‘O Cravo e a Rosa’ é um dos trabalhos mais felizes em bem-sucedidos da carreira de Maria Padilha. A atriz relembra que se entregou de corpo e alma à personagem, que caiu no gosto do público com sua personalidade repleta de nuances e humor. Além de muita preparação para viver uma vilã nos anos 1920, a parceria com o diretor Walter Avancini foi fundamental para o sucesso do trabalho segundo Maria. “A Dinorá foi muito importante na minha carreira porque ela é um personagem muito bem escrito, tem uma função dentro da história da novela muito interessante. Ela é completa porque é meio vilã e meio frágil, dominada pela mãe. Ela faz absurdos pela mãe, é muito cheia de lados. Eu já tinha trabalhado com o Avancini no cinema, e usei a direção daquele filme para muitos trabalhos na minha vida. Até hoje eu uso. O Avancini se dedicou muito ao meu personagem e a mim, a gente teve uma química maravilhosa, eu confiava completamente nele e eu acho que ele confiava muito em mim também”, conta.
Até hoje, mesmo antes da reexibição atual, Maria recebe o retorno do público sobre a personagem. “O público ama essa novela em qualquer lugar que eu vá do Brasil. Na minha rede social tem vários comentários, ‘O Cravo e a Rosa’ tem um carisma com o público impressionante. É realmente uma novela que o público ama, e ama a Dinorá também. Ficou muito marcada essa personagem na memória do público. Embora eu tenha feito depois ‘Mulheres Apaixonadas’, que também foi muito marcante, e era uma novela das 21h, essa novela tem uma estrela que é só dela”, constata. Em entrevista, a atriz revela um pouco mais sobre o trabalho na obra e os bastidores.
‘O Cravo e a Rosa – Edição Especial’ tem autoria de Walcyr Carrasco, coautoria de Mário Teixeira e colaboração de Duca Rachid, direção-geral de Walter Avancini e Mário Márcio Bandarra e direção de Amora Mautner. A direção de núcleo é de Dennis Carvalho.
ENTREVISTA COM MARIA PADILHA
Como está sendo rever ‘O Cravo e a Rosa’, um de seus trabalhos mais importantes na TV?
Eu gosto demais dessa novela, não só de me ver, mas gosto de todos os atores, da história, a direção do Avancini é genial, assim como o texto do Walcyr. Eu acho que ‘O Cravo e a Rosa’ não envelheceu e isso é bom, talvez até por ela ser uma novela de época, eu acho que o humor da trama ainda é atual. A novela já tem 20 anos, mas eu acho que ela ainda continua moderna e atual, porque foi muito bem-feita.
Na sua opinião, quais fatores fazem a novela ser sucesso sem todas as exibições?
Eu acho que o sucesso está na história que é muito boa, nos diálogos que são muito engraçados, no elenco, na direção, a novela foi um acerto. Os fatores são esses: um texto muito bom, os diálogos inspirados, uma direção primorosa e um elenco extraordinário.
Qual a importância desse trabalho em sua carreira? Considera a Dinorá um de seus papéis mais marcantes?
Eu acho que a Dinorá foi muito importante na minha carreira porque ela é um personagem muito bem escrito, tem uma função dentro da história da novela muito interessante. Ela é muito completa porque é meio vilã e meio frágil, dominada pela mãe. Ela faz absurdos pela mãe, é muito cheia de lados. Eu já tinha trabalhado com o Avancini no cinema, e usei a direção daquele filme para muitos trabalhos na minha vida. Até hoje eu uso. O Avancini se dedicou muito ao meu personagem e a mim, a gente teve uma química maravilhosa, eu confiava completamente nele e eu acho que ele confiava muito em mim também. Então, foi um personagem muito incrível por isso tudo, eu acho que é um dos mais marcantes principalmente para o público porque até hoje qualquer foto que eu poste, eles comentam “Dinorá”, “Saudades”, “Minha manga rosa”, “Diaba”, como o Cornélio (Ney Latorraca) e o Celso (Murilo Rosa) a chamavam na novela. É uma novela bastante marcante e o personagem também.
Quais foram os principais desafios para viver a personagem?
Os desafios eram grandes, porque quando o Avancini me chamou, ele falou: “Você tem um tom de atriz, de fazer humor, que eu gostaria que fosse o tom da novela.”. Eu fiquei super lisonjeada, mas por outro lado foi muita responsabilidade, ele me pediu várias situações de interpretação, ele achava que a Dinorá era uma pessoa que seduzia todo mundo o tempo inteiro. Eu me lembro de fazer uma cena com a Leandra Leal e eu parei de seduzir, porque eu não ia ficar seduzindo uma menina de 17 anos naquela época. O Avancini parou a cena e disse: “Perdeu o personagem?”, e eu disse: “Mas eu não posso ficar seduzindo a personagem da Leandra.” e ele: “Mas a Dinorá é assim, ela nem sabe que é assim.”. Então eu fiz como ele pediu e quando vi no ar não ficou como eu achei que ficaria. A direção do Avancini foi incrível.
E o que recorda da preparação para interpretar uma mulher dos anos 1920?
Para viver uma mulher dos anos 1920 precisei estudar, a gente teve aulas de dança e costumes, eu via muitas fotos da época. O Avancini me deu uns quatro meses antes de começar a fazer novela uma incumbência muito incrível, ele falou: “Eu quero que você faça a Greta Garbo, mas nos filmes dela mudos, não nos filmes falados”. E existia um cara que tinha um DVD Clube com todos esses clássicos, então eu fiquei estudando os gestos da Greta Garbo. Isso foi um super apoio, porque a Greta fez aqueles filmes nos anos 1920, então ali eu vi que ela podia cruzar as pernas. A gente tinha dúvidas, mas ela cruzava nos anos 1920, então eu pude cruzar. Foi uma pesquisa grande.
O que você recorda da trajetória da personagem e suas atitudes controversas?
Eu lembro que às vezes eu ficava com dificuldade, lembro que eu ligava para o Avancini e eu nunca fiz isso com outro diretor, eu ligava e falava: “Esse bloco que veio agora, por que ela está assim?” e ele sempre me dava uma dica que encaixava. As atitudes controversas, a falta de caráter, eu me lembro que quando o Avancini me apresentou o personagem eu sugeri que ela, no fundo, gostasse do Cornélio, mas sem ela saber que gostava, porque foi educada para dar o golpe do baú. Eu achava que isso ficaria mais rico e ele adorou, na hora ligou para o Walcyr Carrasco e eles incorporaram na história.
Como foi a parceria com o elenco, especialmente o Ney Latorraca?
O elenco foi escalado tão bem e a gente se dava tão bem, que durante um ano depois que a novela acabou, toda primeira segunda-feira do mês a gente se encontrava num restaurante, não só o elenco, mas os autores, algumas pessoas da equipe, a gente formou uma amizade. O Ney eu já conhecia pessoalmente, fiz uma novela com ele nos anos 1980, mas a gente não contracenava na novela, e num filme a gente fez uma cena pequena e eu me apaixonei por ele. Eu estava começando a minha carreira, tinha 20 anos e eu me apaixonei pelo Ney, pelo humor dele, pela genialidade dele. O Ney é um ator extraordinário, eu o acho um dos maiores que esse país já teve. A gente teve um casamento artístico maravilhoso, não só artístico, mas pessoal. Ele é um dos meus melhores amigos até hoje, não vivo sem o Ney. Ele é uma eterna inspiração.
Teve alguma cena que ficou mais marcada na memória?
Muitas cenas ficaram marcadas na minha memória, mas eu vou falar de uma porque eu não me achava capaz de fazer essa cena do jeito que o Avancini queria e eu consegui. Era uma cena em que a Dinorá tinha de se desfazer daquele colar incrível porque estavam chantageando-a e era uma cena difícil tecnicamente, eu tinha de segurar o colar na minha frente e o foco ia para o colar e depois para mim, eu tinha de dividir as falas muito tecnicamente para que quando eu falasse o foco estivesse em mim. Era um texto muito engraçado porque ela se despedia daquele colar como se fosse o amor da vida dela e o Avancini me pediu para fazer com todo o sentimento do mundo, ou seja, derramar lágrimas, chorar, e eu sou uma pessoa que tendo a achar as coisas bem engraçadas, então foi um desafio. Mas rolou, graças a Deus, eu estava muito envolvida com a personagem e eu acho que foi uma das cenas mais difíceis de fazer porque ela era extremamente engraçada, muito técnica e ao mesmo tempo eu tinha que me emocionar muito. Eu me lembro que falei: “Eu não sabia que eu era capaz de fazer uma cena assim”.
Qual a principal lembrança que você guarda do período de gravação da trama e dos bastidores?
As lembranças são as melhores possíveis porque eu trabalhava muito, eu lembro que ficava exausta de trabalho porque era muito texto, a minha personagem transitava por quase todos os núcleos, ela percorria quase todos os cenários, eram muitos dias de gravação, mas a novela era gravada com muita rapidez. Então eu lembro que a gente tinha sempre três semanas de frente, no Natal e no Ano Novo a gente pôde ficar de férias, depois teve férias no Carnaval, porque a gente estava tipo um mês na frente. As lembranças que eu tenho dos bastidores são as melhores possíveis, só tinha ator maravilhoso. O elenco era muito unido, a gente tinha muita química.
Mesmo antes dessa reexibição, o público ainda falava da novela com você? Como são essas abordagens?
O público ama essa novela em qualquer lugar que eu vá do Brasil. Na minha rede social tem vários comentários, essa novela tem um carisma com o público impressionante. É realmente uma novela que o público ama, e ama a Dinorá também, ficou muito marcada essa personagem na memória do público. Embora eu tenha feito depois ‘Mulheres Apaixonadas’ que também foi muito marcante, e era uma novela das 21h. Mas essa novela tem uma estrela que é só dela.
Você é muito autocrítica ao rever um trabalho antigo?
Eu sou super autocrítica ao ver um trabalho, não só antigo, mas também quando estou fazendo. Em ‘O Cravo e a Rosa’, na época das gravações, eu assistia ao capítulo porque amava ver essa novela, não só gostava da novela, como gostava de ver as minhas cenas. Eu admirava as externas, a Amora Mautner estava começando a dirigir, fazia umas externas lindas na fazenda, na cidade cenográfica. Eu adorava todos os personagens, todas as tramas, achava tudo maravilhoso e, então, essa foi uma novela que eu tive muito prazer de ver na época e tenho prazer de rever.