Casados, Onofre (Guilherme Silva) e Felicidade (Carla Cristina Cardoso) são ex-funcionários do engenho de cana-de-açúcar da Família Camargo. Com a instalação da fábrica no lugar, o casal passou a trabalhar na tecelagem e a viver na vila operária recém-construída. Onofre é conhecido pelo seu jeito duro, severo e controlador. Com o nascimento da primeira filha, Letícia (Maria Luiza Galhano/Larissa Nunes), ele teve que deixar para trás o sonho de se tornar jogador de futebol. É na bebida que Onofre desconta as mágoas e revoltas do passado, que o transformaram em um homem, por vezes, hostil e que se acha o dono da razão. “Onofre é um homem sagaz, com um humor ácido, meio amargurado, nesse momento, pelas frustrações da vida, mas também um homem apaixonado pela sua família, embora um tanto bruto”, explica o ator Guilherme Silva.
Já Felicidade, que trabalha como faxineira na fábrica, é uma mulher gentil, compreensiva e resiliente. Apesar da vida sofrida, Felicidade é o esteio emocional de sua casa e vê na família a grande razão para ser feliz. Ela vai fazer o possível para ajudar o marido a vencer o vício na bebida e torná-lo um homem mais equilibrado. “Felicidade é uma mulher de 1944, mas é muito atual. Acredito que a família, pra ela, está acima de tudo, como existem ainda hoje várias mulheres que são compassíveis, fortes, mas que resistem a determinadas situações por conta da família. No caso dela, existe um homem que também a ama e não teve oportunidades”, destaca Carla Cristina.
Em entrevista, os intérpretes de Onofre e Felicidade falam sobre as nuances de seus personagens, suas principais inspirações e referências e os conflitos que terão que lidar ao longo da nova novela das seis, que estreia no dia 7 de fevereiro. Confira!
ENTREVISTA COM CARLA CRISTINA CARDOSO
Como você define a Felicidade?
Felicidade é uma mulher de 1944, mas é muito atual. Acredito que a família, pra ela, está acima de tudo, como existem ainda hoje várias mulheres que são compassíveis, fortes, mas que resistem a determinadas situações por conta da família. No caso dela, só existe um homem que também a ama e não teve oportunidades. Com essa forma bruta dele de amar, essa mulher ocupa um lugar de equilíbrio na vida dessa família. Ela não é triste, não é fraca. Acima de qualquer palavra, de qualquer gesto negativo, ela é muito feliz porque tem uma família.
Em quem se inspirou para fazê-la?
A inspiração da Felicidade é minha falecida mãe, dona Iracema, que foi uma Felicidade na minha vida. Até os oito anos meu pai não convivia com ela porque tinha problema com álcool também, mas ela fazia de tudo pra viver, independente do vício dele. Foi depois dos meus oito anos que minha mãe conheceu o pai da minha irmã, meu padrasto, que foi meu verdadeiro pai, quem me criou com muito amor, um paizão. Passamos por muitas dificuldades e minha mãe, por várias vezes, passou por cima de várias situações para poder nos dar as coisas, para poder casar a minha irmã, por exemplo, como a Felicidade faz com a Letícia… Ela fez várias coisas até o momento que, para eles, foi melhor serem grandes amigos. Foi o que deu certo pra vida. Mas muitas coisas a minha mãe passou por cima pra poder ter as filhas felizes e para poder dar um pai pra filha… Então a inspiração é dona Iracema Ana da Conceição, minha mãe.
Comente sobre a relação entre Onofre e Felicidade.
A relação deles é de amor. Ele pode ser esse homem infeliz pela vida, frustrado por não concluir um sonho, mas ele ama essa mulher, ama as filhas, só foi um pouco castigado pela vida. Trabalhou quando criança e muitas coisas que são o mínimo para um garoto foram retiradas dele. Então ele ama do jeito dele e o álcool sempre vem para diminuir alguma dor. Ele encontrou no álcool uma fuga, como acontece com várias pessoas. O Onofre sabe que, às vezes, passa do ponto, mas também sabe que aquela é a única mulher que suporta o psicológico doloroso. O Onofre também não foi de muitos amores na criação dele, mas sabe que tem uma pessoa que o ama e que lhe deu dois filhos. E a relação deles de compassividade é muito feliz, independente das coisas que ele às vezes fala. O jeito dele de se desculpar é amando essa mulher, eu acho.
Qual a sua expectativa para este trabalho?
A minha expectativa é a melhor, é maravilhosa. É a primeira vez que eu vou fazer uma personagem que não é do mundo da comédia. Não estou falando que ela seja uma pessoa totalmente triste. Já fiz uma personagem um pouco nessa vibe, em um curta que tem muito tempo, mas a maioria das minhas personagens é de humor e, geralmente, sou chamada para fazer humor, que amo fazer e não tenho dificuldade nenhuma. Nesse lugar em que estou, de uma personagem mais firme e muito maravilhosa, estou adorando, sigo muito feliz por ter sido escolhida pelo Luiz Henrique (diretor artístico) e pela Alessandra (autora), por terem confiado em colocar a Felicidade nas minhas mãos. É um lugar que não é confortável para mim, mas ela me encantou tanto que se tornou confortável. Estou muito firme, com muita fé de que muitas mulheres brasileiras e do mundo vão se identificar com a Felicidade porque estou dando tudo de mim e ela vai nascer com muita força, muita luz.
ENTREVISTA COM GUILHERME SILVA
Como você define o Onofre?
Onofre é um homem sagaz, com um humor ácido, meio amargurado, nesse momento, pelas frustrações da vida, mas também um homem apaixonado pela sua família, embora um tanto bruto. A vontade dele de sempre buscar uma condição de trabalho/financeira melhor, até por conta da sua história de privações e provações ao longo da vida, se dá justamente por amor à sua família, isso o pode levar a algumas confusões em histórias e objetivos alheios. É orgulhoso de suas filhas e ama sua esposa, apesar dos modos mais rudes.
Em quem se inspirou para fazê-lo?
Eu me inspiro em homens reais, mais humildes, que como o Onofre, embora tenham passado por vivências violentas em sua vida – infância, adolescência, fase adulta –, tenham construído uma carapaça pra se proteger e sobreviver nesse mundo e isso tenha gerado também uma armadura emocional. O Onofre tende a proteger sua família, por amor e carinho, mesmo que, em alguns momentos, de uma maneira meio confusa e um tanto equivocada. O objetivo dele é dar melhor condição para sua esposa e suas filhas. Para além de entregar um trabalho à altura da obra que está sendo desenvolvida, busco me divertir com toda essa construção tão bem elaborada pela Alessandra Poggi e sua equipe de dramaturgia, pelo Luiz Henrique Rios e toda sua equipe.
Comente sobre a relação entre Onofre e Felicidade.
Embora o Onofre seja sisudo, sem filtro e um tanto rude em alguns momentos, ele demonstra o amor que tem por sua companheira, Felicidade, e também a relação de cumplicidade que os dois têm. Fica nítido que existe carinho, afeto e companheirismo entre eles. Não podemos esquecer que o Onofre é um homem da década de 1930/40, mas mesmo assim existe uma escuta para sua esposa e suas filhas, o que só é afetado quando ele recorre ao álcool, para tentar diminuir suas angústias e frustrações. É aí que se mostram os problemas da vida do casal, pois o Onofre é bem cabeça dura e não admite estar errado em seus posicionamentos, mas não há nada que o amor da família não possa intervir positivamente nesse contexto.
Além da Ilusão’ é criada e escrita por Alessandra Poggi, com direção artística de Luiz Henrique Rios. A obra é escrita com Adriana Chevalier, Letícia Mey, Flávio Marinho e Rita Lemgruber. A direção geral de Luís Felipe Sá e direção de Tande Bressane, Jeferson De e Joana Clark. A produção é de Mauricio Quaresma e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.