Dona de um talento incontestável, Débora Falabella mostrou sua grandeza como atriz logo em um de seus primeiros trabalhos na TV. Em ‘O Clone’, ela viveu a tímida Mel, que ao longo da história enfrentou os problemas da dependência química. Por mais sucessos que colecione na carreira, a novela de Gloria Perez sempre terá um lugar especial na memória da atriz e do público. “Até hoje as pessoas seguem falando comigo sobre esse trabalho. Claro que além de ‘O Clone’ fiz uma outra novela de muito sucesso, que foi ‘Avenida Brasil’, e as pessoas se lembram muito dos trabalhos mais recentes. Mas a Mel foi uma personagem impactante para a época e até hoje eu às vezes escuto histórias de pessoas que estavam passando por problema com dependência química e falam da Mel de uma forma muito carinhosa, dizendo que a personagem ajudou para que o diálogo fosse mais fluido em casa, com a conscientização relacionada a esse problema. Fora que a novela passou em muitos países, acho que foi uma das obras mais vendidas da Globo, então recebo mensagem do mundo inteiro onde a novela foi um sucesso”, conta a atriz. Em entrevista, Débora recorda um pouco mais sobre o trabalho em ‘O Clone’.
Exibida no ‘Vale a Pena Ver de Novo’, ‘O Clone’ é escrita por Gloria Perez, com direção de núcleo e geral de Jayme Monjardim, direção geral de Mário Márcio Bandarra e Marcos Schechtmann, e direção de Teresa Lampreia e Marcelo Travesso.
ENTREVISTA COM DÉBORA FALABELLA
De que forma viver a Mel foi importante na sua vida e carreira?
O que mais me tocou foi poder falar sobre o tema da dependência química sem amarras e sem tabus, humanizando a situação de um dependente químico e da sua família. Quando o público se identifica com o personagem, se torna muito mais forte para falar sobre o assunto e procurar ajuda. Eu fico muito feliz até hoje quando pessoas que passaram por uma situação parecida, me encontram e dizem que se enxergaram naquela personagem, se sentiram identificadas e menos sozinhas.
Como foi construir a relação da Mel com o Xande junto do Marcello Novaes? O público torceu muito por eles na época da exibição original, certo?
Sim, porque eu acredito que a relação dos dois era muito verdadeira. O Xande era um grande apoio para a Mel naquele momento e o Marcello Novaes criou um personagem muito amoroso, delicado, muito real. Foi muito importante entender o lado de quem convive e tem uma relação com um dependente químico, e o Marcello fez um trabalho muito bonito nesse sentido. Você consegue enxergar o quanto de força esses dois precisam ter. Foi muito bom trabalhar com ele, que depois virou um grande companheiro em outras novelas, a gente fez também ‘Avenida Brasil’ juntos. Ele é um ótimo ator e fez um trabalho muito bonito em ‘O Clone’.
Como descreve a Mel e sua relação com a família?
A Mel era uma adolescente tímida, se sentia muito pressionada pela expectativa que sua família colocava em cima dela, e, além disso, ela estava se descobrindo, começando a se relacionar, e não encontrava em seus pais – que estavam passando também por uma situação complicada -, um lugar de troca e apoio.
Como está sendo rever ‘O Clone’ vinte anos após a exibição original?
A teledramaturgia faz parte da nossa cultura e muitas novelas foram marcantes para as pessoas. Acho que ativar essa memória e relembrar as boas histórias é celebrar esse momento da nossa cultura. ‘O Clone’ foi uma novela muito marcante, eu tenho muito orgulho de ter feito parte dela, vendo pelo lado mais pessoal é como se eu voltasse um pouco no tempo, minha vida era diferente e minha experiência como atriz também. Assistir a esse trabalho hoje também me faz relembrar a minha história e esse momento da minha vida.
Como foi a preparação para viver a Mel?
Eu me lembro que na época eu participei de alguns encontros de dependentes químicos e familiares que foram importantíssimos para entender a Mel. Falamos com especialistas, assistimos a filmes e documentários. A história da personagem foi muito bem contada, o que facilitou na construção dela. Eu conheci a Mel antes do envolvimento com as drogas e aí eu percebi o que a levou para esse caminho, a preparação depende muito do texto e nesse sentido a Gloria (Perez) fez um trabalho lindo com essa personagem.
Qual a principal lembrança que você tem do período de gravação da trama? Como eram os bastidores e a relação com o elenco?
Faz bastante tempo, mas eu lembro que tive excelentes parceiros de cena, o clima nos bastidores era ótimo e isso era essencial porque a Mel vivia situações muito difíceis. Eu era muito jovem e tive que entender como me relacionava com essa personagem, como carregava o peso dela para a vida.
Mesmo antes dessa reexibição da novela até hoje o público fala desse trabalho com você? Como são essas abordagens?
Até hoje as pessoas seguem falando comigo sobre esse trabalho. Claro que além de ‘O Clone’ veio uma outra novela de muito sucesso, que foi ‘Avenida Brasil’, e as pessoas se lembram muito dos trabalhos mais recentes. Mas a Mel foi uma personagem impactante para a época e até hoje eu às vezes escuto histórias de pessoas que estavam passando por problema com dependência química e falam da Mel de uma forma muito carinhosa, dizendo que a personagem ajudou para que o diálogo fosse mais fluido em casa, com a conscientização relacionada a esse problema. Fora que a novela passou em muitos países, acho que foi uma das obras mais vendidas da Globo, então recebo mensagem do mundo inteiro onde a novela foi um sucesso.
Você é muito autocrítica ao rever um trabalho antigo?
Eu não sou autocrítica com algo que foi feito há 20 anos, acho que hoje em dia sou muito mais generosa comigo não sendo autocrítica com trabalhos tão antigos. Acho muito mais interessante observar, entender como era diferente o frescor, a fragilidade em cena. Muitas coisas a gente ganha com a idade e com o amadurecimento em relação à profissão, mas outras a gente também perde. Ver essa personagem, assistir uma atuação em que eu era tão jovem e tinha começado na televisão, entendendo esse veículo, é muito importante para desapegar de certas coisas que hoje em dia talvez eu tenha acumulado. É ótimo assistir, acho engraçado entender as opções que eu buscava em cena, quais eram as decisões que eu tomava para determinadas cenas e que talvez hoje eu tomaria outras, observar o meu trabalho através do tempo e também o trabalho dos outros atores. É lindo poder ver essa evolução e as escolhas que a gente fez naquela época.