Nos capítulos de ‘Verdades Secretas’ que estão indo ao ar, a abordagem da dependência química de Larissa (Grazi Massafera) e Roy (Flávio Tolezani) está no ápice. Flávio conta sobre as dificuldades que toda a equipe da novela enfrentou para retratar com tamanha realidade o universo das pessoas que se viciam em drogas. “O grande desafio para nós foi justamente falar de um assunto muito delicado. Acho que foi muito acertado o jeito que o Walcyr (Carrasco) escreveu e que o Maurinho (Mauro Mendonça Filho) dirigiu, como toda a equipe lidou. E o resultado é que a gente teve um retorno muito bom — não só artístico, mas também como função social. Esse assunto foi muito discutido, tanto do ponto de vista dos dependentes e de potenciais dependentes como também dos familiares. O grande desafio foi falar sobre esse tema de um jeito que tocasse as pessoas na medida, com o máximo de realidade possível e que ainda viesse à tona essa discussão social sobre o que é ser dependente químico”, analisa o ator.
Ele considera que foi fundamental para o sucesso do núcleo a parceria com Grazi Massafera, que foi indicada ao Emmy Internacional como melhor atriz pelo papel. “Dessa parceria eu só tenho coisa boa para falar. Acho que está aí o resultado: o quanto que esse trabalho foi comentado e o quanto a Grazi foi reconhecida. A gente tinha uma cumplicidade em cena que adquirimos rápido, não nos conhecíamos antes desse trabalho. Precisávamos de uma confiança muito grande, porque tínhamos cenas muito delicadas e profundas, situações muito extremas. E a gente se apoiou um no outro. Ela foi de uma generosidade enorme, o tempo todo. Tenho um carinho, um amor por esse trabalho e pela parceria com ela”, conta Flávio. Na entrevista abaixo, o ator fala mais sobre o trabalho e os bastidores de ‘Verdades Secretas’.
‘Verdades Secretas’ é escrita por Walcyr Carrasco, com direção de núcleo de Mauro Mendonça Filho e direção geral de André Felipe Binder, Natália Grimberg e Mauro Mendonça Filho, direção de Allan Fiterman, Mariana Richard e André Barros. A obra vai ao ar às segundas após ‘Um Lugar ao Sol’, às terças e quintas depois de ‘The Voice Brasil’ e às sextas após o ‘Globo Repórter’.
ENTREVISTA COM FLÁVIO TOLEZANI
Como você descreve o Roy?
Eu costumava dizer sempre na época das gravações: por mais que ele tenha suas atitudes extremas, seu comportamento negativo, ele também é uma vítima. Ele é uma vítima da sociedade, uma vítima do sistema. O Roy é um dependente químico e isso tem que ser visto como uma doença — o que não acontece na maior parte dos casos, ainda mais no crack. Roy é um cara que tinha um futuro promissor e ele se frustrou. Um cara muito legal que teve contato com as drogas e virou dependente químico, e a partir daí só foi para o fundo do poço. E, no momento em que está tentando se livrar disso, conhece a Larissa. Ele desanda completamente com essa paixão que chega e o desestabiliza ainda mais.
Como foi o trabalho de composição do personagem? Você chegou a conversar com dependentes químicos e terapeutas?
A construção, a composição do personagem, foi feita com um trabalho intenso anterior de preparação, de ensaios com o preparador de elenco, que era o Sergio Penna, com a Grazi (Massafera) e com o elenco todo que compunha esse núcleo da cracolândia. Foi um trabalho super intenso, porque é muito delicado falar desse tema e com a realidade que a gente retratou, isso tinha que ser muito bem cuidado. Então fizemos uma grande pesquisa do que é ser um dependente químico e o que é estar no fluxo, na cracolândia. A gente teve, além de trabalhos nossos nos Estúdios Globo, em salas de ensaio, um trabalho em São Paulo de pesquisa, de fato, na cracolândia, nos arredores e conversando com dependentes químicos. Tudo isso foi feito com muito cuidado, com muita segurança. Todos foram muito bem orientados de como se comportar lá e, daí, sim, ter o contato com dependentes, com especialistas. Um trabalho muito bonito que foi guiado pelo Maurinho (Mauro Mendonça Filho), que sabia que a gente precisava ir muito a fundo.
Qual a principal lembrança que você tem do período de gravação?
A principal lembrança que eu tenho é das diárias na locação que era a nossa cracolândia. Tenho muito forte essa lembrança de estar naquele lugar, com aquele visual, com uma equipe gigantesca, não só de filmagem, mas, principalmente, a equipe de figuração e de elenco de apoio que compunha esse ambiente. Era muito emocionante estar lá, muito tocante, porque mexemos com uma realidade difícil, e era tudo feito de uma forma em que se buscava uma verossimilhança muito grande. A gente tinha momento de realmente se emocionar, até fora de cena — eu, Grazi, os colegas de elenco. Foi tudo feito com muita atenção, com olhar artístico muito grande e com cuidado humano. A gente ficava muito tempo lá gravando e o resultado eram cenas de tempo até curto, porque era muito trabalhoso.
Qual foi o grande desafio desse trabalho como um todo?
O grande desafio foi justamente falar de um assunto muito delicado. Acho que foi muito acertado o jeito que o Walcyr escreveu e que o Maurinho retratou, como toda a equipe lidou. E o resultado é que a gente teve um retorno muito bom — não só artístico, mas também como função social. Esse assunto foi muito discutido. Não só do ponto de vista dos dependentes e de potenciais dependentes como também dos familiares. O grande desafio foi falar sobre esse tema de um jeito que tocasse as pessoas na medida, com o máximo de realidade possível e que ainda levantasse o assunto, que viesse à tona essa discussão social sobre o que é ser dependente químico. Está aí a importância de retratarmos e falarmos sobre isso na TV. Uma mídia de alcance extremamente potente, grande e popular. É extremamente importante isso, ‘Verdades Secretas’ foi muito além do entretenimento. Em todas as tramas, tinha ali uma questão social muito latente envolvida.
O público o abordava muito nas ruas por conta da trama quando ela foi exibida originalmente?
A partir do momento em que a trama em torno das drogas estava muito evidente eu era muito abordado. Até porque tinha o visual muito marcante do personagem, o cabelão, a barba. Era muito fácil ser reconhecido e as pessoas assistiam muito à novela. Tinham todos os tipos de abordagem, desde o elogioso até críticas por ter levado a Larissa para o mundo das drogas. Mas as pessoas eram sempre muito carinhosas.
Como foi a parceria com Grazi Massafera?
Dessa parceria eu só tenho coisa boa para falar. Acho que está aí o resultado: o quanto que esse trabalho foi comentado e o quanto a Grazi foi reconhecida. A gente tinha uma cumplicidade em cena que adquirimos rápido, não nos conhecíamos antes desse trabalho. Precisávamos de uma confiança muito grande, porque tínhamos cenas muito delicadas e profundas, situações muito extremas. E a gente se apoiou um no outro. Ela foi de uma generosidade enorme, o tempo todo. Tenho um carinho, um amor por esse trabalho e pela parceria com ela
Você está assistindo novamente à trama? É muito autocrítico ao rever um trabalho antigo?
Sempre que possível eu estou revendo. E a autocrítica? Ai, minha autocrítica é enorme! Acho que quando a gente revê um trabalho que já tem alguns anos, tendemos a ter um olhar um pouco diferente, porque cinco, seis anos já se passaram. Então, a gente já nem se reconhece mais como aquela pessoa. É engraçado, né? A gente já está em outro lugar, já evoluiu, pensa diferente. Acho que não é mais uma autocrítica tão grande e, sim, uma análise de: “Olha, nessa cena o caminho poderia ter sido um pouquinho diferente”. Quer dizer, dói menos do que uma autocrítica muito fresca, de um trabalho que está acontecendo ou acabou de acontecer.