Em ‘Terra e Paixão’, Antônio (Tony Ramos) ordenou que Ramiro (Amaury Lorenzo) sequestrasse João (Matheus Assis) para conseguir convencer Aline (Barbara Reis) a negociar as águas de suas terras. Ciente da determinação da professora, o produtor rural acredita que, com o sumiço de seu filho, será mais fácil fazer o acordo. Mas Caio (Cauã Reymond) está empenhado em ajudar sua amada e acredita no envolvimento do pai no desaparecimento da criança. Com isso, vai atrás do paradeiro do menino e fica no rastro de Ramiro. No entanto, o capataz foge da primeira conversa com Caio para não dar pistas da autoria do crime, e Antônio ordena que ele suma por um tempo. Ramiro evita um novo encontro com Caio ao se abrigar no Bar de Cândida, com o apoio de Kelvin (Diego Martins) e Berenice (Thati Lopes).
Incansável, o filho de Antônio consegue chegar ao paradeiro de João com a ajuda de Angelina (Inez Viana), em cena prevista para ir ao ar a partir de amanhã, dia 15. A partir de atitudes suspeitas de Ramiro, ele o persegue e encontra o lugar onde o menino é mantido como refém. Confira abaixo a entrevista de Amaury Lorenzo:
Entrevista
Como você define a sua personagem?
O Ramiro é um homem simples, fiel e, mesmo que não pareça, de um coração gigante. Ele é o braço direito do personagem do Tony Ramos, Antônio La Selva, e uma espécie de capataz. Ele faz tudo que o Antônio pede, é fiel ao patrão, mas não é um assassino. Eu preciso defender o Ramiro dizendo que ele só mata ou faz as coisas ruins que o patrão pede porque ele é fiel ao seu patrão, cumpre ordens, é um trabalhador. E é um personagem, um homem simples brasileiro como muitos do interior, que aos poucos vai tirando suas camadas, e aí a gente vai vendo que, na verdade, ele tem um coração gigante, apesar de, aparentemente, ser um brutamonte.
Em quem se inspirou para fazê-la?
Enquanto ator, eu gosto de trazer as minhas experiências, as pessoas com quem eu me relaciono, minha memória. Eu gosto de trazer o que tenho dentro de mim para o personagem. É óbvio a gente faz preparação vocal, corporal, e assiste a algumas referências. Quando eu li o Ramiro, eu pensei: “O que que tem do Ramiro dentro de mim?”, porque isso o torna mais verdadeiro. Então, o Ramiro tem muito de mim na franqueza, na honestidade; é um homem ingênuo, vai tirando as camadas de acordo com o avançar da novela. Ele tem uma certa ingenuidade que eu também tenho, então vou olhando para dentro de mim, buscando uma inspiração nas ferramentas da história da minha vida para eu viver o Ramiro. Nasci no interior de Minas, em uma cidade chamada Congonhas, e isso dialoga um pouco com o Mato Grosso do Sul, que é de onde o Ramiro é, no sentido de ser aquele homem do interior, um pouco embrutecido, mas muito trabalhador, que acorda de madrugada para trabalhar. Também tem essas inspirações na minha memória desses homens trabalhadores lá na minha infância em Minas Gerais.
O que ela traz de novo e de mais desafiador para você?
O maior desafio para mim, quando li o Ramiro e comecei a estudar vendo o que ele fazia no início, assassinando Samuel (Ítalo Martins) e Isabel (Yasmin Gomlevsky), foi eu dizer enquanto ator: “Eu não vou construir um vilão, ele não é um homem mau, ele cumpre ordens, e eu vou começar a propor nas leituras para os diretores, para o autor”. Walcyr assistiu à primeira leitura. “Eu vou começar a propor esse homem como um ser humano, um sobrevivente”. Ele precisa daquele trabalho, tem uma fidelidade ao patrão, então o maior desafio foi dar um coração para esse homem, porque é fácil a gente olhar para ele e ver que é um assassino, vilão, bruto, ignorante. O personagem do Tony o chama sempre “Seu burro, seu jumento”, então o maior desafio foi eu começar a estudar e pensar sobre ele. Eu quis trazer um pouco de humor para ele, porque senão ia ficar só numa linha do vilão, malvado, mas, não, ele tem um coração, tem humor.
Quais são as principais questões que ele vai enfrentar na trama?
Essa é uma pergunta maravilhosa porque o personagem é um ser humano, tem muitas questões, mas eu vou dizer algumas. O Ramiro, por ser fiel ao seu patrão, acaba tendo um carinho absurdo por ele, é como se fosse um pai. A gente não sabe de onde o Ramiro vem, qual é a família dele, então a primeira questão é essa relação de quase pai e filho que ele tem com o patrão. Mas Antônio tem uma certa brutalidade com ele. Ao mesmo tempo que é um pouco dolorosa, é uma relação de pai e filho muito bonita. Outra questão que também se discute é esse lado violento do Ramiro: para cumprir ordens do patrão ele é capaz de tudo. Outra questão importantíssima é que, no decorrer da novela, as camadas desse homem vão saindo e a gente vai discutindo essa questão chamada masculinidade quando ele começa a se envolver ali com o Kelvin. Ele olha para aquela pessoa que trabalha no bar e tem um amigo, uma relação de amizade. É bonito o que o Ramiro disse para ele: “Eu nunca tive um amigo. Você é como se fosse um amigo, dá para contar com você”.
E como estão sendo as gravações, o convívio com o elenco, o que você destaca de mais interessante no trabalho?
Ter ido para o Mato Grosso do Sul foi maravilhoso para mim, para a construção do Ramiro, para dar o tom da história. Ter ido passar um mês lá, sentindo aquela terra, vendo o soja, empoeirado com aquela terra vermelha, aquele calor, ouvindo as pessoas, entendendo ritmo, velocidade, a temperatura do Mato Grosso do Sul foi primordial para a construção do trabalho; o convívio com o elenco. Fazer amizade com tanta gente talentosa e que eu admiro é fundamental. Trocar com a Barbara Reis, o Cauã, Paulinho Lessa, que viraram amigos muito próximos, Flávio Bauraqui, Tony Ramos nem se fala… o tempo todo fazendo cenas com o Tony. Eu vi o Tony desde que eu nasci na televisão, chamava de “Seu Tony” até que ele falou: “Seu Tony não, nós somos colegas. É só Tony”. E ele já colaborando, me ajudando, porque sou um aprendiz, né? Perto do Tony Ramos, nossa, eu sou um aprendiz. Então o convívio com o elenco foi maravilhoso, de troca, de ajuda, longe de casa se fez também um afago, foi uma troca maravilhosa, muito importante. Destaco também o começo de trabalho, o acolhimento da equipe por trás das câmeras, todo mundo junto para fazer um bom trabalho.
Como você acha que o público está recebendo seu personagem?
Como um bom mineiro, sou otimista, mas sou muito pé no chão. Sou um ator que tem 30 anos de carreira, de palco, então, e eu gosto muito de pensar no trabalho, de fazer o melhor trabalho possível, estudar o set, ouvir a equipe, os meus colegas e as minhas colegas, entregar um bom trabalho sem criar muita expectativa, sabendo e confiando que pode e vai ser um sucesso – gosto muito dessa palavra. Vamos trabalhar que o sucesso chega. Tenho uma expectativa de que o público olhe para o Ramiro e veja um homem simples, como todos nós, com muitas questões, mas que no fundo tem um coração muito bom. Ele cresceu sem estrutura familiar, tendo que fazer coisas ruins para sobreviver e não teve, ainda, a oportunidade de se redimir e enxergar um mundo mais bonito, por isso ele vive daquela maneira. À medida que a história vai acontecendo, a gente vai vendo o Ramiro tirando suas camadas e vai se identificar muito com ele.
Comente sobre a relação de Ramiro com Antônio.
O Ramiro é extremamente fiel a esse patrão, faz tudo por ele. É interessante que essa semana, gravando com o Tony algumas cenas, os olhares entre os dois são olhares de muita cumplicidade, o Ramiro sabe tudo que acontece naquela fazenda, entende da terra. Tem um coração que pulsa entre os dois e acho que isso só é possível também porque o Tony Ramos é uma pessoa maravilhosa, tem me ajudado muito. Existe uma relação também engraçada entre os dois, que são uma espécie Tom & Jerry, é bem divertido.
Quais foram seus últimos trabalhos?
Na Globo meu último trabalho foi em ‘Além da ilusão’. Eu fazia o personagem Aristides, segurança do Cassino, trabalhava ali ao lado da Alexandra Richter, Paulo Betti, Marcello Escorel, e era uma novela engraçada, divertida na qual entrei para fazer uma participação. Fábio Zambroni, nosso produtor de elenco, falou que seria uma participação curtinha, mas durou a novela inteira. Também estive em cartaz no Leblon com o espetáculo “A Luta”, um monólogo sobre a Guerra de Canudos. Estreei ano passado e fui indicado a melhor ator no prêmio Cesgranrio de Teatro, um dos maiores prêmios de teatros que a gente tem no Brasil. Estou muito feliz com essa indicação ao prêmio, isso é maravilhoso para mim. E um trabalho especial no ano passado foi fazer o Cristo na Semana Santa, na minha cidade, em uma encenação de duas horas para mais de 20 mil pessoas. Foi lindo.
Como foi o convite para atuar na novela?
Bom, foi em uma sexta-feira, dia 28 de outubro, por volta de meio dia. Estava dando aula (sou professor de artes cênicas) e tive intervalo de almoço. Moro em Niterói e desci para um restaurante de frente para o mar na Praia de Camboinha, quando recebi uma ligação do Fábio Zambroni. Eu olhando para o mar, lembro que foi muito bonito, fiquei muito emocionado, e ele me disse: “Amaury, eu queria te convidar para um trabalho”. E aí eu disse: “Pô, que maravilha”. Estava achando que era uma participação, mas ele começou a falar do personagem, do que seria o projeto e eu chorei. Sou muito grato a ele, um ser humano maravilhoso.
Como está sendo trabalhar o texto do Walcyr Carrasco e como tem sido a direção do Luiz Henrique Rios?
O Ramiro para mim é um presente, tenho feito da maneira melhor possível para que seja um sucesso e corresponda à expectativa de todo o investimento que é feito nessa novela. E estou completamente apaixonado pelo Ramiro, agradecido a Deus, a todos que tiveram até aqui comigo, nessa luta que é a nossa arte da atuação. E esse presentão só acontece porque tem um camarada que é um gênio chamado Walcyr Carrasco. Dizer um texto dele é um sonho para qualquer ator, é um privilégio, é uma alegria sem fim. Fico estudando com minuciosidade, é impressionante como ele consegue emaranhar as histórias dos personagens, dos núcleos. Ele é um autor que escreve deixando a gente criar o personagem com liberdade, ele sugere; você tem que ser inteligente para perceber algumas lacunas que você pode ir preenchendo. O Ramiro, por exemplo, é um assassino, um vilão, e como já disse, poderia ficar uma coisa chapada, mas aí ele diz umas coisinhas engraçadas, que é o autor dizendo para você assim: “Olha, você pode investir por aqui nesse caminho do cômico também e aí não vai ser só um assassino”. Então, trabalhar com o Walcyr é trabalhar com um gênio que vai permitindo que você crie da melhor maneira possível aquele personagem. E o Luiz Henrique Rios é um diretor de muita sensibilidade, atento, responsável com o que está fazendo. Ele traz segurança para o elenco, para a equipe. Ele pede sempre o nosso melhor, mas sempre pensando no melhor da novela, e eu sou muito grato a ele também por essa oportunidade.
‘Terra e Paixão’ é uma novela criada e escrita por Walcyr Carrasco. A obra é escrita com Márcio Haiduck, Vinícius Vianna, Nelson Nadotti e Cleissa Regina. A direção artística é de Luiz Henrique Rios com direção geral de João Paulo Jabur e direção de Tande Bressane, Jeferson De, Joana Clark, Felipe Herzog e Juliana Vicente. A direção de gênero é de José Luiz Villamarim e a produção é de Raphael Cavaco e Mauricio Quaresma.