Ravel Andrade vai interpretar Raul Seixas na série “Raul Seixas: Metamorfose Ambulante”, dirigida por Paulo Morelli e Pedro Morelli, que vai ao ar na plataforma de vídeo por streaming Globoplay.
Além de dirigir, Paulo criou a obra, que tem produção da O2 Filmes. Chandelly Braz será Kika Seixas, uma das ex-mulheres do cantor. Julia Stockler fará Tania Menna Barreto, terceira companheira dele. Carol Abras viverá a americana Gloria Vaquer, com quem Seixas também se envolveu. Lena Coutinho, a última mulher, ficará a cargo de Camilla Molica. E Amanda Grimaldi interpretará a primeira delas, Edith Wisner.
João Pedro Zappa, por sua vez, será Paulo Coelho, amigo e parceiro de Seixas em várias canções de sucesso. Cyria Coentro também está no elenco.
Para viver o protagonista, Ravel Andrade perdeu três quilos e cultivou um bigode. Já a barba é postiça. Como ele interpretará o músico em todas as fases da sua vida, haverá um processo de caracterização para deixá-lo mais velho.
O farto material de arquivo reunido por Vivi Seixas, uma das três filhas do cantor, tem servido à pesquisa da equipe e do elenco. Músicos da banda dele também contribuíram com seus relatos. A estreia está prevista para 2025.
Ravel Andrade fala sobre transformação para viver Raul Seixas em série: ‘o projeto mais especial da minha vida’
—Quando terminei pela primeira vez a caracterização, um processo de uma hora e 20, já com barba postiça, fiz essa mexida de cabeça de frente pro espelho. Tomei um susto, fiquei nervoso, mas pensei: “Calma, estamos encontrando um caminho todo nosso” — diz.
Exatamente como seu ídolo Elvis Presley, Raul Seixas segue muito vivo por aí em sósias que se multiplicaram desde sua morte, em 1989, aos 44 anos, por cirrose hepática. Muita gente se dedica feliz, óculos de aro, barba maluco beleza, a burilar a cópia. E em uma fuçada digital no rico baú do artista encontram-se rapidamente imagens deliciosas do sujeito inocente, puro e besta brincando de imitar imitadores nas ruas de Vitória.
— Raul é personagem tão singular que, em determinado momento, virou caricatura dele mesmo, ilustrado em outro episódio emblemático, presente na série, quando teve de provar que não era um imitador. Ele já estava tão estragado que o público foi cético: “Essa não é a voz do Raul”. Decidimos jogar com isso — diz o protagonista.
O jogo em “Raul Seixas: metamorfose ambulante” é entre o médico e o monstro. Arquétipos do argumento pensado pelos diretores para o que seria originalmente um longa, transmutado na primeira minissérie de ficção dedicada ao artista, com oito episódios, dez cenas de show e 61 músicas do moleque maravilhoso na trilha.
— Raul Seixas era muito mais radical e extrovertido do que Raulzito. Ele criava, bebia, fumava e cheirava muito, como se o artista, para ser verdadeiro, precisasse dos excessos. E assim teve sucesso por muito tempo. Decididamente, ele seria infeliz sendo apenas o médico — diz Paulo Morelli.
Fãs desavexados, pai e filho sabem de cor que “Raul Seixas e Raulzito sempre foram o mesmo homem”, como ensina a letra de “As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor”. Ao dissecarem a construção do personagem, Paulo e Pedro buscam revelar processos de criação (“Dez mil anos atrás” surge em dez minutos, à luz de velas, em meio a uma tempestade) e destruição (em outra cena, Raul cheira éter até desabar no chão) que ultrapassam a fronteira do artista e entram na intimidade do pai de Simone, Scarlet e Vivian.
As herdeiras foram peças-chave na cessão dos direitos, processo de quatro anos, seguido de um ano e meio de pesquisas e 20 entrevistas com personagens cruciais para se decifrar Raul, entre eles o parceiro Claudio Roberto (de “Maluco beleza”), que morreu no ano passado, e Sylvio Passos, guardião da memória do amigo, presidente do Raul Rock Clube, do qual o primeiro associado foi o próprio Raul.
Seu “inimigo íntimo” Paulo Coelho leu o roteiro, liberou as músicas, deu a bênção e só ficou preocupado se “não mostraríamos drogas demais”, diz Paulo Morelli, que segue:
— Fugi do moralismo sem aliviar a barra-pesada. Será que estaríamos fazendo a série se Raul não tivesse sido tão radical? Uma de suas cinco ex-mulheres nos contou que ele chegou a beber 23 horas por dia. Está lá, mas não julgamos. E reproduzimos frase recorrente dele, a de que jamais se arrependeu da vida que teve. Ele viveu do jeito que quis.