O afeto dá a liga nas relações entre os personagens em ‘Encantado’s’, série que estreia dia 2, na TV Globo. Mas, se o humor reina na trama, em meio às muitas trapalhadas e as relações entre colegas de trabalho e a família Ponza, também existe espaço para o romance no supermercado que dá nome a série. Já no primeiro episódio da história somos apresentados a FlashBlack (Digão Ribeiro) e Pandora (Dandara Mariana).
Afilhado de Olímpia (Vilma Melo) e Eraldo (Luis Miranda), o mestre de bateria da Joia do Encantado e monitor das câmeras de vigilância do supermercado fica fascinado com a chegada de Pandora, caixa recém-contratada do estabelecimento. Com isso, além das situações que pautam cada episódio e da saga permanente dos irmãos protagonistas, a história de amor entre FlashBlack e Pandora dá pano pra manga.
Inexperiente no quesito relacionamento, ele tem dificuldades de revelar seus sentimentos à amada, por isso, ambos acreditam não haver reciprocidade na relação e vivem com receio de se entregar um ao outro. Entre trocas de olhares e aulas de tamborim, os dois flertam e passam a suspirar um pelo outro ao som da canção ‘Deixa acontecer’. Eternizada pelo Grupo Revelação, a música diz em um dos versos: “Deixa que o amor encontre a gente, nosso caso vai eternizar”, como um lembrete ao casal, mas cabe aos personagens Pedro (Dhonata Augusto) e Crystal (Ludmillah Anjos) a tentativa de intermediar o relacionamento com dicas e alfinetadas para os colegas, que acabam se atrapalhando e se desencontrando com os métodos sugeridos.
“O público pode esperar uma linda história de amor. Pandora e FlashBlack têm um encontro muito bonito e são dois personagens que carregam uma ingenuidade. O Flash apresenta um novo universo para a Pandora. Ela vê nele um homem que até então desconhece. O supermercado como um todo abre os olhos da Pandora para um outro mundo, e o Flash é muito responsável por isso”, comenta Dandara Mariana.
Neste outro mundo, o relacionamento de Pandora com o noivo, Nelsinho (Caito Mainier), acaba sendo questionado. Isso porque o cara é um sem noção que espera que ela dê conta de tudo na sua vida e não percebe a mulher incrível que tem ao seu lado. Já FlashBlack, por sua vez, não se incomoda com a falação característica da amada e a todo tempo a incentiva e apoia. Ao longo dos episódios, o casal promete despertar a torcida do público.
Além da paixão pela nova caixa do supermercado e pela bateria da Joia, FlashBlack ainda guarda o sonho de se tornar um cineasta. Pelos monitores da sala de vigilância, enxerga as imagens das câmeras do estabelecimento com o olhar da sétima arte: faz curtas-metragens com takes de corredores, closes de produtos, ângulos de clientes e afins. Na preparação para o personagem, Digão Ribeiro mergulhou no universo do samba. Inserido em novas rotinas e comandos da função musical, o ator criou vínculo com os colegas de cena, que são, em sua maioria, componentes da bateria da União da Ilha do Governador, na realidade. O ator ainda passou por um treinamento com os músicos da Arrastão de Cascadura, uma das escolas parceiras da equipe de produção.
O ator conta que interpretar o personagem é um grande presente em sua vida. “Ele representa não só uma geração, mas também uma classe de homens pretos que não se veem na tela, com o seu biotipo, com o seu estilo, com o seu jeito de falar e de pensar. Eu sinto que poder ser eu, fazendo o FlashBlack, é uma honra porque ele é um espelho muito próximo”, observa o ator. “O FlashBlack é muito sonhador, ele é um pequeno príncipe conservado pela família, pelos amigos e pela comunidade. Isso fez com que ele crescesse na essência de uma pessoa boa, de bom caráter, de bom exemplo”, explica.
Nas entrevistas abaixo, os atores que dão vida ao casal falam mais sobre seus personagens.
‘Encantado’s’ é criada por Renata Andrade e Thais Pontes, e escrita em parceria com Chico Mattoso e Antonio Prata, responsáveis pela redação final. A primeira temporada da série tem direção artística de Henrique Sauer e direção de Deo Cardoso e Naína de Paula. A produção é de Juliana Castro e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.
Entrevistas com os atores
Dandara Mariana (Pandora)
Como foi o processo de preparação para viver essa personagem?
Foi muito especial a preparação desse trabalho. A gente virou uma trupe e se conectou de uma forma muito legal. Fomos ao Arrastão de Cascadura, que é uma escola de samba da série D (do Carnaval carioca) e fez todo um laboratório com eles. A gente vivenciou o Carnaval e pôde ver de perto o que é uma escola pequena, que passa por dificuldades para se apresentar e o quanto essas pessoas são guerreiras, o quanto amam o Carnaval e como é precioso o amor pela maior festa popular do mundo. É tão legal também o contraponto dessas pessoas. A gente não para pensar que, durante o ano inteiro, esses personagens do Carnaval têm uma outra vida, trabalham com outras coisas. A gente teve essa troca que foi muito legal.
O que a Pandora tem de particular, na sua opinião?
A Pandora é uma garota esperançosa, muito cheia de fé, muito batalhadora. O primeiro episódio é a apresentação dela no supermercado. Ela estuda, faz faculdade, é muito batalhadora. Eu acho que não é à toa que ela tem esse nome. Além disso, Pandora não para de falar, ela é ansiosa, toda hora emenda um assunto no outro, é atrapalhada (risos).
Você acha que entrar para o Encantado’s transforma a vida dela?
Eu acho que ela vive um relacionamento muito complicado, acho que essa é “a grande caixa de Pandora”. Na verdade, a representação da caixa de pandora é: quando você abre, saem todos os males do mundo. Eu acho que ela vive, com o noivo Nelsinho, um mundo muito complicado, muito angustiante e ela entra nesse mercado para abrir seus horizontes. Ela tem essa representatividade nesse lugar. Ela é uma garota feliz apesar de tudo, é encantadora e vai se encantar nesse mercado.
E o que ‘Encantado’s’ tem de diferencial para você?
Eu acho que ‘Encantado’s’ é sobre identificação, sobre representatividade. ‘Encantado’s’ fala sobre o trabalhador brasileiro, que batalha, que não perde a alegria e o sorriso no rosto. Essa é a nossa característica, isso é o Brasil. Apesar de tudo, de passar por dificuldades financeiras, de tudo o que a gente vive, a gente encontra espaço para sorrir, a gente encontra espaço para fazer piada. Eu acho que isso é ‘Encantado’s’.
O que o público pode esperar de ‘Flashdora’?
Uma linda história de amor. A Pandora e o FlashBlack têm um encontro muito bonito de dois personagens que carregam uma ingenuidade. Os dois têm um olhar ingênuo. E o Flash apresenta um novo universo para a Pandora. Ela vê nele um homem que até então ela desconhece. Então, o supermercado como um todo abre os olhos da Pandora para um outro mundo e o Flash é muito responsável por isso, através da lente dele, não só da lente da câmera, mas também dos olhos. A Pandora se ilumina também.
Digão Ribeiro (FlashBlak)
Como está sendo a experiência de interpretar o Flash?
A ideia de ele poder conversar com o cinema e com o Carnaval, me atravessa muito. Eu sou rei de bateria de um bloco de Carnaval da escola de teatro mais antiga da América Latina, a Martins Pena; isso é muita onda pra mim. O nome do bloco é Filhos da Martins. Então, eu tenho uma ligação muito forte com o Carnaval. Desde criança, minha mãe sempre desfilou em escola de samba, ela era uma das integrantes mais fiéis da Renascer de Jacarepaguá, que é uma escola do grupo em que a Joia do Encantado se encontra. Isso me dá muita nostalgia em relação ao Carnaval. E o cinema é a forma como eu vejo o mundo. Quando o FlashBlack tem essa forma de enxergar o mundo através da sétima arte sou eu a todo momento, olhando para ele e trazendo ele para próximo, como se a gente estivesse conversando através de um espelho.
O que esse personagem tem de particular, na sua opinião?
Eu acho que a forma como ele enxerga as coisas e como ele lida com essas questões são muito puras e conversam muito com a realidade de alguém que se permitiu sonhar. Eu acho que a gente vai poder assistir um exemplo claro e imagético de uma pessoa com direito a sonho, vai ser muito bonito… uma pessoa com a figura do FlashBlack. Acho que a gente não pode ignorar que a gente vive num país racista e com muitas outras questões. O racismo vem totalmente do visual e do que a gente enxerga. E poder enxergar um corpo como o do FlashBlack sonhando, amando e vivenciando tudo o que ele vai vivenciar nessa primeira temporada é olhar e falar: “caraca, é isso”. Esses corpos que estão a nossa volta querendo sonhar, querendo oportunidade de estudar, de viver são muito potentes.
Você acredita que o personagem deixa uma mensagem então?
Ele com o sonho de querer mostrar isso me instiga ainda mais porque ele quer ser cineasta, mas ele é músico, artista, afetuoso, ele é amigo. As qualidades dele são qualidades que as pessoas precisam entender que existem, as pessoas que têm a figura dele, de “badboy”, pretos “pouco papo”. Quando a gente fala “pretos pouco papo” a gente se refere a uma classe que já não aguenta mais explicar, mais falar, mais sofrer e às vezes parece dura. Só que não é dura, só está com uma casquinha para não se permitir acessar ao tesouro com tanta facilidade. E o FlashBlack é a exemplificação desse tesouro porque ele consegue atravessar todos esses lugares, tanto as pessoas que precisam se identificar, quanto as pessoas que se identificam. E traz uma reflexão sobre a nossa forma de enxergar a vida com mais afeto, com mais sonhos e coisas positivas para uma geração que está voltando a pensar e a rever suas questões.
Você acredita que o Flash seja um mocinho?
Ele é um mocinho. Eu demorei muito muito muito para aceitar que ele era um mocinho por conta dessas questões de autoestima, de crenças de trabalho. Eu demorei um pouco para entender que eu poderia fazer protagonistas, por exemplo. E aí eu fiz o filme “Ursinha” que me colocou nesse lugar, só que conversando com aquele gênero de Favela movie, explorando o corpo preto como um lugar exótico e eu falei: “tá, posso chegar, mas vai ser para isso porque talvez seja isso que te faça bem”. Pensei assim para que eu não me sentisse frustrado comigo mesmo. Quando surge o FlashBlack é tipo: “Não, negão. Você pode fazer um galã”. A história dele com a Pandora segue durante a temporada inteira. Além do conflito do Carnaval, tem uma história em cada episódio, mas a história desse romance vai circulando por todos eles e passa por todos os personagens. E é a única história de amor que a gente torce para dar certo de fato.
E o relacionamento com a Pandora? O que acha que faz ele “travar” quando está com ela?
Eu acho que é esse lugar da insegurança porque FlashBlack representa o homem preto num lugar que a gente ainda não viu, de fragilidade, de paixão, de afeto, de questões… então, quando a gente enxerga de perto isso a gente vai entendendo pequenas questões daquela figura que são muito humanas. Ele é criado por vó, tem a família e os amigos todos ao redor, é muito protegido. Então, quando é dentro do ambiente de trabalho dele, um lugar que ele é mais familiarizado e fica 24h, dá uma estremecida quando a paixão o toma de fato. A gente não sabe por que, mas homens pretos também têm suas questões. Eu acho que o FlashBlack é atravessado por muitas coisas com as quais as pessoas vão se identificar, cada um da sua forma.