Marcello Melo Jr. é um ator, cantor, compositor, e modelo brasileiro, que nasceu em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, RJ, e foi criado no Morro do Vidigal, Zona Sul do Rio de Janeiro. Em 1998, Marcelo Melo Jr., ainda criança, iniciou a vida artística fazendo aulas no Grupo Nós do Morro, e depois conquistou vários personagens de sucesso na TV e no cinema. Participou de filmes como ‘Cidade de Deus’, de Fernando Meirelles, ‘Tropa de Elite’, de José Padilha, ‘Meu Nome Não É Johnny’, de Guilherme Fiuza, e ‘Última Parada 174’, de Bruno Barreto. No teatro, participou de inúmeras montagens do Grupo Nós do Morro. Na Globo, fez ‘Malhação’, ‘A Vida da Gente’, ‘Lado a Lado’, ‘Tempo de Amar’, e mais recentemente, ‘Bom Sucesso’, entre outras.
Como você define o Mikhael?
Marcello: Eu o definiria como um cara corajoso por ter tido o pai assassinado, e ainda assim seguir a mesma profissão que ele e assumir essa carga de energia. Dentro dos próprios princípios, ele é um cara honesto e não faz o que faz por maldade ou prazer de matar, porque considera que isso é honrar a farda que ele usa.
Como se preparou para o papel?
Marcello: A preparação foi bem interessante. Ensaiamos em um galpão em Jacarepaguá, onde tivemos aulas de técnica policial, além de treinar tática, preparação teórica e pratica. Aprendemos a linguagem da polícia, como segurar a arma, como andar, como proceder numa operação que deu certo e que deu errado. Meu treino físico foi para ter energia para encarar todas as cenas de ação e me adaptar a gravar com a roupa da polícia, que é muito pesada.
Qual é a principal mensagem da série, na sua opinião?
Marcello: A mensagem da série é mostrar como está o nosso Estado, como precisamos ficar mais atentos ao ser humano, procurar ver o outro lado das coisas.
Se identifica com o personagem de alguma forma?
Marcello: Na sua solidão. Eu tenho família, que mora em Nova Iguaçu, enquanto eu fico em São Conrado, e por conta da correria da vida, não consigo vê-los como gostaria. Meus pais são vivos, casados, mas esse conceito de família é um vazio, por eu morar aqui, sinto falta desse amor, de ter por perto essa convivência familiar. Mas minha família e amigos vibram muito por mim. Estão loucos para ver tudo, ansiosos, emocionados.
Entrevista com o criador José Junior
José Junior é CEO da AfroReggae Audiovisual. Criou, produziu e apresentou uma dezena de séries documentais. Foi também produtor do doc ‘Favela Rising’, ganhador de 36 prêmios internacionais, incluindo o Prêmio de Melhor Novo Documentarista no Festival de Tribeca, e semifinalista do Oscar. Lançou recentemente sua primeira obra de ficção, ‘A Divisão’, dirigida por Vicente Amorim. Junior fundou o Grupo Cultural AfroReggae há 27 anos, onde criou diversos projetos socioculturais nas comunidades do Rio.
Qual é a principal mensagem da série?
José Junior: A série é a história de um policial do Bope, um sargento, que perdeu os pais muito cedo: o pai, vítima da violência, a mãe, vítima de câncer. Ele tem uma irmã e os dois cresceram um cuidando do outro. Em função dessas perdas, e por ter um olhar extremamente equivocado da sua própria instituição e da sociedade fluminense, ele é um ser com uma visão de correção deturpada. Há uma questão muito interessante, quando ele conhece o jornalista Ronaldo Leitão (Álamo Facó). Há uma questão muito interessante quando ele conhece e passa a conviver com o jornalista Ronaldo Leitão (Álamo Facó), que é uma pessoa diferente dele, e com a Luciana (Daniele Suzuki), que desperta nele sentimentos que ele nunca teve. Ele passa por uma transformação. Tem uma mensagem que a série passa: para o bem comum, os diferentes se juntam em prol de algo melhor. Isso acontece com a junção de Mikhael e Ronaldo. Isso mostra que é possível abrir mão de alguns sentimentos e causas em prol de algo muito maior. O encontro Mikhael e Ronaldo se dá muito nesse sentido.
O quanto você se envolveu na produção em si? Ajudou em construção de elenco, filmagens?
José Junior: Tive envolvimento em tudo: na escrita do argumento, na criação, nos roteiros, na produção, na escolha do elenco, do diretor. Tive um trabalho muito profundo com o protagonista, que é o Marcello Melo Jr., e que eu mantenho até hoje. Depois que escolhemos o Marcello, fui um pouco coach dele e da série. E, além do elenco, acho que uma das melhores escolhas que fiz foi o Heitor Dhalia (diretor-geral). Minha troca com ele foi muito intensa e meu envolvimento foi total em todas as etapas do processo.
Você também criou ‘A Divisão’. O que esses dois projetos têm de parecido? E de diferente?
José Junior: ‘A Divisão’ e ‘Arcanjo Renegado’ passam uma mensagem muito parecida de que, em prol de algo maior, os diferentes, muitas vezes, se conectam. Ao mesmo tempo, tirando esse conceito real da verossimilhança que a marca Afroreggae Audiovisual carrega somado à minha contribuição como produtor e criador dos projetos, são diferentes no sentido de que ‘A Divisão’ é uma série de época que conta uma história baseada em fatos reais de como acabou a onda de sequestros no RJ no fim dos anos 90, com personagens que existiram e uma carga de dramaticidade muito focada no que aconteceu naquela época. E, em ‘Arcanjo Renegado’, usei muita liberdade dramatúrgica e ficcional nessa série, o que não fiz na Divisão.
Entrevista com o diretor-geral Heitor Dhalia
Natural de Recife, Heitor Dhalia, de 50 anos, é diretor, produtor e roteirista. Com um vasto currículo cinematográfico, assina a direção de longas como ‘Nina’ (2004); ‘O Cheiro do Ralo’ (2006); ‘À Deriva’ (2009) – exibido na mostra Um Certo Olhar, no Festival de Cannes; ‘Serra Pelada’ (2013); ‘On Yoga: Arquitetura da Paz’ (2017); ‘Tungstênio’ (2018); ‘Em Busca da Cerveja Perfeita’ (2019) e ‘Ballad of a Hustler’ (2019), produção internacional a ser lançada no Brasil e nos Estados Unidos, no qual faz um retrato da Era Trump com foco em sua política para os imigrantes. ‘Arcanjo Renegado’ é a primeira série na qual Heitor Dhalia faz a direção geral.
Como definiria ‘Arcanjo Renegado’?
Heitor Dhália: ‘Arcanjo’ conta a história de um sargento do Bope, o Mikhael (Marcello Melo Jr.), e como ele vai sendo manipulado por questões políticas, e tomando escolhas a partir da realidade que está inserido, que é a uma realidade dura até para a polícia. Tudo o que o Estado não consegue resolver, a polícia tem essa missão de ir lá e resolver. E a série conta um pouco desse universo, a partir desse personagem que tem um backstory doloroso, já que o pai era policial e morreu. ‘Arcanjo’ conta essa história, é um thriller, uma série de entretenimento que aborda esse universo político-policial do Rio de Janeiro, e como esses dois vetores se conectam.
Quais escolhas e referências estéticas te ajudaram a rodar ‘Arcanjo’?
Heitor Dhália: A minha principal referência estética é a realidade. Tentamos fazer uma série a mais calcada possível em elementos reais. Tínhamos vontade de fazer alguma coisa com o viés mais documental, apesar de ser uma série policial de ação – e de ficção. Mas a linguagem é uma câmera mais orgânica, na mão. Temos referências de filmes e séries, mas não fui buscar nenhuma referência específica.
É a primeira série que leva sua assinatura. O que buscou imprimir nela? Tem séries que viram filmes, dirigi-las é muito diferente de fazer cinema?
Heitor Dhália: Fazer série é bem diferente de fazer filme. Para a série, você tem um volume muito maior do que precisa num longa. Num longa, você precisa de duas horas, numa série, precisa de umas dez horas. E essa necessidade de volume de alguma maneira influência nas escolhas estéticas, porque você vai precisar pensar a captação para produzir essa quantidade de material, então é outra lógica.