Quando conseguiu um papel para participar da primeira fase de ‘O Rei do Gado’, que irá ao ar no ‘Vale a Pena Ver de Novo’ a partir de 07 de novembro, Caco Ciocler entendeu que aquela era a grande oportunidade de deslanchar na carreira de ator. Ele conciliava o teatro com os estudos na faculdade de engenharia química, e tinha acabado de saber que seria pai. Por isso, agarrou sua estreia na TV com unhas e dentes. “Eu estava em uma encruzilhada de vida, sabe? Ia ter de sair da casa dos meus pais, constituir família, ainda na faculdade, sem perspectiva de conseguir me sustentar, sustentar uma família. Então esse convite para ‘O Rei do Gado’ foi uma revolução, foi o universo dizendo “vai lá, vai lá que eu te seguro”. Foi muito importante para mim essa novela, tinha que dar certo, eu tinha que arrasar porque era a chance de conseguir ter uma carreira, de conseguir viver disso. E eu fui premiado como ator revelação pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), tive já o primeiro trabalho super reconhecido, foi um trabalho muito marcante, uma entrada pela porta da frente.”, revela.
Na trama de Benedito Ruy Barbosa, Caco interpreta Geremias, o terceiro filho de Giuseppe Berdinazi (Tarcísio Meira) e Marieta (Eva Wilma). É irmão de Bruno (Marcello Antony), Giácomo (Manoel Boucinhas) e Giovanna (Letícia Spiller). Após a morte do irmão Bruno na guerra e, mais tarde, do pai, sua ambição o leva a tomar atitudes cruéis. Na segunda fase, o personagem é vivido por Raul Cortez. O ator relembra o intenso processo de preparação para a novela e a generosidade do veterano com quem dividiu o papel. “Fizemos um laboratório na fazenda onde gravamos, andando a cavalo, plantando, colhendo café, trabalhando a terra, usando o figurino, comendo nas marmitas que a gente comeria em cena. Estudamos o sotaque com uma professora italiana. O Raul foi visitar a gente nessa preparação e eu lembro que falei: “Raul, eu preciso fazer você” e ele, um gênio né, foi muito generoso, e falou: “Não, eu tenho que me adaptar ao que você está fazendo, porque você vem antes de mim”. Eu sentia uma obrigação muito grande de arrasar porque a minha vida dependia daquilo, daquele momento de muita transformação, e a sensação que eu tenho é de que eu usei os meus truques todos para dar certo.”, conta.
Confira, abaixo, a entrevista em que Caco Ciocler relembra mais sobre o trabalho, curiosidades e bastidores.
De volta a partir de 07 de novembro no ‘Vale a Pena Ver de Novo’, ‘O Rei do Gado’ tem autoria de Benedito Ruy Barbosa, com colaboração de Edmara Barbosa e Edilene Barbosa, e direção geral e de núcleo de Luiz Fernando Carvalho. Direção de Luiz Fernando Carvalho, Carlos Araújo, Emilio Di Biasi e José Luiz Villamarim.
ENTREVISTA COM CACO CIOCLER
Como foi a sensação ao saber que ‘O Rei do Gado’ será a próxima novela do ‘Vale a Pena Ver de Novo’? Como é sua relação com a obra até hoje?
Fiquei muito feliz. Eu tenho um carinho gigante pela novela, foi meu primeiro trabalho na TV. Eu fiquei com saudade dessa época. Foi uma surpresa muito boa!
O Geremias foi um dos papéis mais marcantes de sua carreira? Se sim, por quê?
Foi muito marcante porque foi o meu primeiro trabalho no audiovisual. Eu estava estudando teatro, fazendo peças. Foi o início de uma possibilidade concreta de ter uma carreira que eu pudesse viver disso, eu fazia engenharia química na USP, e uma semana antes de receber o convite para a novela, eu soube que iria ser pai, então eu estava em uma encruzilhada de vida, sabe? Ia ter de sair da casa dos meus pais, constituir família, ainda na faculdade, sem perspectiva de conseguir me sustentar, sustentar uma família. Então esse convite para ‘O Rei do Gado’ foi uma revolução, foi o universo dizendo “vai lá, vai lá que eu te seguro”. Foi muito importante para mim essa novela, tinha que dar certo, eu tinha que arrasar porque era a chance de conseguir ter uma carreira, de conseguir viver disso. E eu fui premiado como ator revelação pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), tive já o primeiro trabalho super reconhecido, foi um trabalho muito marcante, uma entrada pela porta da frente.
Como foi a construção para interpretar o Geremias, o sotaque e a vivência numa fazenda de café na década de 1940? Conversou com o Raul Cortez sobre o personagem, já que ele o viveria na segunda fase?
Fizemos um laboratório na fazenda onde gravamos, andando a cavalo, plantando, colhendo café, trabalhando a terra, usando o figurino, comendo nas marmitas que a gente comeria em cena. Estudamos o sotaque com uma professora italiana. O Raul foi visitar a gente nessa preparação e eu lembro que falei: “Raul, eu preciso fazer você” e ele, um gênio né, foi muito generoso, e falou: “Não, eu tenho que me adaptar ao que você está fazendo, porque você vem antes de mim”. Eu sentia uma obrigação muito grande de me sair muito bem porque a minha vida dependia daquilo, daquele momento de muita transformação, e a sensação que eu tenho é de que eu usei os meus truques todos para dar certo.
Alguma curiosidade em especial ficou marcada nas suas lembranças dos bastidores?
Ah, várias, várias curiosidades. A gente aprendeu a andar a cavalo, o básico você aprende fácil, mas eu lembro de uma cena em que a gente tinha de descer a cavalo com muita velocidade por uma rua de um cafezal. A gente tinha de andar em direção à câmera em uma descida enorme e tinha de virar com o cavalo em alta velocidade pertíssimo da câmera. Eu falei: “gente, eu não sei fazer isso”. O pânico que senti quando o cavalo disparou, eu lembro que o cavalo não fez a curva que precisava fazer, ele atropelou a câmera. Teve também uma outra cena dificílima que eu tinha de fazer, com um carro de boi, eram alguns bois gigantescos, eu precisava andar com eles e o sol estava se pondo. E o Luiz Fernando (Carvalho) falando: “Vai, faz ele andar!”. Eu gritava do jeito que tinham me ensinado e os bois não se mexiam, o sol se pondo, não conseguia fazer aqueles bois andarem. O Luiz Fernando pegou o galho da minha mão para tentar fazer os animais andarem e também não conseguiu. Essas coisas que deram errado são as que a gente mais lembra, né (risos).
Como foi a parceria com os atores do elenco com quem você mais conviveu durante a novela? Alguma foi mais especial?
Ah, o elenco era incrível. Eu era colega de turma de teatro do Manoel Boucinhas, que fez meu irmão Giácomo na trama, e a gente ficou amigo rapidamente do Marcello Antony e da Letícia Spiller, que faziam nossos irmãos. O Leonardo Brício eu conhecia também, a gente fazia dois espetáculos diferentes no mesmo teatro, se cruzava na coxia, tínhamos amigos em comum. E os atores mais velhos, claro, todos incríveis, a lembrança que eu tenho é de um receio, respeito com aqueles mestres, que eu via há tanto tempo na televisão. E a Vera Fischer saía com a gente quando não estávamos gravando, a gente se divertiu muito com a Vera, foi incrível. Ah, que saudade dessa época.
Qual a cena ou sequência mais te marcou em ‘O Rei do Gado’?
A cena que mais marcou foi uma com o irmão do meu personagem, o Giácomo, onde eu digo para ele que a gente tem de fugir. Me marcou porque foi a primeira cena em que no final eu senti que o Luiz Fernando (Carvalho) tinha ficado feliz, ele voltou me elogiando. Para mim foi muito importante esse feedback. Eu lembro dessa cena por isso, foi uma cena que eu tive uma confirmação na hora de que tinha rolado bem, que tinha sido legal.
A primeira fase da novela foi muito elogiada e rendeu até um prêmio internacional. O que participar de uma obra tão grandiosa como essa representou para a sua carreira?
Quando entrei na novela ouvia muito as pessoas falando: “Você vai fazer uma novela do Benedito Ruy Barbosa com direção do Luiz Fernando Carvalho, uma novela das 20h!”. Eu ouvia dizer que eu estava em uma obra muito especial, mas como eu não tinha referência, e como eu vinha do teatro, eu tive uma dificuldade de adaptação no início. Depois que fiz outros trabalhos no audiovisual, não que eles fossem menores, mas percebi que aqueles personagens com tanta profundidade, aquele cuidado com o figurino, aquela fotografia, aquelas pouquíssimas cenas que gravávamos por dia, eu entendi que eu tinha realmente estreado em um trabalho muito especial, muito especial para todo mundo, uma obra que marcou o Brasil, marcou a televisão, ganhou prêmios. Depois que caiu a ficha eu entendi onde eu estava, tive a consciência plena da grandeza onde eu estava.
Você gosta de rever trabalhos antigos? É muito autocrítico?
Ah, eu odeio me ver nos trabalhos antigos, nos trabalhos atuais, nos trabalhos futuros porque sou muito autocritico. Mas ‘O Rei do Gado’ vou ver, não dá para não ver, é muito especial, então mesmo que eu sofra, eu vou assistir (risos).