilidade de resistência, inclusive o direito de saber exatamente o que aconteceu. No caso do médico, tem também a traição da confiança depositada nele. Pensar sobre essas coisas gera na gente um sentimento de muita revolta, indignação e também de impotência e medo. O lado bom é que sabemos da importância de ser porta-voz dessa realidade que muitas pessoas preferem ignorar, justamente por gerar na gente sentimentos tão difíceis de lidar”, conta Paula.
Na trama, o ator Felipe Camargo vive Ronaldo, marido de Eugênia. “Eles são de classe média alta, têm um nível de educação e informação. Mas em medicina eram completamente ignorantes e frágeis. Foram iludidos. Acho bacana falar também de casais com nível de educação e financeiro legal, que foram enganados e invadidos. Nem passa pela cabeça deles que vão sofrer o que sofrem”, adianta o ator.
Glória vê fotos da traição do marido
Glória acompanha a rotina do marido na clínica e também cuida de deixar as coisas em ordem na mansão da família. Com as desconfianças sobre Roger, resolve contratar uma detetive particular e confirma: ele tem uma amante. Ao receber as fotos que flagram a traição, ela não consegue ter nenhuma reação, apenas guarda as provas daquele caso extraconjugal. A atriz Mariana Lima lembra do desafio de entender as nuances e os sentimentos de sua personagem. “A relação dele com a mulher e os filhos também é abusiva. Ele abusa, assedia, controla e submete todos ao seu redor. A Glória é uma mulher tradicional, conversadora, e constrói essa família ao lado dele. Mas a partir do momento em que descobre e que convive com esse tipo de personalidade autoritária, de um marido que ela tem certeza de que a trai, ela vai descobrindo cada vez mais atrocidades que ele faz. Por que é que ela fica ao lado dele? O desafio foi entender o tamanho e a intensidade desse amor, dessa paixão dos dois, desse relacionamento completamente doente”, diz Mariana.
Na casa de Stela (Adriana Esteves) o trauma espalha seus efeitos. Sua dor em silêncio acaba levando seu casamento ao fim e Homero (Leonardo Netto) sai de casa. Mas ela não é a única a não ter coragem de se expor. Na redação, a jornalista Mira (Elisa Volpatto) edita uma matéria sobre o “Doutor Vida” quando recebe um telefonema anônimo. “Esse médico é um monstro”, é tudo o que a mulher consegue dizer.
As cenas fazem parte do segundo episódio de ‘Assédio’, que vai ao ar nesta sexta-feira, dia 10, após o ‘Globo Repórter’. Primeira série original da Globo desenvolvida com exclusividade para o Globoplay, ‘Assédio’ é escrita por Maria Camargo, com Bianca Ramoneda, Fernando Rebello e Pedro de Barros. A direção artística é de Amora Mautner, direção-geral de Joana Jabace e direção de Guto Botelho. A série é livremente inspirada no livro “A Clínica: A Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih”, de Vicente Vilardaga.