
Os atores André Arteche (“Lado a Lado”), Fernanda Vasconcellos (“Coisa Mais Linda”) e Paula Burlamaqui (“Órfãos da Terra”) estão à frente do elenco da série “Rua do Sobe e Desce Número Que Desaparece” (de Luís Carlos Lacerda), que vai ser exibida pelo Canal Brasil, com produção da empresa Matinê Filmes.
Os atores Antonio Bento Ferraz (“Cinzas”), Ghilherme Lobo (“Malhação – Vidas Brasileiras”), Marcello Melo Jr (“Bom Sucesso”) e Oscar Magrini (“A Dona do Pedaç”) também integram o elenco da produção em questão, inspirada em um conto de Edith Vaz de Araújo, que ainda não possui uma data prevista para sua estreia.
Confira o conto “Rua do Sobe e Desce Número Que Desaparece”:
– Bom dia Gentil!
– Oi. Bom dia Amaro… Há quanto tempo!
– Pois é, andei viajando e voltei ontem.
– Por onde andou, homem?
– Lá pras bandas do sem fim.
– Ah! Sei…
– Sério, fui visitar minha madrinha que não via há mais de quarenta anos. Estava remexendo os guardados da minha saudosa mãezinha e vi o endereço anotado na primeira folha. Estava lá escrito: Comadre Rosinha. Rua do Sobe e Desce, número que desaparece. Sempre ouvi dizer que ela morava numa cidadezinha depois do trevo na rodovia. Me bateu uma vontade danada de ir ver se a Dindinha ainda estava viva.
– Nossa! E conseguiu encontrá-la?
– Encontrei sim, acredita? Lá estava eu, na Rua do Sobe e Desce, em frente ao número que desaparece.
– E isso existe, homem?
– Claro que sim, eu não estive lá?
– Mas esteve mesmo?
– Oh! Acha que estou mentindo?
– Não, mas essa história de número que desaparece, sei não… A Rua do Sobe e Desce, até vai!
– Então… A rua eu logo matei a charada, era uma ladeira. Olhando de baixo, dá pra ver os números das casas até a última lá do alto, depois disso, as casas que estão do outro lado, são as que os números desaparecem. Fui à primeira casa do lado que desce e bati na porta.
– Homem de Deus, mas se subisse pelo lado de lá, os números de cá são os que desaparecem. Isso parece papo de doido…
– Se você não acredita, não conto mais nada, falou bravo, o Amaro.
– Você não tem nada mais interessante pra contar depois de tanto tempo sem me ver, não?
– Tenho sim. Na viagem de volta parei em uma cidadezinha que fica ao lado direito da estrada. Fui lá de curioso e cheguei a uma pracinha que tinha uma Igreja e vi o Seu Vigário abrindo a porta da frente.
– Ah! Era a Igreja Matriz! Disse alegre o Gentil.
– Na esquina tinha um barbeiro e logo adiante o prédio da Prefeitura. Estava lá um homem que parecia ser o Prefeito…
– Se ele estava usando um terno de linho amarrotado, era o Prefeito mesmo!
– Resolvi descer do carro e andei até o chafariz pra me refrescar um pouco. Sentei no banco da praça e conheci a Dona Maria.
– A Dona Maria não sai de lá, disse o compadre Gentil, coçando o nariz.
– O calor era muito e resolvi tomar um caldo de cana e comer um pastel no boteco do Seu João. Entraram alguns garotos descalços, sem camisas, bem suados. O que parecia ser o mais velho segurava uma bola no braço, os menores contavam o dinheiro pra comprarem picolé de coco queimado.
– O Seu João ainda vende picolé de coco queimado? Aquele velho! Faz o picolé mais gostoso que já vi.
– Você conhece o Seu João? Perguntou Amaro.
– Claro que sim. Ele é um sujeito moreno, boa-pinta, com a fala mansa, cheio de corpo, meio careca e usa óculos.
– Nesse caso é outro João, porque esse é bem diferente. A começar pela cor, que de moreno não tem nada e é bem magro.
– Mas não tem outro Seu João, nem outro botequim na praça da Matriz, que eu conheço muito bem, esbravejou Gentil.
– Mas você nem sabe em que cidade eu fui…
– É mesmo, mas você também não disse e do jeito que você falou parecia minha terra natal.
– Agora é você que vem com esse papo furado, está vendo? E ainda fala de mim.
– Ah! Chega de prosa. Amanhã a gente se encontra aqui, lá pelas três da tarde e bate mais um dedo de prosa, aí você acaba de me contar como encontrou sua madrinha, porque fiquei curioso.
– Ah! Não vai dar, porque amanhã vou visitar meu padrasto que não vejo há mais de trinta anos. Era o endereço que estava anotado na segunda folha, no caderninho da minha mãezinha, que Deus a tenha! Copiei do jeitinho que estava escrito: O Zeca foi pro lugar onde Judas perdeu as botas e não voltou até hoje, falou Amaro, mansamente.
– E você vai atrás do homem?
– Vou lá ver se encontro o tal e se estiver vivo, trago ele comigo.
– Depois você me conta onde fica esse lugar, porque meu pai também falava de um irmão que foi pra lá e nunca mais apareceu. Quem sabe se eles até não se conheceram por lá…
– É só você anotar aqui no papel o nome do seu tio, que garanto que o encontro.
– Será mesmo? Taí… Zé da Silva é o nome do traste.
– Até mais, Gentil, dou notícias quando voltar.
– Até mais Amaro e boa viagem.