O médico Dr. Peter (Caco Ciocler) chegou ao Brasil na missão austríaca, com a comitiva de Leopoldina (Letícia Colin), sem saber o que lhe esperava. Ficou responsável por cuidar de Dom Pedro (Caio Castro) e passou a se envolver não só com a Corte, mas com os cidadãos. Por intermédio de Cecília (Isabella Dragão, conheceu Amália (Vanessa Gerbelli) e se apaixonou pela paciente durante o tratamento.
Nos últimos capítulos da trama, Amália retribui os sentimentos do médico e os dois se entregaram ao desejo. No entanto, o passado dela ainda perturba seus pensamentos e o maior trauma parece ter relação com o comerciante de escravizados, Sebastião (Roberto Cordovani).
Ao encontrá-lo, casualmente, Amália se desespera e foge para surpresa de Peter. Imediatamente, o médico começa uma busca pela amada, vai ao convento falar com a Madre e continua a busca pelas ruas. Quando a encontra, questiona seu comportamento e Amália revela que Sebastião foi o responsável pelo roubo do seu bebê desparecido. Ela pede a ajuda de Peter novamente para descobrir o que aconteceu com seu filho.
‘Novo Mundo’ é escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson, com Duba Elia, João Brandão e Renê Belmonte e tem direção artística de Vinícius Coimbra e direção de André Câmara, João Paulo Jabur, Bruno Safadi, Guto de Arruda Botelho e Pedro Brenelli.
ENTREVISTA COM CACO CIOCLER
Como você recebeu a notícia da volta da novela?
Adorei o fato da novela ter sido escolhida porque ela não passou há tanto tempo. Geralmente a gente espera que ela vá ser reprisada depois de algum tempo. Foi uma novela deliciosa de fazer. Faz todo sentido ela voltar agora, não só porque ‘Nos Tempos do Imperador’ é a continuação dessa história. Faz sentido as pessoas retomarem essa novela antes de assistir à continuação e também porque a gente vive um momento no Brasil onde rever a nossa própria história é muito importante. Uma história que fala das nossas origens, da nossa origem escravocrata, da origem da nossa elite, do nosso povo, de algumas questões que se arrastam até os dias de hoje. Acho superoportuno que ela volte nesse momento. Fiquei muito feliz. Além do que é uma novela que só me traz boas recordações, uma novela boa e gostosa.
Qual a importância desse personagem na sua carreira?
Todos os personagens são importantes. Digo isso sem nenhuma tentativa de enrolação, mas é um fato. Porque os grandes sucessos e os fracassos ensinam muito. O Dr. Peter não foi diferente. Um personagem difícil de construção, idealista. Foi muito importante e me ensinou muito, sempre tive sorte de trabalhar com grandes parcerias de cena. E em ‘Novo Mundo’ isso se repetiu. Foi um personagem muito gostoso de fazer, um dos mais agradáveis, instigantes e bonitos. Teve uma importância afetiva muito grande.
Qual cena gostaria de rever?
Eu tenho uma memória péssima, mas a primeira cena que me vem na cabeça com essa pergunta é uma em que Amália (Vanessa Gerbelli) corta o cabelo do Peter. Eu lembro que foi uma coisa que eu achava importante, que eu pedi pra direção, para os autores. O Peter estava vivendo uma paixão pela primeira vez na vida e quando a novela começou eles haviam me dito que os personagens seriam idealistas, que teriam deixado toda a sua fortuna no país de origem, teriam perdido o seu dinheiro em nome da Medicina. Ele aceitava frutas e presentes como pagamento. Então a caracterização dele foi sempre para um lugar de pouca higiene, poucas posses. Um cara não preocupado com sua vaidade, mas sempre com o outro. Achei muito bonito, que fosse muito simbólico e importante para esse personagem que quando ele se visse apaixonado pela primeira vez se preocupasse com a sua vaidade, sabe? Mas eu estava caracterizado de uma maneira que não correspondia a isso, então a solução que a gente achou foi que a Amália pedisse para ele cortar ou cortasse pra ele um pouco a barba, o cabelo.
Qual a cena mais difícil?
Engraçado isso. Sempre acho que as cenas mais difíceis são as que não nos dão muito material. Normalmente as pessoas falam das cenas mais importantes. Que exigiram mais emoção. Nesse sentido, tem uma cena que ele perde a Amália porque faz uma besteira. Foi difícil porque era um sofrimento de um adulto, mas que estava passando por aquilo pela primeira vez na vida. Um lugar muito bonito, puro. Poderia dizer que foi a mais difícil. Por outro lado, quanto mais complexa é a cena, mas fácil ela é. Eu acho mais difícil as cenas cotidianas, que não querem dizer nada. Que você está ali no meio de uma festa e a câmera vem para você e tem que dar uma fala que não é nada. Essas são para mim as mais difíceis. Engraçado que o personagem era médico, mas naquela época não existia tanto conhecimento, então para quase tudo ele receitava chá de Flor de Laranjeira. Eram as cenas mais difíceis quando chamavam o Dr. Peter para uma emergência e ele receitava o chá. Eram as mais difíceis de sustentar. Ele é um médico, foi chamado para a função, para o imaginário atual ele soava como um mau médico, porque a solução era sempre repouso, banho e chá de Flor de Laranjeira. Era o que se fazia na época. Não estava errado, mas para mim eram as mais difíceis.
Que momento das gravações você lembra com mais carinho?
Os primeiros. Tem um começo da novela, quando a novela ela não estreou ainda. Não sabemos direito a cara que a novela tem, como a personagem vai imprimir. Está no começo da história. É sempre uma lembrança muito agradável essa fase porque a gente aposta num caminho e não sabe exatamente o que vai acontecer com isso. E geralmente as coisas vão se transformando durante a novela quando a gente começa a se assistir, mas tem um momento que não dá para ver ainda o que você está fazendo. Essa aposta inicial e cada cena que você contracena com o colega e vê a aposta que o colega fez é um período muito gostoso. Quando você vai vendo aquilo que estava no papel, como resolveu cada personagem, qual a aposta que cada um fez, vai tomando corpo, tem muita lembrança carinhosa desse período.
O que você tem ouvido dos amigos e do público desde que foi anunciada a volta da novela?
Só ouço coisa boa. Ouço muito que é a novela preferida das pessoas, das que estão no ar. As pessoas estão muito felizes.
Como acha que o público recebeu a novela, depois de três anos?
Acho que o público está recebendo bem por causa dos comentários que tenho ouvido e acho também que muita gente não conseguiu ver a novela porque ela passava em um horário em condições normais de temperatura e pressão, às 18h. Um horário em que grande parte das pessoas está em trânsito, ainda não chegou em casa. É um horário para um público específico e com o isolamento sinto que mais gente teve possibilidade de acompanhar a novela. Não conhecia a história, não conhecia a novela e sinto que ela renasce para um público que não está acostumado com a novela das 18h. A resposta do que tive é sempre muito feliz e positiva.
Tem alguma característica ou algo que você aprendeu com o personagem que ficou para a sua vida?
Acho que o Peter era um personagem largado, fisicamente esquisito, que não se encaixava, um estrangeiro. Era importante isso, que ele fosse de certa maneira desajeitado porque não fazia parte daquele mundo, aquele calor que não estava acostumado. Sem conseguir deixar aquelas roupas quentes, que ele usava na Europa. Era preciso manter uma esquisitice, mas sempre fiz questão de imprimir nele uma luz, sempre achei que fosse um personagem de luz e é muito legal ver anos depois como são as cenas que mais gosto. Como é importante essa característica para os personagens, principalmente na televisão. Como é uma característica importante de carregar, seja o personagem que for, tem uma luz, um brilho, que são as cenas que mais gosto e entendo hoje assistindo como é um tempero importante. Esse foi o aprendizado que o Peter me trouxe, a importância da luz.
Como tem passado esses dias de isolamento?
No começo da pandemia fui absolutamente invadido por um projeto que criei, um movimento que consegui criar de incentivo às empresas que ajudassem, que fizessem alguma contribuição positiva e significativa no combate à pandemia ou seus efeitos. Convoquei alguns colegas, assim como eu para disponibilizarem suas redes sociais e divulgar a ação de toda e qualquer empresa significativa. Durante um bom tempo isso tomou um tamanho que eu jamais imaginei. Que começou com um vídeo no instagram. E paralelamente a isso, me ocupei com o meu primeiro semestre da faculdade de Biologia. Eu tinha entrado na faculdade de Biologia semipresencial antes da pandemia começar e eles mudaram algumas matérias. Esse primeiro semestre inteiro foi de matérias que não precisariam ser presenciais. Então, cumpri o primeiro semestre da faculdade e ocupei-me com minha própria casa depois. Sempre trabalhei muito, fui vendo que minha casa precisava de uma série de reparos hidráulicos, elétricos, pintar parede, envernizar as madeiras, limpezas e pequenos consertos e fiz tudo isso sozinho. Aprendi a fazer. Os próprios cuidados da casa me ocupam bastante no dia. Manter a casa limpa, cozinhar, fiz uma horta, uma pequena hortinha. E têm vários projetos. Existem várias tentativas de pessoas tentando criar linguagens e possibilidades de continuar trabalhando. E eu sou chamado para alguns deles. Dia dia 18 de junho, estreou o filme que eu dirigi, “Partida”, que ia estrear nos cinemas e agora estreou em vod, no vídeo on demand, no streaming. Me ocupei também com a divulgação dessa estreia.
Estava com projetos em andamento antes da quarentena?
Eu estava ensaiando uma peça com o coletivo Ultralíricos, dirigido pelo Felipe Hirsch. A gente estava fazendo um espetáculo baseado numa canção do Tom Zé, que estava compondo outras três canções inéditas para o espetáculo. Era um musical chamado “Língua Brasileira”. Falava um pouco sobre a formação da língua brasileira e interrompemos os ensaios, digamos assim, a uma semana da estreia. Já estávamos nos ensaios gerais, no palco. Antes estávamos vendo que provavelmente o isolamento seria decretado, mas seguramos até quando conseguimos, até quando pode. Não sabemos quando será possível voltar. E a estreia do meu filme “Partida”, que tinha a estreia prevista para junho nos cinemas, tivemos que fazer toda uma adaptação para que estreasse, mas agora numa plataforma nova, uma outra lógica de lançamento.