Uma mulher vibrante e de muitas paixões. Assim é Lorena (Susana Vieira), uma das grandes personagens de ‘Mulheres Apaixonadas’, novela que volta ao ar no ‘Vale a Pena Ver de Novo’ na próxima segunda-feira, dia 29. Na trama escrita por Manoel Carlos, a personagem foi casada com Rafael (Claudio Marzo), de quem até hoje é muito amiga. Com ele teve seus dois filhos, Vidinha (Julia Almeida) e Diogo (Rodrigo Santoro). Como Vidinha tem um temperamento muito parecido com a da mãe, as brigas entre as duas são constantes. Sempre que necessário, Vidinha passa um tempo morando com o pai no hotel onde ele é gerente. Já Diogo é o ‘queridinho’ da mamãe, trabalha na agência de turismo que fica no hotel e tem uma loja de motos em sociedade com o amigo Claudio (Erik Marmo). Irmã de Téo (Tony Ramos), Lorena também é diretora-geral da Escola Ribeiro Alves, a ERA. “Ela conhecia a alma de cada um dos alunos. Esse lado dela muito amoroso e inteligente de lidar com aquela juventude era muito interessante e de uma sabedoria muito grande”, avalia a intérprete do papel, Susana Vieira.
A atriz conta que traz, até hoje, muitas memórias deste trabalho, entre elas, as histórias das personagens femininas criadas pelo autor: “Cada personagem que o Manoel Carlos colocou nessa novela tinha uma questão a ser tratada, com coragem de mostrar o que nos abala e o que nos deixa inseguras”, observa Susana, que a seguir, conta mais detalhes da personagem com a qual diz se identificar.
Este ano faz 20 anos da exibição original de ‘Mulheres Apaixonadas’. Quais lembranças você guarda da experiência de viver a Lorena?
Tenho as melhores lembranças, porque foi uma novela do Manoel Carlos em que ele reuniu um grande número de personagens femininos. Nós ficamos em um grupo de amigas numa novela que abordou vários assuntos de relevância social e várias questões emocionais. Cada uma de nós levou um recado do Manoel Carlos ao público brasileiro – algo que ele fazia como ninguém. Ele aborda, desde aquela época, a questão da separação, o problema do alcoolismo, a violência contra as mulheres, a forma como a juventude trata os seus avós… É muito interessante. Guardo cada uma das minhas amigas e colegas de trabalho, que tinham todas uma função na novela. Cada personagem que o Manoel Carlos colocou nessa novela tinha uma questão a ser tratada, com coragem de mostrar o que nos abala e o que nos deixa inseguras.
Na sua opinião, o que há de particular nessa personagem em comparação às outras que já interpretou?
O Manoel Carlos abrange várias situações da sociedade carioca daquela época, mas uma coisa particular do meu personagem é que ela gosta de um rapaz 20 anos mais novo que ela. Havia toda uma especulação e todo um preconceito. Havia também a traição do rapaz com a própria nora dela, a falta de respeito dele com ela. Na verdade, o Manoel Carlos estava expondo uma coisa que eu, na vida real, já estava vivendo há muito tempo. Eu estava vivendo com uma pessoa 24 anos mais nova do que eu já fazia uns 10 anos, então, para mim não era novidade nenhuma, mas para o público, sim.
Lembra da repercussão dessa trama junto ao público? Na sua visão, o que mudou daquele período para hoje em relação ao assunto?
Quando começa a novela, ela já está separada do marido, com quem ela se dá muito bem e conversa sobre tudo, sobre os filhos. E de repente ela se vê apaixonada por um homem muito bonito, muito mais jovem do que ela, que trabalha no sítio dela. Eu não me lembro exatamente da repercussão do público, porque naquela época eu já vivia uma situação como aquela na minha vida e não via grandes problemas, não. Isso nunca me afetou nem afetou a minha relação pessoal, que foi a mais longa que eu tive na minha vida. Eu acho que essas coisas continuam sendo um tabu, continuam em pauta, sim. As pessoas sempre têm uma piadinha, porque quando a mulher é nova e o homem mais velho, dizem que é por causa do dinheiro. E, quando ocorre o contrário, na cabeça das pessoas, é sempre um jovem que quer se dar bem, não quer trabalhar, quer viver às custas da mulher e, consequentemente, vai traí-la com gente mais nova. Mas eu acho que tudo o que diz respeito à vida dos outros estimula muito a fofoca, infelizmente é uma coisa natural no ser humano o querer saber da vida do outro.
Você se identifica com a Lorena de alguma forma?
Me identifico, porque ela era uma pessoa que procurava juntar todo mundo, agregar as pessoas, explicar tudo através da conversa. Ela era muito compreensiva, gostava de falar sobre tudo, não se esquivava de assunto nenhum. Havia a questão da homossexualidade, porque uma aluna do colégio era apaixonada por outra – mais um aspecto que o Manoel Carlos abordou nessa novela – e ela sempre teve um olhar muito complacente com todas. Ela era diretora de uma escola, então conhecia a alma de cada um dos alunos. Esse lado dela muito amoroso e inteligente de lidar com aquela juventude era muito interessante e de uma grande sabedoria.
Lorena e Téo eram irmãos na novela. Como é reencontrar o Tony Ramos agora em ‘Terra e Paixão’?
O Tony Ramos é a pessoa com quem eu mais gosto de contracenar dentro de toda essa plêiade de atores fantásticos que nós temos e com quem já trabalhei na vida. Eu já trabalhei com Paulo Autran e com Sergio Britto no teatro, com José Wilker, Otávio Augusto… Meu Deus, tive tanta gente boa! Mas acontece que, com o Tony, eu não sei se é porque a gente veio do mesmo lugar. Somos paulistas, viemos no mesmo bonde, de São Paulo para trabalhar na TV Globo, em 1970. Viemos no meio de um grupo de dez atores. O Tony me encanta. Eu fico olhando para ele e ele me emociona. Contraceno muito bem com ele, porque ele se doa muito e eu ouço o que ele fala. A maioria dos atores tem que aprender que, quando você ouve o outro, você responde. A maneira mais fácil de saber o texto é ouvir o que o seu companheiro está falando. Enfim, na novela, eu ficava profundamente emocionada. Ele era meu irmão, nós tínhamos uma relação maravilhosa. Eu, na vida real, tenho uma relação de amor com o meu irmão, que é músico, compositor e maestro em São Paulo. Era uma relação muito boa. Eu já tinha reencontrado o Tony em outra novela (‘A Regra do Jogo’) em que eu era a dona do morro e ele, meu namorado. Também o reencontrei em uma novela do Silvio de Abreu em que eu era a dona de uma pizzaria (‘A Próxima Vítima’). Então, ele tem sido meu companheiro em vários trabalhos. É sempre com muito prazer, muita tranquilidade e orgulho que eu contraceno com um dos maiores atores brasileiros, que é o Tony Ramos. Maior alegria é fazer cena com ele. É uma pena que nós só tivemos quatro cenas juntos em ‘Terra e Paixão’.
Alguma cena foi mais marcante nesse trabalho para você?
O Manoel Carlos fez com que o meu namorado na trama, o Expedito (Rafael Calomeni), me traísse com a minha nora, a personagem da Paloma Duarte. Mas aquilo magoou profundamente a Lorena. Ela nunca achou que isso seria por conta da idade, porque sempre se achou jovem, bonita e exuberante. E eu falei com o Maneco que ele poderia fazer um final feliz para essa história, porque, às vezes, o que acontece é isso: namorados mais jovens acabam traindo, arrumando outra mulher mais jovem, nunca da sua idade. E aí eu pedi para ele não me tirar o namorado, porque eu estava chateada da personagem ficar sozinha. A Lorena começou e iria terminar a novela sozinha, porque havia o preconceito ou porque era ‘natural’ entender que aquele homem tinha que ter uma mulher mais jovem. E ele falou: ‘Não fique assim. Eu vou guardar uma surpresa para você’. E a surpresa ele deixou para o último capítulo, na hora da gravação. Era uma grande festa que estava sendo dada no colégio e, na nossa mesa, estava toda a família reunida. De repente chega um ator por trás de mim e pergunta se pode sentar naquela mesa, algo assim. E quando eu olho, esse ator é o Reynaldo Gianecchini. O Reynaldo havia sido lançado no ano anterior, na novela do Manoel Carlos; era o ator mais cobiçado. Então, ele era o crème de la crème que eu poderia imaginar. Então, a Lorena trocou o Expedido pelo personagem do Reynaldo Gianecchini. Eles começam namorar ali na festa, ou seja, mostrou para o público que ela conseguia, sim, despertar o desejo de outra pessoa. Eu fiquei super feliz. Foi tipo uma ‘bofetada com luva de pelica’ que o Manoel Carlos deu na novela, dizendo que tudo bem, aquele rapaz não ficou com ela, mas existiriam outras pessoas. E pelo jeito, o personagem do Reynaldo Gianecchini jamais faria nada que magoasse a Lorena, porque ele era um homem muito do bem.
De volta a partir do dia 29 de maio, no ‘Vale a Pena Ver de Novo’, ‘Mulheres Apaixonadas’ tem autoria de Manoel Carlos, com colaboração de Fausto Galvão, Vinícius Vianna e Maria Carolina. A novela tem direção de núcleo e geral de Ricardo Waddington e direção geral de José Luiz Vilamarim e Rogério Gomes, com direção de Ary Coslov e Marcelo Travesso.