Seja no supermercado, seja na Joia do Encantado, o grupo de atores escalados para ‘Encantado’s’ dá show na interpretação. A série, que é uma comédia de costumes leva para as noites de terça-feira um humor leve e de identificação dos personagens da telinha com as famílias brasileiras. Além dos protagonistas, os irmãos Olímpia (Vilma Melo) e Eraldo (Luis Miranda) e do elenco mais jovem, a obra também conta com um grupo de atores mais experientes, cujos personagens que dão um tempero especial à trama, como a tia, a avó, o seu fulano e até o ‘vilão’ da história.
Interpretada por Dhu Moraes, Dona Ponza é matriarca da família. Com sua motinha elétrica, vive circulando pelos corredores do Encantado’s para saber o que se passa. Dhu revela que uma das experiências mais prazerosas ao longo das filmagens foi a de pilotar o veículo: “Foi emocionante para mim. A personagem, muito embora não precise dela para locomover-se, a utiliza apenas por comodidade e para curtir”, diz. Viúva e empoderada, Ponza seguiu a vida após a morte do marido Geraldo.
A mãe de Eraldo e Olímpia também tem visual de destaque na série. Os fios grisalhos em black power dão uma pequena amostra da força da viúva Marlene Ponza. “Decidimos aproveitar o belo cabelo da atriz que está todo branco para montarmos um visual para a personagem. E assim foi feito, com várias tiras de cabelos grisalhos cinza para acentuarmos o desenho do cabelo. Ela está sempre bem maquiada, com cílios postiços e de unhas vermelhas”, explica a responsável pela caracterização da série, Nubia Maisa.
“A Ponza, na minha cabeça, tem uma energia muito Elza Soares, essa mulher que assume as rédeas, forte, bonita e vaidosa, então desenvolvemos um figurino que utiliza um pouco de estampa de animal, um pouco de renda, floral – tem tudo”, completa a figurinista Sabrina Moreira. Sempre em cima de sua motinha elétrica, Ponza apresenta uma personalidade ousada, traduzida nos decotes e em muitos acessórios. Fã de um bom samba e de uma cerveja gelada, ela não esconde sua preferência pelo caçula, em quem sempre passa a mão na cabeça. A neta Melissa (Ramille) é outra protegida da matriarca.
Quem também mima um parente é Tia Ambrosia (Neusa Borges). Componente mais velha da comunidade e a mais antiga funcionária do Encantado’s, a avó orgulhosa e zelosa de FlashBlack (Digão Ribeiro) esquece que ele já é adulto e o trata como um bebê. Reverenciada na Joia do Encantado, integra a ala das baianas e é a fornecedora das maiores e mais interessantes fofocas do bairro; está sempre disposta a compartilhar tudo o que sabe. É também a mãe de santo e rezadeira da região, tida como sábia, uma voz a ser ouvida. Quase uma entidade no bairro, Tia Ambrosia é respeitada no supermercado onde trabalha como fiscal de caixa. A personagem usa dreadlocks e se destaca com o seu carisma, vivacidade e bom humor com que acolhe as pessoas, incluindo os clientes, como seu Micélio (Romeu Evaristo), que está sempre batendo ponto no Encantado’s e nos ensaios da escola.
Mas como nem tudo é confete e serpentina, na vizinhança do Encantado’s, coube a ninguém mais, ninguém menos que Tony Ramos a interpretação da figura de caráter duvidoso que promete atrapalhar os planos de Eraldo e Olímpia. Madurão é o bicheiro e maior empreendedor do bairro, dono de vários comércios na região, entre eles a fábrica de gelo GelOba. Obstinado a expandir seus empreendimentos pela região, um dos seus grandes desejos é comprar o terreno do Encantado’s para construir um cassino clandestino. Para conseguir o que deseja, Madurão vai tentar se infiltrar na família por meio de Dona Ponza.
Tony Ramos avalia que a vaidade e a ambição são características típicas de seu personagem na série. “Desde muito jovem, ele cresceu naquele bairro e, aos poucos, foi conquistando várias coisas, desde uma fábrica de gelo até pequenos expedientes, como transporte, frete, culminando na lotação de bicho. Ele está sempre querendo mais alguma coisa e aí, obviamente, o grande objeto de desejo dele é o Encantado’s. É aí que se desenrola toda a trama, e o que é mais interessante é que, apesar de haver um drama embutido, há um humor claramente explícito”, conta o ator.
A caracterização do personagem também chama atenção e, como Tony estará no ar também como o antagonista de ‘Terra e Paixão’, se torna um trunfo para o público, que poderá assistir o ator em personagens de características e visuais distintos. “Dentro de outros tantos trabalhos que fiz com o Tony Ramos, tivemos a curiosidade de montar um personagem diferente. Madurão é um dos pontos altos da série. Ele usa uma peruca (prótese capilar) com franja, unhas pintadas com base e uma única unha postiça de tamanho maior no dedo mindinho”, revela Nubia Maisa.
Com tantas referências, o elenco jovem da trama vibra com a oportunidade de dividir a cena e aprender com a velha guarda nota dez de ‘Encantado’s’. “Eu acho que a nossa série é composta de um elenco que precisava ser honrado, ser reconhecido em vida. Ter a Neusa Borges e a Dhu Moraes no nosso elenco é como mostrar do que a história é feita. Olha só o que a gente conseguiu ter e como lutamos lá no começo para estar onde a gente está hoje. As duas são o princípio da representatividade preta no audiovisual, no mundo da arte. Tony Ramos é ídolo máximo, um queridíssimo. Mais consagrado do que tudo, chega como novo porque vem podendo fazer uma interpretação diferente de tudo o que já o viram fazer”, celebra Digão Ribeiro, que vive FlashBlack.
‘Encantado’s’ é criada por Renata Andrade e Thais Pontes, e escrita em parceria com Chico Mattoso e Antonio Prata, responsáveis pela redação final. A primeira temporada da série tem direção artística de Henrique Sauer e direção de Deo Cardoso e Naína de Paula. A produção é de Juliana Castro e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.
Confira a seguir as entrevistas com o elenco:
Entrevista com Dhu Moraes
Como é estar de volta à TV?
É maravilhoso estar de volta à TV depois de 5 anos da novela ‘Novo mundo’. Entretanto, graças aos Deuses, mesmo durante a pandemia, não parei de trabalhar.
O que te chamou a atenção para estar neste trabalho?
As autoras estão de parabéns, não só pelo primor de texto, mas também por ter possibilitado a composição do elenco com participação majoritariamente de pessoas negras. E uma das grandes alegrias foi poder contracenar com um dos maiores ícones da TV brasileira e uma das pessoas mais generosas, bem-humoradas, simples, parceira e amiga que conheci na minha profissão, o Tony Ramos.
Quem é Dona Ponza, na sua visão?
É uma mulher de coragem e determinada. Após ficar viúva, resolveu viver a vida sem se importar com o que pensam dela.
O que poderia falar sobre a relação dela com os filhos, Eraldo e Olímpia?
Eraldo é o filho predileto, o xodó da mãe. A Olímpia é muita bonita e a Ponza, por ser muito vaidosa, mesmo tendo afeto por ela, tem inveja de sua beleza e jovialidade.
E o caso da personagem com Madurão (Tony Ramos)? Como enxerga esse relacionamento?
O relacionamento começou por interesse mútuo: ela, para ajudar ao seu filho querido, e ele, para ampliar o seu poder. Mas pode ser que no futuro o tiro saia pela culatra. Ou não? Como diria Caetano. Essa é a minha opinião, pois ainda estamos no início da série.
Como foi a interação com o elenco nas gravações?
Com certeza, um enorme prazer. São artistas e pessoas maravilhosas. Agradeço ao universo e ao Henrique Sauer (diretor artístico). Fico feliz e tive muita sorte de estar contracenando com o Tony Ramos, que interpreta o meu par. Eu amei!
O que o público pode esperar de ‘Encantado’s’?
Um trabalho primoroso, no qual é mostrado o cotidiano do subúrbio carioca em toda sua plenitude. A vida simples, alegre e emocionante dos suburbanos, como bem nos mostra o escritor Luis Antônio Simas no livro “Coisas nossas”.
Entrevista com Neusa Borges (Tia Ambrosia)
A senhora participou de alguma preparação para interpretar a Tia Ambrosia? Qual?
Eu saí de Salvador para fazer um trabalho e fiquei seis meses fazendo um atrás do outro. Então, eu estava filmando e não pude acompanhar a preparação com o grupo. Mas quando li a sinopse, achei a Ambrosia muito parecida comigo.
Então a senhora se identifica com ela?
Sim. Eu tenho um neto, estou com 80 anos e hoje me dedico a ele, meu mundo é colocá-lo nas alturas. Quero fazê-lo feliz e vê-lo bem. Tenho muita alegria em estar viva por isso. Comecei a trabalhar muito cedo, são mais de 65 anos de carreira, então Ambrosia é muito Neusa Borges, aquela que nunca parou de trabalhar, que se dá com todo mundo, que acolhe os amigos, é mãe, tia. Me aposentei e continuo trabalhando porque não consigo ficar parada.
E a relação com o samba, é algo familiar para a senhora?
Eu acho que eu já nasci dentro do samba. Fui cantora aos 19 anos, antes de ser atriz. Novinha, fui porta-bandeira e carnaval sempre foi o meu mundo. Se eu for falar em datas comemorativas que eu mais gosto, vão ser Réveillon – por poder dizer ‘obrigada, meu Deus, eu estou viva’ –, meu aniversário – por agradecer mais um ano – e o Carnaval, que não dou, não alugo, não empresto, nem gosto de estar trabalhando nessa época porque é uma alegria muito grande. Veja, caí do carro alegórico e tenho parafusos, placas, prótese, e continuo amando a festa. Já desfilei em quase todas as escolas de samba do Rio. Hoje moro em Salvador e vou em cima do trio. Mas, com 80 anos, eu vim na Beija-Flor em 2022, representando a negritude, em cima do carro. Sou Portela, mas tem a Vila Isabel que amo.
A Tia Ambrosia é a pessoa mais antiga do supermercado e da escola de samba. Por que acha que ela segue trabalhando lá? Como enxerga a relação dela com o FlashBlack?
O amor pela vida, pelo trabalho e pelo neto. Eu vejo que ela tem a mesma relação que eu tenho com meu neto. Sinto um amor maternal assim como com a minha filha.
Como foi a interação com a equipe e o elenco nas gravações?
Esse elenco me rejuvenesce, me dá uma alegria e mais vontade de ir para frente. Estou em fim de carreira e eles, no início. Ver a luta e a vibração deles, poder dar alguns conselhos (apesar de que se conselho fosse bom se vendia e não se dava, né?), poder ajudar e orientar me lembra o meu início. Fazer parte do sonho das pessoas é muito lindo. Sempre tive pessoas que me deram bons conselhos, me ajudaram e orientaram. E meu sonho sempre foi morar na Av. Atlântica e hoje eu moro lá (quando estou no Rio), então nunca é tarde para realizar os sonhos. Me sinto um pouco mãe e orientadora deles, que são muito brincalhões; é um mundo de alegria e união.
Na sua visão, o que o público pode esperar de ‘Encantado’s’?
Eu vivi num mundo de um racismo e preconceito tão grande, que ver, hoje em dia, um elenco negro na televisão brasileira, sem falar de violência, mas de coisas que vão encher o coração do brasileiro vai ser uma alegria.
Tony Ramos (Madurão)
Tony, você já fez muitos personagens ao longo de sua carreira, em diversos lugares da dramaturgia. Como é voltar ao humor?
O humor é parte importante da minha carreira. Estou sempre estou pronto a fazer humor ou textos que, de alguma forma, discutam situações de comportamento em que o drama está presente. A cada cena, a cada bloco, eu fui surpreendido por novos estímulos que as autoras me deram.
O que o Madurão tem de particular, na sua opinião?
O que o Madurão tem visivelmente é uma vaidade excessiva, muito esquisita. Não vou dar spoiler, mas vocês vão perceber que a vaidade dele é o que mais fica presente, além, é claro, de ambições comerciais e de poder.
Como você analisa o relacionamento dele com a Dona Ponza (Dhu Moraes)? Acha que existe sentimento entre os dois?
Por isso o relacionamento dele com a Dona Ponza, personagem da Dhu Moraes, é absolutamente esquisito. Há um momento em que todos vão pensar que ele se apaixona de fato, mas você vai perceber, depois, que é apenas uma manifestação de duas pessoas muito maduras. Mas ela vai percebendo que, de alguma forma, ele está querendo usar esse romance para alcançar objetivos contra os dois filhos dela. É um gato e rato muito interessante e com muito humor.
O seu personagem é o maior inimigo de Eraldo e Olímpia na série. Até que ponto vai a “vilania” do Madurão?
Visivelmente ele é o grande inimigo do Eraldo e da Olímpia; todo mundo vai perceber já no primeiro episódio, quando ele diz: “Eu quero mesmo é comprar o seu supermercado”. Desde muito jovem, ele cresceu naquele bairro e, aos poucos, foi conquistando várias coisas, desde uma fábrica de gelo, até pequenos expedientes, como transporte, frete, culminando na lotação de bicho. Ele está sempre querendo mais alguma coisa e aí, obviamente, o grande objeto de desejo dele é o Encantado’s, do Eraldo e da Olímpia. É aí que se desenrola toda a trama e o mais interessante é que, apesar de haver um drama embutido, há um humor claramente explícito. É evidente que o Madurão tem uma vilania, só que, como ele é muito amigo de todo mundo, aquele que está pronto a “ajudar”, as pessoas vão se esquecendo dessa vilania, desse jogo de interesse – e só interesse – que ele tem. O humor mascara um pouco a vilania tradicional de suspense, mas não deixa de ser vilania. O que mostra a série é que a vilania pode ter muita simpatia, muita tranquilidade por trás. Naquele humor e naquela “bondade” escondem-se grandes e perigosos planos.
O que mais te desafia nesse papel?
Tudo é desafiante para mim fazendo o Madurão: a sua postura, a sua estética. Vocês vão se surpreender com a estética porque ele é vaidoso; onde tem cabelo, ele puxa, estica, tinge. É uma vaidade absoluta. Cuida das unhas quase que diariamente. Isso é desafiador para mim porque eu não tenho nada disso. Mas aí é que está o interesse do exercício.
O que o público pode esperar de ‘Encantado’s’?
Humor, mas um humor com reflexão, o que eu mais gosto. Sempre que você faz rir, mas após rir, diz “Pera aí, eu já vi alguém assim ou uma situação assim”, sem dúvidas é porque o humor funciona. O humor é um pouco sobre a gente espiar nossos ridículos e, também, criticar situações que o ser humano tem que enfrentar no cotidiano. Eu acho que o público pode esperar um belo espetáculo, uma grande diversão e muita reflexão.