Regiane Alves considera a personagem Dóris um divisor de águas em sua carreira. Não à toa que, até hoje, 20 anos depois da exibição original de ‘Mulheres Apaixonadas’, a atriz conta que as cenas seguem gerando reações do público: “Todo mundo que assistiu, na época, chega comentando comigo como é bom rever a novela agora, que é uma das novelas preferidas… Quando eu estou no estúdio, eu ligo, vejo um pouquinho, mato a saudade dos meus avós na trama. O elenco jovem de ‘Vai na Fé’, que ainda não tinha visto, por exemplo, vem comentar comigo também. Acho que é a chance de o público assistir a uma boa novela e não deixa de ser uma homenagem ao Manoel Carlos. A Dóris é uma personagem muito viva no imaginário das pessoas, então, é incrível. Que bom que eu pude fazer, que bom que passaram 20 anos e que bom que as pessoas têm essa oportunidade agora”, celebra.
Embora a filha de Irene (Marta Melinger) e Carlão (Marcos Caruso) tenha um comportamento hostil com os avós, Regiane não enxerga a personagem como uma vilã tradicional. “Eu acho que ela é uma jovem sem limites, sem regras, que só pensa nela e não no próximo. Ela faz tudo de forma inconsequente e com o desejo de se dar bem, achando que não vai causar problema a nenhuma outra pessoa, no caso, ali, aos avós”, observa. Na trama, Dóris não quer mais dividir o quarto com seu irmão e pressiona os pais para ter um lugar só seu em casa. Como não há mais espaço no apartamento, a jovem acha que seus avós deveriam deixar o local. Sua insistência acaba causando situações difíceis para a família, em especial, para os idosos Leopoldo (Oswaldo Louzada) e Flora (Carmen Silva).
Confira, a seguir, a entrevista com Regiane Alves.
A Dóris foi um personagem muito marcante em ‘Mulheres Apaixonadas’. Que lembranças guarda desse trabalho?
Eu guardo as melhores lembranças de uma época de muito reconhecimento do meu trabalho. Era o meu quarto trabalho na Globo: estreei em ‘A Muralha’, fiz ‘Laços de Família’, ‘Desejos de Mulher’ e ‘Mulheres Apaixonadas’ veio para ficar, tanto é que estou com 24 anos de Globo. Foi uma época em que houve uma repercussão enorme; me vi em Brasília tentando adiantar o processo do Estatuto do Idoso. Então, além do reconhecimento profissional, a gente deixou algo para o nosso país, para a nossa sociedade, sobre como a gente deveria olhar esse público que estava envelhecendo. Eu acho que foi um divisor de águas para a minha carreira. Quando se fala do idoso, fica presente na memória do público o exemplo da Dóris de como não o tratar.
Como foi dar vida a uma pessoa que tinha um comportamento tão hostil com os avós?
Primeiro, eu acho muito inteligente o Manoel Carlos colocar uma adolescente falando o que os adultos/filhos queriam falar para os pais – ele coloca isso nas entrelinhas. Com o Maneco, a gente constrói no dia a dia o que pode acontecer, ele é muito do cotidiano. A gente não tinha muita preparação, mas uma vivência real do personagem, até porque o Oswaldo Louzada e a Carmem Silva (os avós da Dóris) já eram bem idosos; no cotidiano da gravação havia todo um cuidado com eles. Era uma situação quase real do que estava acontecendo fora e dentro das telas. A personagem foi realmente construída no dia a dia, de acordo com as cenas que iam chegando. E acho que o público também foi formando junto. A Dóris foi um furacão, tanto é que foi difícil dar um final para ela.
Você considera a Dóris uma vilã? Por quê?
Não a considero uma vilã. Eu acho que ela é uma jovem sem limites, sem regras, que só pensa nela e não no próximo. Ela faz tudo de forma inconsequente e com o desejo de se dar bem, achando que não vai causar problema a nenhuma outra pessoa, no caso ali, os avós.
E como foi lidar com a repercussão da personagem diante do público naquela época?
Na época, era uma repercussão gigantesca. Eu lembro de uma cena da passeata em Copacabana da qual a Dóris participou. Tinha uma equipe grande, várias câmeras em cima dos hotéis para filmar. Só que, na hora em que eu entrei, o público ficou tão enlouquecido, que foi para cima. Eu tive que ir para outro lugar, foi uma loucura. Quando havia cenas em que ela maltratava os avós, eu também não conseguia sair muito na rua, ficava um pouco apreensiva com essa repercussão toda. Fico imaginando como seria essa personagem hoje, em tempos de redes sociais. Era bem forte e até hoje as pessoas falam: ‘Nossa, eu te odiava nessa novela!’.
Mesmo depois de 20 anos da exibição original, a trama da Dóris segue tendo repercussão, agora no ‘Vale a Pena Ver de Novo’. Como está sendo acompanhar o retorno do público desta vez?
Todo mundo que assistiu, na época, chega comentando comigo como é bom rever a novela agora, que é uma das novelas preferidas… Quando eu estou no estúdio, eu ligo, vejo um pouquinho, mato a saudade dos meus avós na trama. O elenco jovem de ‘Vai na Fé’, que ainda não tinha visto, por exemplo, vem comentar comigo também. Acho que é a chance de o público assistir a uma boa novela e não deixa de ser uma homenagem ao Manoel Carlos. A Dóris é uma personagem muito viva no imaginário das pessoas, então, é incrível. Que bom que eu pude fazer, que bom que passaram 20 anos e que bom que as pessoas têm essa oportunidade agora.
Como foi a troca com o elenco da novela?
A troca com o elenco foi maravilhosa. Eu tenho muitas boas memórias. Depois, houve um documentário sobre o Oswaldo Louzada, a gente se encontrou; a Carmen Silva também. Mas logo eles faleceram. Com o Marcos Caruso até hoje tenho contato. A Susana Vieira, a Christiane Torloni, o Tony Ramos (que, depois, fez o meu pai em ‘Cabocla’) são amizades que tenho até hoje.
Qual foi o impacto dessa personagem na sua carreira?
O impacto dessa personagem é o reconhecimento na carreira de atriz. Eu fiz tantas novelas, mas tem uma ou outra que marca. A Dóris é muito viva na memória das pessoas e, ao mesmo tempo, já se passaram 20 anos! Hoje uma nova geração pode assistir. E que bom, porque é uma grande história de um grande autor. Tenho muita saudade dessa época, das novelas do Manoel Carlos – fiz três: ‘Laços de Família’, ‘Mulheres Apaixonadas’ e ‘Páginas da Vida’. É bom a gente poder fazer uma homenagem à memória de um grande autor em vida.
Exibida no ‘Vale a Pena Ver de Novo’, ‘Mulheres Apaixonadas’ tem autoria de Manoel Carlos, com colaboração de Fausto Galvão, Vinícius Vianna e Maria Carolina. A novela tem direção de núcleo e geral de Ricardo Waddington e direção geral de José Luiz Vilamarim e Rogério Gomes, com direção de Ary Coslov e Marcelo Travesso. ‘Mulheres Apaixonadas’ vai ao ar de segunda a sexta-feira, logo após ‘Sessão da Tarde’.