Quem acompanha séries de streaming como telespectador e, principalmente, quem negocia séries de streaming como criador, provavelmente, está decepcionado com a divulgação e com o desenvolvimento da série “Maldivas” (de Natália Klein), lançada recentemente pela Netflix. Afinal, onde estão as inúmeras exigências com a sala de roteiro da série “Maldivas”?
Quando divulgada como comédia dramática sobre superficialidades de grupo de moradoras de um condomínio de luxo da Barra da Tijuca (Rio de Janeiro), a la GNT, a produção afastou homens e mulheres que não se interessavam por esse universo. Por que não soltar que também havia suspense e mistério ali?
O trailer voltou a empolgar ao mostrar que as coisas seriam maiores e que uma das peruas seria assassina de uma das suas vizinhas, mas logo ausência de créditos, faixa de widescreen em produto 4K e narração expositiva pré-anunciaram que o que estava por vir no primeiro episódio era bomba.
Com direção artística que parece ser baixo orçamento do GNT, “Maldivas” transita por alguns episódios fazendo a gente acreditar que Liz (Bruna Marquezine) pode ter matado sua própria mãe, Léia/Patrícia (Vanessa Gerbelli), o que não acontece com as outras suspeitas, Kat (Carol Castro), Milene (Manu Gavassi) e Rayssa (Sheron Menezzes).
Moradoras de apartamentos apertados de classe média (sem luxo algum), Liz, Kat, Milene e Rayssa possuem péssimos desenvolvimentos com seus respectivos pares românticos, Miguel (Ricky Tavares), Gustavo (Guilherme Winter), Victor Hugo (Klebber Toledo) e Cauã (Samuel Melo), o que piora com a narração infantil e irritante de Verônica (Natália Klein).
Embora a gente não entenda como é possível a entrada de Liz no jardim e na reunião do Condomínio Maldivas assim sem ter sido anunciada, já que, teoricamente, há segurança no luxo, a protagonista faz o público prestar atenção nos detalhes e amarrar os pontos soltos, mas ninguém merece mocinha-detetive.
Sob didatismo de Liz e Verônica, o investigador Denilson (Romaní) é colocado como o burro da polícia, que revela que Léia/Patrícia está viva e o mistério/suspense, até então, interessante, fica sem pé, nem cabeça. Então, faz a série não se enquadrar nem como comédia, nem como drama, nem como mistério/suspense.
Apesar disso, Verônica é uma das melhores personagens ali dentro. O problema é que não dá pra entender nada sobre sua motivação para esconder Léia/Patrícia, nem problemas familiares envolvendo Liz. Não dá pra dizer que é mistério/suspense a ser resolvido em uma eventual segunda temporada porque é desenvolvimento ruim mesmo.
Ao se aprofundar nos relacionamentos amorosos de Liz & Miguel, Milene & Victor Hugo, Kat & Gustavo e Rayssa & Cauã, “Maldivas” também peca no desenvolvimento, pois não dá pra entender bulhufas da origem de casos extraconjugais como Cauã & Cauê (Filipe Ribeiro) e Rayssa & Victor Hugo. Contudo, há ótima trilha sonora e ainda interpretações.
Mesmo over, Carol Castro e Sheron Menezzes brilham como Kat e Rayssa. As mais gratas surpresas são Alejandro Claveaux como Rafael e Samuel Melo como Cauã. Guilherme Winter também se destaca mostrando toques cômicos como Gustavo, apesar de ter que proferir diálogos repetitivos em um personagem-presidiário pequeno demais para si.