Exibida no ‘Vale a Pena Ver de Novo’, ‘Laços de Família’ entrou em sua fase mais importante, quando Camila (Carolina Dieckmann) é diagnosticada com leucemia e Helena (Vera Fischer) vai mostrar que fará qualquer sacrifício para salvar a vida da filha. Está prevista para ir ao ar nesta segunda-feira, dia 08, a cena em que a jovem tem o cabelo raspado ao som da canção “Love By Grace”, de Lara Fabian, um dos momentos mais antológicos da televisão brasileira. Na época da exibição original, o drama de Camila serviu para promover uma campanha pela doação de medula óssea, o que gerou um aumento significativo no número de doadores em todo Brasil durante e após o término da novela.
Escrita por Manoel Carlos especialmente para Carolina Dieckmann, Camila mudou para sempre a vida de sua intérprete. Até hoje o impacto dessa e de outras cenas mexem com as emoções da atriz, que tinha apenas 21 anos quando gravou a novela. Na entrevista abaixo, Carolina relembra o momento mais forte que viveu na trama, além de toda a fase em que a personagem enfrentou a doença.
Exibida no ‘Vale a Pena Ver de Novo’, ‘Laços de Família’ é escrita por Manoel Carlos, com direção geral e de núcleo de Ricardo Waddington.
Entrevista com Carolina Dieckmann
A cena em que a Camila tem o cabelo raspado é umas das mais emblemáticas da teledramaturgia brasileira. Para você ainda é impactante relembrar esse momento?
Essa cena sempre vai ter um impacto grande para mim, pois envolve muitos outros sentimentos. Meus medos e inseguranças, orgulho de ter enfrentado tantas emoções fortes sendo tão nova…tenho muita memória emotiva em mim. Esse momento ficou gravado na minha trajetória como um rito de passagem, uma iniciação. E fico mais realizada ainda que a cena não tenha sido forte só para mim. Às vezes a gente faz cenas que são muito impactantes para quem está fazendo e para quem está no set, mas, quando ela passa na televisão, não tem essa mesma força. E eu fico muito feliz que essa cena, com essa importância para minha vida e carreira, tenha sido também tão marcante para várias pessoas.
Você Imaginava que a cena teria tanta força para o público quando foi gravada? E como foi a gravação?
De forma alguma, pois era uma gravação para a campanha de doação de medula óssea. Por isso ela tem uma história contada como um rito de passagem, uma transformação com início, meio e fim. Não estava planejado muito antes que a Camila iria raspar a cabeça, então não tinha muita expectativa em cima, o pedido para mim na cena era só ficar séria, mas, quando eu me dei conta, estava muito emocionada. Eu não estava me vendo, então não chorei porque estava ficando careca, mas sim porque estava muito entregue ao momento da personagem.
Como foi enfrentar toda a fase da doença da Camila?
Todas as cenas a partir do momento em que a Camila se descobre doente foram muito difíceis. Primeiro, porque eu era muito nova, nunca tinha tido contato com pessoas com câncer. Não conhecia ninguém que tinha enfrentado a doença, nem da família, nem amigos. Foi um choque perceber a fragilidade humana através de uma doença como essa, interpretar e interiorizar o sofrimento para fazer as cenas. Hoje é muito interessante relembrar como eu atravessei tudo isso como atriz.
Na época da exibição original, a Camila foi muito criticada pelo público por ter se envolvido com o namorado da mãe, mas, com a doença, muita gente passou a torcer por ela. Como foi acompanhar as reações dos telespectadores?
No início do trabalho, o Maneco (Manoel Carlos) me disse que seria importante que as pessoas tivessem empatia pela Camila. Quando eu fui vendo que ela estava sendo odiada pelo público, fiquei preocupada e falei com ele. E ele me respondeu muito tranquilamente que tinha certeza de que a situação mudaria. E foi isso mesmo que aconteceu. Quando a doença apareceu, muitas pessoas começaram a pensar que era bem feito para a Camila, mas, aos poucos, foram torcendo por ela. Essa é a lembrança que eu tenho, de que o jogo virou já no final, quando ela estava entre a vida e a morte. Acho que ali que o público perdoou tudo o que ela fez ao longo da história.
Hoje em dia você tem vontade de fazer outro personagem que exija tamanha entrega? Rasparia a cabeça novamente, por exemplo?
Faria tudo de novo e um pouco mais. Sempre acho que posso fazer mais, meu corpo está muito ligado ao meu trabalho. Nunca usei vaidade para dosar o que iria fazer ou não. Para mim, o começo do barato é se entregar de corpo, é um momento que eu curto, pensar que cara que vou ter na personagem. E adorei ficar careca na época da novela. Até esse momento eu não me achava bonita. Eu era pouco vaidosa, nem espelho grande em casa eu tinha. Eu lembro que o primeiro espelho que eu tive na minha vida, que comprei para me ver inteira, conferir a roupa, foi na época de ‘Mulheres Apaixonadas’, depois da Camila. Eu não tinha uma percepção estética sobre mim e, quando fiquei careca, percebi que meu rosto ficou muito forte, comecei a me achar interessante. Foi careca que eu comecei a me curtir. É estranho, mas é verdade.
Além de ‘Laços de Família’ você também está no ar em ‘Mulheres Apaixonadas’, no Canal Viva, e recentemente foi exibida na TV Globo uma edição especial de ‘Fina Estampa’. Tem outros trabalhos seus que você gostaria que fossem reprisados? Curte rever suas personagens?
Eu adoraria rever a Leona da novela ‘Cobras & Lagartos’. Gostaria de revê-la pela estética dela, por ser uma malvada, já que fiz mais mocinhas que vilãs. Além disso, eu adorava a novela, eu adorava o Foguinho (Lázaro Ramos), a Ellen (Taís Araújo) e a Milu (Marília Pêra). Aliás, foi uma sorte imensa ter tido a oportunidade de trabalhar com a Marília Pêra tão de perto. É um trabalho que eu adoraria rever! Adoro assistir os produtos já finalizados. Eu assisto totalmente como espectadora. Não sou autocrítica.