Conhecida do grande público por sua veia cômica, Letícia Lima chega ao horário nobre a partir de 25/11, em Amor de Mãe, como ainda não havia se mostrado na TV: em um papel denso e dramático. O oposto da dançarina de funk Alisson, de A Regra do Jogo (2015), Estela, sua atual personagem, é piloto do jatinho particular de Raul, empresário vivido por Murilo Benício, com quem mantém uma relação extraconjugal. Quando descobre que ele não está mais casado com Lídia (Malu Galli) e que se apaixona por Érica (Nanda Costa), Estela parte para a vingança, o que acaba prejudicando sua carreira na aviação.
“Ela é independente, moderna, uma mulher livre que viajou o mundo todo, fala várias línguas, tem uma profissão que não é muito comum entre as mulheres, mas é emocionalmente frágil, passional. Tem essa obsessão pelo Raul. Eles são amantes há muitos anos e, quando ele termina o relacionamento e fica com a Érica, é devastador para Estela”, resume Letícia.
Para encarar essa personagem complexa, dona de si, mas que ama demais, a artista de 35 anos não só mudou radicalmente o visual e clareou os cabelos, como mergulhou fundo nos estudos. Aprendeu, na teoria, a usar alguns comandos de uma aeronave e também ouviu histórias de mulheres que são capazes de tudo em nome de uma paixão:
“Quando gravo em um jatinho, tem um piloto que me ensina o que devo fazer para aquela cena. É bem complicado, são anos de estudo. Mas o básico, que é decolar e pousar – claro que não faço de verdade – aprendi. Sei mexer (em alguns instrumentos) e como me portar.”
“Já para o lado emocional, interagi muito com mulheres que amam demais, que não vivem relações saudáveis, que se metem em situações complicadas. Dessa vez, não estou fazendo humor. É uma experiência completamente nova para mim. Eu já era uma atriz de drama, mas as pessoas me conhecem muito pela comédia, então estava louca para mostrar esse meu outro lado, uma personagem tão diferente de tudo o que já fiz.”
Fora de cena, Letícia entrega que sua vida afetiva vai muito bem, obrigada. Não fala abertamente sobre a relação, mas também não nega que esteja vivendo algo novo e bom para ela. Prefere ir devagar, sem rotular.
“Não tenho uma definição nesse momento. Só posso dizer que não estou solteira, estou bem e feliz”, limita-se. E ponto final!
Mesmo discreta com relação a sua intimidade, a atriz abre o jogo e revela que, sim, também já sofreu com relacionamentos tóxicos:
“Nada a ver com o caso da Estela, mas já me peguei em algumas situações e, só depois de muitos anos, notei que estava em uma relação tóxica, que aquilo não me fazia bem, que eu estava dependente. Sou muito analisada, então toda vez que tive um start assim levei para minha terapeuta ou ela notou. Então, nada foi muito drástico. Sofri, passei por relações tóxicas, mas sofrimento é inerente ao ser humano, né?”
Investir em uma relação unilateral, segundo Letícia, não faz o seu gênero. Se o sentimento não é correspondido, nada que uma boa análise não ajude a lidar com a situação e a partir para a próxima:
“Eu, quando percebo que não é recíproco, por mais que tenha dor, vou na minha terapia e me trato. Não estou dizendo que é fácil, que é simples, de um dia para o outro, mas lido com isso. No caso da Estela, ela é convicta de que o Raul ainda gosta dela, que só está passando por uma fase com a Érica, acha que os dois não têm nada a ver, que são de mundos diferentes, e que quando acabar esse tesão ele voltará. Coitada, dá muita pena porque a Estela acredita tanto nesse amor.”
Sem julgar as escolhas e valores da piloto, sua intérprete diz que, pessoalmente, joga com a verdade:
“Acho que a vilã é a vida porque, às vezes, prega umas peças como essa, de uma pessoa se apaixonar por alguém comprometido. Eu procuro lidar com muita clareza. Falar. Faço terapia há anos, então acho que é melhor todo mundo saber de tudo. Mas também quando tem uma situação como a da Estela, em que ela conheceu o cara, se apaixonou e foi recíproco, não dá para julgar. É muito injusto para todos os lados, eu acho. Sempre prefiro falar, por mais que seja difícil e que doa.”
Letícia volta à cena mais madura e preparada. No início do ano, passou uma temporada de quase quatro meses em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde se aprofundou nos estudos de interpretação e idioma e, de quebra, praticou o autoconhecimento.
“Há muito tempo tinha vontade de morar fora, não só como fiz em Los Angeles, mas em outros países também, para aprender outras línguas. Só que, graças a Deus, engatei um trabalho no trabalho. Consegui fazer isso no começo do ano e voltei a convite da novela. Ia passar mais tempo fora, mas quis muito fazer parte desse projeto”, frisa.
Se mudar de mala e cuia para outro país e passar por um período longe dos holofotes, sem companhia, foi enriquecedor, ela pontua:
“Já tenho uma tendência a ser bem reservada. Sou muito independente, tenho meu apartamento, meus cachorros, gosto de ficar sozinha. Nesse lugar, não foi tão diferente para mim. Eu precisava voltar a estudar. Não estudo desde minha faculdade de Cinema, há mais de 15 anos. Em Los Angeles, voltei a ter esquema de aulas, com horários e tal. Foi um período de autoconhecimento, de experimentar coisas novas. Também fiz ioga, que já queria tanto e não tinha tempo. Quis explorar a cidade toda, então morei em quatro apartamentos, fiz mudança para bairros diferentes só para sentir a atmosfera de cada lugar.”
Seu espírito libertário faz com que ela se vire bem e se adapte fácil a uma nova rotina. Casa, comida, roupa lavada, leitura em dia… Tudo isso, Letícia tira de letra e, em muitos momentos, ela se basta.
“Minha mãe era cozinheira profissional, então amo cozinhar. Também tenho paixão por casa, deixo de comprar uma bolsa cara para comprar uma batedeira, por exemplo. A minha é toda equipada, tenho uma cozinha mini industrial, com fogão de indução, forno… Estar em casa, para mim, não tem nada a ver com solidão. Consigo ler fácil dois livros por semana.”
“Amo companhia, mas também gosto de fazer sozinha o que, normalmente, as pessoas fazem acompanhadas. Quando abre um restaurante novo, costumo marcar um horário para provar, e não necessariamente com alguém. Vou ao cinema, teatro, praia”, enumera a atriz.
Se ver loiríssima, após transformação radical, foi impactante para ela em um primeiro momento: “Ninguém está me reconhecendo, só quando eu falo. Assim que fiquei loira, quando acordava e me olhava no espelho, não era eu, mas já era tão a Estela. Pintei na semana em que comecei a gravar. Me apaixonei pelo visual por causa dela. Só dá bastante trabalho para cuidar.”
A nova trama das 9 é a primeira a ser gravada no MG4, Módulo de Gravação 4 – o conjunto de três novos estúdios do Entretenimento da Globo, inaugurado em agosto deste ano. Amor de Mãe é criada e escrita por Manuela Dias e tem direção artística de José Luiz Villamarim.