Fonte da maior concentração de fauna das Américas e maior planície alagada do mundo, o Pantanal foi inspiração para a obra escrita há mais de 30 anos por Benedito Ruy Barbosa e que chega à TV Globo no dia 28 de março de 2022, no horário das nove, em uma nova versão escrita pelo autor Bruno Luperi, com direção artística de Rogério Gomes. A obra é uma saga familiar que tem o amor como fio condutor e a natureza como protagonista.
Do mergulho entre tantas lições, evidentes ou metafóricas, junto à profundidade dos personagens que navegam pelo mar de detalhes que constroem a novela, surge o elo que sela o sucesso histórico da trama. “O Pantanal resgata heróis. É uma característica muito forte da obra do meu avô, que tem um caráter épico e fala sobre valores com personagens fortes e inspiradores. O José Leôncio é um personagem que te inspira, que te faz acreditar que o mundo pode ser melhor, que existem pessoas que são corretas, dignas. Ainda assim, ele comete seus erros. A novela também tem esse caráter humano, que é o que mais me move, porque gera empatia. Ninguém é perfeito. A possibilidade de se apaixonar e odiar o protagonista e o antagonista é real”, comenta o autor Bruno Luperi.
Como toda adaptação, a história original passa por mudanças e atualizações necessárias para conversarem com uma nova realidade e uma nova geração. As atualizações, claro, não se limitam ao texto, mas também às imagens fascinantes do Pantanal que serão atualizadas. “Hoje em dia, temos a tecnologia a nosso favor. Na época, Jayme Monjardim conduziu muito bem a novela, foi ousado, fez um desenho de produção diferente, mesmo com todas as dificuldades. Hoje, as câmeras são menores, temos drones, câmeras para dentro d’água, a qualidade de captação é outra, é tudo muito mais moderno. Você consegue captar imagens do Pantanal de maneira diferente daquela época, quando eles não tinham esses recursos”, diz o diretor artístico Rogério Gomes.
A história
No tronco central dessa jornada, repleta de dramas familiares e conflitos, está a história do velho Joventino (Irandhir Santos) e seu filho, José Leôncio (Renato Góes / Marcos Palmeira). A lida como peão de comitiva os levou para o Pantanal, onde Joventino aprendeu a lição mais importante de sua vida: que a natureza pode mais do que o homem. Ao confiar o seu destino nas mãos da natureza, o peão compreende que nada se conquista através da força, ou no laço, como ele acreditava. Nascia, assim, a lenda do maior peão de toda aquela região. O velho Joventino ficou afamado por trazer os bois selvagens, os ditos marruás, no feitiço. Porém, foi logo após essa compreensão que Joventino desapareceu sem deixar rastros, deixando o filho, José Leôncio, sozinho à espera de seu pai.
José Leôncio segue no comando da fazenda e, em uma viagem ao Rio de Janeiro, conhece Madeleine (Bruna Linzmeyer / Karine Teles), com quem se casa. Os dois se mudam para o Pantanal onde nasce Jove (Jesuíta Barbosa). A passagem de Madeleine pela fazenda, porém, é um caos. Com saudade da vida urbana e da mordomia da mansão de seus pais no Rio de Janeiro, a jovem não se acomoda àquela sina de solidão que é ser mulher de peão. Com o marido sempre em comitivas, ela se vê obrigada a conviver com Filó (Leticia Salles / Dira Paes), funcionária da casa a quem pouco conhece e nada confia. A verdade é que Madeleine não entende bem a relação de Filó com José Leôncio, tão pouco a relação dele com Tadeu (Lucas de Oliveira Santos/ Gustavo Corasini/ José Loreto), filho de Filó e afilhado do patrão. O que Madeleine não sabe é que José Leôncio e Filó tiveram um envolvimento, no passado, durante as viagens do peão.
Madeleine foge do Pantanal levando Jove, ainda bebê, de volta para a mansão da família Novaes. O menino cresce longe do pai, que se viu incapaz de brigar pela guarda do filho. José jamais deixou de cumprir suas obrigações legais, enviando fielmente uma quantia excepcional de pensão mensal, sem se dar conta que onde sobra dinheiro, falta o afeto. Jove cresce acreditando que seu pai havia morrido, enquanto o pai, sem saber da mentira criada pela ex-mulher, não procurava o filho, acreditando ter feito o melhor ao se afastar de vez de Madeleine.
Na ausência de Jove, o fazendeiro encontra em Tadeu um herdeiro, mais do que para as suas terras, para os valores e tradições de sua família. Com a partida de Madeleine, Filó revela a José Leôncio que Tadeu é seu filho. Apesar da alegria dos três – em especial de Tadeu -, a informação é guardada por eles à sete chaves. De forma que, da porta para fora, Tadeu segue apenas como afilhado do patrão, o que lhe dói profundamente.
Duas décadas se passam marcando a mudança de fase na novela. Jove descobre que seu pai está vivo e vai à sua procura. É desse encontro e de sua enorme expectativa, embalados por uma festança para todo o povo da região da fazenda, que começam os grandes conflitos entre os Leôncio. Embora desejem profundamente viver a relação entre pai e filho, José Leôncio e Jove são confrontados por um abismo de diferenças comportamentais e culturais, inaceitáveis aos olhos um do outro. Não bastasse isso, o rapaz ainda precisa lidar com o ciúme de Tadeu, que carrega no peito o vazio de não se sentir um “legítimo Leôncio”. Amado, mas não reconhecido. Para completar a confusão familiar, em determinado momento todos são surpreendidos com a chegada de um terceiro filho para disputar o amor e a admiração deste pai: José Lucas de Nada (Irandhir Santos) chega à fazenda por obra do destino e descobre ali os laços familiares que nunca teve.
O cenário pantaneiro abriga ainda o encontro entre Jove e Juma Marruá (Alanis Guillen). Filha de Maria Marruá (Juliana Paes) e Gil (Enrique Diaz), a jovem não abre a guarda para ninguém. Apesar da pouca idade, Juma é uma mulher forte, que aprendeu com a mãe a se defender do “bicho homem”, a espécie mais perigosa que pode vir a rondar a tapera onde mora. Também pudera. Foi o bicho homem que levou seu pai, sua mãe e cada um de seus irmãos. Forjada pela desconfiança, Juma se torna uma mulher selvagem e arredia. “Não existe quem consiga domar aquela onça”, dizem. Porém, as mesmas razões que afastam Jove de José Leôncio, o aproximam de Juma. Entre eles, uma linda paixão se inicia. Um amor puro, fruto desse encontro improvável e natural, que marca para sempre o destino de todos. Contudo, não demora para que as diferenças culturais e sociais do casal tornem a relação em muitos níveis complicada e bastante improvável. Para a alegria de uns e lamento de outros.
Em cada detalhe deste conto, há um fator comum: a necessidade de aceitar a natureza como ela é. E o grande porta-voz deste ensinamento é o Velho do Rio (Osmar Prado). Um encantado – uma entidade sobrenatural –, que na maior parte do tempo assume a forma de uma sucuri (a maior de todo o Pantanal), mas que também se apresenta na forma humana. O Velho do Rio é responsável por cuidar não só daquelas terras e dos animais que ali habitam, mas por zelar pelas relações interpessoais que se desenrolam por lá. Para ele, o homem é o único ser que “queima as árvores que lhe dão o ar e envenena a água que bebe”. Essa e outras lições vão moldando os caminhos dos personagens, ao passo em que vão apresentando soluções e mais mistérios àquele universo. E ele não é o único. Os moradores da região acreditam fielmente que Maria Marruá (Juliana Paes) vira onça, principalmente, quando precisa defender os seus, ou “quando fica com réiva“. E não se espantariam se descobrissem que o “dom” teria sido passado à Juma.
Além dos conflitos entre os personagens, a música é outro grande destaque desta história. Foi há 30 anos e continuará sendo agora, no texto de Bruno Luperi e na direção de Rogério Gomes. A presença de Almir Sater, que esteve na versão escrita por Benedito, e retorna na nova versão, é um capítulo à parte. Almir vive o chalaneiro Eugênio, que leva e traz as pessoas ao Pantanal e, por isso, passa por quase todos os núcleos. Dentre os duetos especiais, o público terá a oportunidade de ouvi-lo tocar ao lado de Chico Teixeira (filho do parceiro de estrada de Almir, Renato Teixeira), que dará vida ao peão Quim na primeira fase da novela. Já durante as famosas rodas de viola que marcaram a segunda fase da versão original, Eugênio participará ao lado de Tibério (Guito) e Trindade, papel de Gabriel Sater, que encara o desafio de refazer o personagem original de seu pai.
‘Pantanal’ é escrita por Bruno Luperi, baseada na novela original escrita por Benedito Ruy Barbosa. A direção artística é de Rogério Gomes, direção de Walter Carvalho, Davi Alves, Beta Richard, Cristiano Marques e Noa Bressane. A produção é de Luciana Monteiro e Andrea Kelly, e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.
Dos Estúdios Globo para o coração do Brasil
Uma visita à fazenda de Almir Sater foi essencial para a definição dos locais de gravação de ‘Pantanal’. O autor Bruno Luperi, o diretor artístico Rogério Gomes, o cenógrafo Alexandre Gomes e a gerente de produção Luciana Monteiro estiveram no Pantanal ainda em 2020, após o anúncio da nova versão da novela original de Benedito Ruy Barbosa, para buscar os locais mais bonitos – e viáveis – para esta produção.
Almir Sater, que deu vida ao peão Trindade na novela de Benedito, agora interpreta o chalaneiro Eugênio, no texto de Bruno. O cantor e ator comprou as terras que possui hoje no Pantanal há 30 anos, logo que as gravações, dirigidas por Jayme Monjardim, terminaram. “‘Pantanal’ foi um divisor de águas na minha vida. Comecei a trabalhar muito, como nunca antes, ganhei meu dinheirinho e logo comprei essa terra aqui onde estamos. Insisti 10 anos para que a antiga proprietária me vendesse, antes da novela. Quando fiz ‘Pantanal’ ela aceitou. Mas precisei comprar os fundos da fazenda primeiro para ela me vender essa parte na beira do rio. Aí fui virando fazendeiro também”, comenta.
Ao receber a equipe da nova versão em sua fazenda, Almir contou que depois de muita procura, Jayme havia escolhido aquele local. E que eles não encontrariam nada muito diferente do que ele encontrou na época. Portanto, ainda hoje, aquelas seriam as locações ideais para as gravações. “Eu soube que iriam regravar, achei bacana. De repente, estou em casa, eles chegam para nos visitar. Estavam escolhendo locações e aí vi que era sério. Eu falei: olha, o Jayme andou seis meses procurando um local até que ele chegou aqui. Você partir daqui já parte de um lugar que foi bom. Eles foram visitar outros lugares, mas sentiram que era aqui. Apresentamos fazendas próximas, pessoas que poderiam receber a equipe e tudo deu certo”, complementa Almir.
Para Alexandre Gomes de Souza, cenógrafo, as fazendas que conheceram na ocasião reuniam o pacote de cenários que precisavam para representar da melhor maneira as cenas da novela. “Quando viajamos ao Pantanal para a escolha das locações, não sabíamos exatamente o que esperar. Sabíamos, é claro, da exuberância e da riqueza da região e era o que buscávamos. Ao chegar, visitamos algumas fazendas e conhecemos toda aquela região da Nhecolândia. Ao nos depararmos com tudo aquilo, não havia dúvidas de que havíamos encontrado o local ideal, que não por coincidência foi o mesmo local onde as gravações aconteceram há mais de 30 anos. É um dos lugares mais bonitos do Pantanal e, com o empenho de toda a equipe, da produção e da direção, conseguimos viabilizar as gravações lá novamente. Foram seis fazendas que nos deram suporte direto, sendo três delas usadas como locação, contendo rio, casa, árvores, descampado, baías e tudo mais que era fundamental para as nossas cenas”.
O local escolhido fica a cerca de quatro horas da cidade mais próxima. Ao redor, somente fazendas e natureza selvagem. As fazendas dão apoio à produção, seja para hospedagem, para gravação ou almoxarifado. “Foram 12 caminhões para contemplar todo o material de produção, produção de arte, cenografia, figurino, caracterização e tecnologia – estimamos algo em torno de 144 toneladas de material. Tivemos que fazer o transbordo para caminhões 4X4 a fim de levar para dentro do Pantanal. Para cada caminhão baú, usávamos em média três ou quatro caminhões 4X4”, conta a gerente de produção Luciana Monteiro, explicando a logística da viagem,.
Entre funcionários das fazendas, transporte, equipe e elenco, cerca de 150 pessoas estiveram envolvidas diretamente com as gravações no Pantanal no segundo semestre de 2021. Toda essa movimentação foi necessária para gravar “apenas” de 30 a 40% da obra. “ Estive no Pantanal três vezes antes de começarmos a gravar. Muita coisa estava prevista. Sabíamos que seria difícil, por exemplo, a questão de combustível. Era preciso ter que comprar e estocar para atender gerador, barco; trazer os equipamentos e as pessoas; o transbordo de tudo que vem do Rio em caminhão baú… Mas ainda assim, sempre aparecia algum imprevisto”, comenta Luciana.
“A pressão que a gente tem é a do clássico que estamos colocando no ar. Uma obra enorme, uma novela que não é convencional. Uma logística muito diferente do que estamos habituados a fazer. Um lugar inóspito, com coisas que você não está acostumado a lidar nas grandes cidades. É um santuário. É impressionante. Isso te dá uma sensação de responsabilidade muito grande, de como você vai levar todas as pessoas pra lá e respeitar cada pedaço daquela terra, uma coisa incrível. A primeira produção foi genuína, uma coisa muito orgânica. O Pantanal é místico”, diz Andrea Kelly, gerente de produção de ‘Pantanal’.
Os bastidores da viagem para o Pantanal
“O Pantanal mexe com as pessoas. É como se ele tivesse o poder de acolher quem ele quer e afastar quem não quer”, comenta Rogério Gomes, diretor artístico da novela, celebrando que a equipe e o elenco foram bem recebidos pelo bioma desde que chegaram, em meados de 2021. A riqueza da fauna e flora da região são realmente um espetáculo à parte e poderá ser visto pelo público logo na estreia da novela.
Bruna Linzmeyer interpreta a carioca Madeleine, que chega ao Pantanal contrariada após se casar com José Leôncio (Renato Góes). A atriz se sente um pouco como a personagem. “Olhei tudo com uma certa lente para Madeleine, não estive no Pantanal como Bruna, turista, passeando. Lembro que o primeiro dia que acordei, vi que onde estávamos, de manhã, tinha uma quantidade gigantesca de pássaros, de barulhos que eu nunca tinha ouvido. É uma mistura de ser encantador e desesperador. Todos os dias eu pensava que o lugar não tem esquina. Você não caminha e vira. É uma continuidade de verde, de amarelo queimado, e tantas outras cores…”, comenta a atriz sobre as primeiras impressões que teve. Ainda sobre a rotina de gravações no local, Bruna ressalta: “o dia a dia é muito diferente do que estou acostumada, mas tudo isso é muito legal para a personagem e para o trabalho. Poder “usar” esses bichos, ter uma mão afastando uma mutuca, matando o mosquito… Isso eu vou poder levar para o estúdio. A Mirica, produtora de arte, arrumou um leque de palha lindo para a Madeleine. Existirão cenas dela se molhando com mangueira, gelo, água. As pessoas no Pantanal não se mexem muito, talvez seja uma maneira de conter energia. Eles estão mais acostumados, a Madeleine, não. Então, podemos colocar isso em cena, trazer essa vivência para o trabalho”.
Renato Góes, que faz par romântico com Bruna, ao interpretar na primeira fase o fazendeiro José Leôncio, também tirou proveito da vivência local para a construção de seu personagem. “Um mês antes da gravação, passei 15 dias no Pantanal. Liguei para uns amigos e expliquei que eu gostaria de conhecer o local. Fui com eles, passamos duas semanas. Nesses dias, fui para a casa do Almir Sater passar três dias e depois estive nas redondezas de Aquidauana, no Bosque Belo, a meia hora da cidade. Foi um impacto muito grande. É uma quantidade imensa de animais. Eu queria perder esse encantamento”, queria que meu personagem não tivesse um deslumbramento. José Leôncio está acostumado com biomas diferentes. E eu precisava quebrar isso. Portanto, esses 15 dias foram fundamentais”, revela o ator.
Fábio Neppo é Tião, que trabalha com Joventino (Irandhir Santos) e José Leôncio (Renato Góes); e é grande amigo de Quim (Chico Teixeira). O ator, que mora em São Paulo, passou mais de um mês na primeira vez em que esteve no Pantanal. “Foi difícil acostumar com o calor, sou de São Paulo, onde morei a vida inteira. E um desafio representar bem o peão, ainda mais se tratando dessa novela, desse tema, lembrando das pessoas que fizeram a primeira versão, é uma grande responsabilidade. Mas eu procuro sempre me divertir. Nas horas vagas, aproveitei para conhecer os pratos locais, como a sopa paraguaia, que descobri que não é uma sopa, mas sim um bolinho salgado, bem gostoso e bem tradicional”, comenta.
Já Chico Teixeira, que mora também em São Paulo, mas na área rural, se adaptou melhor ao calor, pois frequenta o Pantanal desde menino. “O Pantanal mudou minha vida. Fui para passar 15 dias, passei dois meses. O Almir (Sater) me pegou numa tarde, pediu para eu fazer uma base para ele estudar um solo de viola, e eu voltei tocando para São Paulo, destravei na música. E eu só sabia tocar um ou outro acorde antes. Eu e Gabriel (Sater) fomos criados como irmãos. São lindas as histórias que tenho de lá, é um encontro comigo mesmo, me energiza. Olhar o céu estrelado no meio do Pantanal, o banho de rio, tudo me marcou”, diz Chico, que é filho do músico Renato Teixeira.
“Pequenos grandes” detalhes no gigante Pantanal
A produção de uma novela pode ser comparada ao trabalho de uma orquestra. Se há um projeto amplo a ser admirado, são os detalhes que enriquecem o caminho e fazem do resultado algo tão especial. É neste contexto que se destacam os seis meses de pesquisa da produtora de arte Miriam Vianna – mais conhecida como Mirica –, mergulhando no universo pantaneiro até finalizar seu planejamento para a novela. Plano pronto, mais alguns meses para encomenda e confecção dos objetos de cena que trazem vida aos cenários e remetem à realidade vivida pelos fazendeiros, peões e moradores da região, levando para todo o Brasil características importantes da cultura de um dos biomas mais ricos do país.
Seja em externa, no Mato Grosso do Sul, ou nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, o departamento de arte é responsável por cada detalhe das cenas: a carne e as ferramentas de um churrasco; a sela da montaria; a rede da varanda; as bebidas da mesa de jantar; entre muitos outros itens. Uns mais comuns, outros mais peculiares. Para ‘Pantanal’, por exemplo, Mirica e sua equipe precisaram encomendar de uma artesã uma sucuri de quatro metros de comprimento. “Ela é maleável, temos que passar diariamente uma glicerina para não ressecar. Quando encomendamos, pedimos que houvesse a possibilidade dessa cobra entrar dentro da água”, conta a produtora.
O “dublê da sucuri” é carioca, mas muitos outros produtos Mirica fez questão de encomendar no Mato Grosso do Sul, de pequenos produtores locais, como é o caso de alguns itens que servem à fazenda de José Leôncio (Renato Góes/ Marcos Palmeira), à tapera de Juma (Alanis Guillen) e à chalana de Eugênio (Almir Sater). “Comprei a louça toda do povo Terena, produzida por indígenas da região. São travessas de cerâmica vermelha com desenhos indígenas para a fazenda, louças mais simples para a tapera e algumas sacolas que eles fazem de mercado, com desenhos lindos para a chalana, que encomendamos para homenagear esse povoado local. Quando entramos em contato com eles, tivemos ainda a oportunidade de conversar com o pajé e tirar algumas dúvidas sobre como são tratadas as pessoas que sofrem picadas de cobra ou são atacadas por animais, pois teremos em algumas cenas o que seria usado em casos como esses, já que o Velho do Rio em determinado momento irá ajudar uma pessoa, e explicará que aprendeu o ritual com indígenas”, diz Mirica, dando a dimensão da riqueza de detalhes do trabalho de seu departamento.
Como não poderia deixar de ser, a música tem um papel de destaque em ‘Pantanal’. Foi assim há 30 anos, na primeira versão, e será agora nesta nova versão. “O Papinha é um amante da música e queria um som legal, por isso a escolha dos violões foi tão importante. Ligamos para os artistas e perguntamos como estão acostumados a tocar. Fizemos um violão para o Tibério, Quim e Trindade. O Gabriel Sater nos mandou todas as especificações e encomendamos um igual ao dele, envelhecemos de forma que ficasse uma réplica. Até brinquei que ele não saberia dizer qual era qual. No caso do Almir, ele deixou a gente dar uma ‘envelhecidinha’ no violão dele. Portanto, é o único que usará seu violão próprio”, finaliza Mirica.
As cores do Pantanal representadas em cada personagem
Enquanto cenário e produção de arte enchem os olhos de quem gosta de reparar nos detalhes, o figurino não tem como se esconder, é o primeiro a ser visto e comentado. Na Globo desde 1995 – atuando como figurinista desde 2004 -, Marie Salles já assinou o figurino de grandes obras, como ‘Amor de Mãe’, ‘Avenida Brasil’, ‘Cordel Encantado’, ‘Novo Mundo’, entre outras novelas. Agora, na nova versão de ‘Pantanal’, a figurinista conta como ficou encantada com a explosão de cores que encontrou ao chegar por lá, em sua primeira viagem, e como procurou imprimir isso no trabalho.
“Foi uma das minhas primeiras impressões. Enxerguei essa natureza, seu ciclo, o nascer do sol, o caminho percorrido ao longo do dia e as tantas cores dessa natureza local, até o momento que a lua surge em seu lugar. É algo diferenciado. As árvores, flores, os ipês, fui pegando essas cores e colocando dentro dos personagens. No Joventino (Irandhir Santos), por exemplo, quis usar o pôr do sol, com tons alaranjados; a Juma (Alanis Guillen) também tem esse sol, mas em sua exibição momentos antes, tem um pouco do céu, dos rosas; já Filó (Letícia Salles/ Dira Paes) tem as cores das araras, dos ipês”, comenta Marie, animada com o resultado.
Seu trabalho, contudo, começou antes mesmo da primeira viagem, com uma ampla pesquisa, revisitando a primeira versão da novela e como os costumes e comportamentos mudaram de lá para cá. “A novela original era nossa diretriz. Assisti todos os capítulos para absorver aquelas escolhas da época. Na década de 1990, tínhamos bem marcado o conceito rural, mas hoje em dia vimos ao chegarmos ao Pantanal que ele está bem diferente. Entre assistir à novela e chegar ao Pantanal, comecei a construir minhas ideias com base em documentários, fotos, uma pesquisa profunda. E encontrei essa questão das cores ali também”, explica a figurinista. Embora não esteja no imaginário de todos os brasileiros, há hoje, no Pantanal, e em diversos outros locais do interior do Brasil, muito estampado, jeans. “Imagino que, assim como eu pensei, as pessoas pensem que o bege é uma cor que se destaca naquele cenário. Até era, antes. Não mais. Lá se usa cor, muita cor, azul, vermelho, verde, e fui inserindo isso principalmente na segunda fase”, complementa.
Uma das personagens que mais atrai a curiosidade do público, a Juma, interpretada por Alanis Guillen, foi um desafio para Marie. “A Juma é uma pessoa que nunca viu nada. Ela não conhece nada, troca suas roupas na chalana, não tem dinheiro, não sabe o que é isso, o que é banco, televisão… Ela é bruta e tem uma energia bruta. Por isso, suas roupas são transparentes e são meio pôr do sol, meio rosa, meio nude. A sensação que vai dar é que ela está livre”, adianta Marie sobre a personagem.
Além das cores, outro destaque que o figurino merece é na indumentária específica dos peões pantaneiros. “Para o manejo com o gado, eles usam calça jeans, bota curta, faixa pantaneira, que não é só um acessório estético, mas tem a função de ajudar a manter saudável a coluna dos peões. Em geral, são feitas por mulheres pantaneiras e são bastante coloridas, é algo fácil de encontrar na região. Os peões usam ainda um cinturão de couro, onde colocam o canivete e o celular, que estará presente na segunda fase. Ele funciona como uma pochete, mas é um cinto. A calça de couro por cima da calça jeans é bastante usada também, a fim de proteger as pernas de quem anda a cavalo. Protege de galho e cobra, por exemplo. E tem o chapéu, usado por todos, porque é um local quase sempre muito quente”, explica.
As transformações da caracterização
Aliada direta do figurino, a caracterização se torna ainda mais fundamental quando é necessário marcar a passagem do tempo e quando se há personagens de aparência peculiar, como o Velho do Rio (Osmar Prado), que se transforma em sucuri; ou Maria Marruá (Juliana Paes), que se transforma em onça. E quem faz essa mágica acontecer em ‘Pantanal’ é Valéria Toth, caracterizadora na Globo há mais de 15 anos. Entre as tantas obras que assinou está, inclusive, ‘Paraíso’, que também teve o Pantanal como pano de fundo. “Isso foi há mais de 10 anos, então tinha um pouco dessa imagem pantaneira, de quem trabalha no dia a dia com o gado, grande parte do dia no sol”, comenta Valéria.
Seu primeiro passo foi entender cada personagem e o universo dele, e fazer uma pesquisa bem apurada sobre cada ator, estudando tudo o que ele já fez na TV e no cinema, a fim de não cair na mesmice. “Vai que de repente o ator acabou de fazer algo com uma barba e você coloca barba de novo; a atriz acabou de pintar o cabelo de determinada cor, você pinta de novo… Aqui, por exemplo, muitos peões usam barba, então tive esse cuidado de estudar tudo que cada um dos atores fez”, explica.
Em ‘Pantanal’, Valeria destaca que grande parte do seu trabalho envolveu o fato de ter atores diferentes na primeira e na segunda fase interpretando o mesmo personagem. “ Esses personagens precisam ter indícios, sutilezas que os aproximam, para que o público possa identificar o ator anterior nessa mudança. Por exemplo, Malu Rodrigues e Camila Morgado, que interpretam Irma na primeira e segunda fase, respectivamente, ficaram ruivas, com cores bem parecidas. Tivemos o cuidado de pedir ao Renato (Góes) para deixar o cabelo crescer para se aproximar mais do visual do Marcos Palmeira, que passou um produto para abrir seus cachos. Os dois deixaram o cabelo crescer e ficaram com os cachos parecidos. Esses elementos mostram essa passagem de 30 anos”, explica.
Por último, mas nem de longe menos importante, estão os envelhecimentos e marcas da vida tanto no Velho do Rio, interpretado por Osmar Prado, quanto na Maria Marruá, interpretada por Juliana Paes. “Osmar Prado tem a pele muito bonita. Papinha falou que o Velho do Rio não poderia ter uma pele assim, então foi necessário manchar um pouco. O mesmo fizemos com Juliana. Também colocamos nela um megahair cacheado longo na cor marrom. Deixamos a sobrancelha crescer, fizemos umas manchas na pele para descontruir a beleza da pele dela, para parecer uma mulher sem cuidados. Ela vive isolada na tapera, não tem vaidade. Usamos maquiagem de efeitos especiais nas mãos, para registrar as marcas de serviços físicos pesados. Desconstruir uma atriz belíssima como a Juliana também é desafiador”, finaliza.
Tecnologia como apoio fundamental à produção
A aposta na caracterização e no figurino é alta e complementar à área de tecnologia, que tem nesta novela entre seus principais objetivos trazer realismo à trama, já que a natureza é um dos pontos fortes desta história. E ainda reforçar a mística que envolve a relação dos personagens e animais, como é o caso do Velho do Rio; e de Maria e Juma Marruá. Eles se transformam ou não em bichos? O mistério continua, mesmo após 30 anos. A produção diferencia-se, ainda, pela aplicação de tecnologias inovadoras. Um exemplo é o primeiro episódio, que foi produzido em 8K e que terá transmissão em 8K pelo Globoplay, inaugurando a utilização desse formato em novelas. Além disso, o primeiro capítulo será transmitido – também pelo Globoplay – em Dolby Atmos, tecnologia de áudio que busca garantir maior nível de imersão ao espectador.
A iniciativa da transmissão nesta qualidade de imagem abre portas para que a tecnologia seja amplamente utilizada no futuro – à medida que os televisores com capacidade de leitura do 8K passem a ter penetração nos domicílios brasileiros. A resolução é uma evolução em relação ao 4K, representando uma qualidade de imagem quatro vezes superior. As siglas indicam a quantidade de pixels disponíveis na tela. Enquanto o 4K apresenta 3.840 x 2.160 pixels, o 8K reúne até 7.680 x 4.320. Como o primeiro capítulo de ‘Pantanal’ ficará disponível no streaming, a solução se torna atemporal, com potencial de impactar o público a longo prazo. Para o espectador, o grande diferencial do formato é permitir uma experiência muito similar à que ele teria vendo a olho nu, com precisão e realismo. O que se torna ainda mais impactante quando aplicado a uma novela com forte ambientação na natureza.
No caso dos animais, a onça, a sucuri e o boi foram estudados profundamente e, para tê-los em cena, foi utilizada a rotoscopia, técnica que tem como referência uma imagem captada em vídeo, redesenhada quadro a quadro, resultando, então, na composição. Além desses animais, foram reproduzidas por computação gráfica cerca de 10 espécies de aves. Uma curiosidade: para se ter uma ideia, para uma cena de oito segundos em que é utilizada a técnica de rotoscopia para inserir um animal em um ambiente interno, são necessárias, em média, 48 horas de trabalho em efeitos visuais.
E, além da presença real de alguns animais no set de gravação no Pantanal, eles são reproduzidos ainda graficamente em modelos 3D. O processo é o mesmo de Hollywood: eles reproduzem um animal modelando-o tridimensionalmente e produzem todo o esqueleto para que ele possa ser animado; algo comum nas produções da Globo, mas não com animais do Pantanal. O trabalho da tecnologia, contudo, nem sempre é visto nas telas. Por vezes, a tecnologia atua nos bastidores, como por exemplo em relação à segurança do elenco. Foram usadas técnicas de aproximação e de implementação para transportar imagens de animais captadas no Pantanal e inseri-las em ambientes internos, por exemplo.
Em um capítulo em que a chuva é importante, os efeitos entram para criar os raios, as nuvens carregadas etc. No caso dos ninhais – no Pantanal são enormes – os efeitos visuais são utilizados para inserir os animais pousados nas árvores em planos mais abertos.
Música é protagonista em ‘Pantanal’
Basta olhar o elenco da nova versão de ‘Pantanal’ para entender que a música tem lugar de destaque. Almir e Gabriel Sater, Chico Teixeira, Guito, entre outras participações, estarão presentes nas rodas de viola que fazem parte da obra em momentos diversos da trama. E o público que teve a oportunidade de assistir à primeira versão há mais de 30 anos, e guarda em sua memória os acordes das músicas tocadas na época, pode aquietar o coração, pois “Pantanal”, música que marcou um país inteiro nos anos 1990, está garantida.
Composta por Marcus Viana, a música ‘Pantanal’ é um sucesso até hoje e pode-se dizer que foi responsável por boa parte da emoção gerada no público ao assistir às primeiras imagens da novela, durante as chamadas na programação da TV Globo. Para a trilha de abertura da nova versão de ‘Pantanal’, a música de Marcus foi regravada por Maria Bethânia e Almir Sater.
“É a canção de abertura de uma novela inesquecível e que terá uma releitura deslumbrante, de uma música muito inspirada, muito bonita, do fundo do coração do Brasil. É uma gravação que me comoveu, porque voltei a cantar com a viola do Almir Sater, isso é muito importante para mim, ele é um dos maiores músicos do Brasil, um grande compositor. É uma honra esse convite, fiquei bastante contente de fazer uma música poderosa, forte”, revela Bethânia.
Almir Sater está feliz em fazer parte dessa regravação, junto com Bethânia, na qual ele participa tocando uma viola caipira. “Faço um solo de viola, participando como músico. Uma honra enorme. Eu gostei muito de gravar “Pantanal” com Bethânia. Eu, Bethânia e ‘Pantanal’ temos uma relação antiga. Quando eu fiz a música “Tocando em frente” para entrar como um dos temas da novela, 30 anos atrás, ela me ligou perguntando se eu tinha alguma música nova. Falei sobre essa e ela pediu que eu cantasse por telefone. Cantei e na mesma hora ela disse que a música era dela. E assim foi. Ela gravou bonito, foi um dos temas de ‘Pantanal’ naquela época. Agora participarmos juntos dessa regravação fechando nosso ciclo ‘Pantanal’. Fiquei feliz, a gravação ficou muito bonita”, conta o músico.
Almir Sater tem ainda outras músicas da trilha sonora de ‘Pantanal’, como a inédita “Peabiru”, que será tema de José Lucas de Nada, personagem de Irandhir Santos na segunda fase da novela. ‘Chalana’, de Mário Zan e Arlindo Pinto, que ficou ainda mais conhecida na voz de Renato Teixeira, estará na novela em uma regravação de Roberta Miranda. E ‘Boiada’, que será tema de Joventino (Irandhir Santos) e José Leôncio (Renato Góes/Marcos Palmeira).
Filho de Almir, o músico e ator Gabriel Sater, também terá lugar na trilha da nova versão da trama, com a regravação de ‘Amor de Índio’, tema dos personagens Juma (Alanis Guillen) e Jove (Jesuíta Barbosa). A regravação ainda teve participação especial do maestro João Carlos Martins no piano.
“É a realização de um sonho, em momento algum eu pensei que isso seria possível, pois sabia da extrema concorrência de um mundo de pessoas interessadas em colocar a música nesta trilha sonora. Fazer parte do elenco e de um núcleo musical já é algo importantíssimo para mim, achei que só teria condições de tocar em cena. A melhor definição é que estou vivendo um sonho e estou imensamente agradecido pela confiança. E ainda mais gravando com minha referência e mestre, o maestro João Carlos Martins. É a primeira gravação oficial que fazemos juntos. Foi uma união de forças divinas que tornou isso possível nesse momento tão especial da minha vida. Vivendo o personagem Trindade e tendo uma música na trilha de uma novela tão importante como essa”, celebra Gabriel Sater.
Tendo o Pantanal como um dos protagonistas para esta saga familiar, é claro que o sertanejo estará presente diariamente na telinha, mas não será o único gênero musical da novela. Há também Iggy Pop, com ‘The Passenger’, para Jove; Alceu Valença, com a música ‘Dois Animais’, para Juma e José Lucas de Nada (Irandhir Santos); Belchior com ‘Comentário a respeito de John’ e “Vaqueiro de Profissão”, de Jair Rodrigues, para José Leôncio (Renato Góes/ Marcos Palmeira); além de músicas novas, de gêneros variados, e uma trilha instrumental totalmente original.
“Haverá muitas novidades na trilha, além das releituras. Temos um universo novo, um Pantanal novo, com imagens proporcionadas pelas novas tecnologias. É um panorama bem distinto daquela época da primeira versão. Tanto em relação à filmagem quanto à música também”, explica o produtor musical Rodolpho Rebuzzi. Sobre a trilha instrumental da novela, o produtor musical Rafael Luperi, irmão do autor Bruno Luperi, destaca: “as cenas que assistimos na sonorização estão espetaculares. São imagens deslumbrantes! É um trabalho muito grande, e o que eu sinto da equipe é que todos estão muito gratos por terem sido escolhidos para esse projeto. Fazer parte dessa história é uma responsabilidade gigantesca e um prazer enorme. Todo mundo vestindo a camisa, trabalhando e dando tudo o que pode para entregar uma novela que emocione as pessoas. Teremos surpresas bacanas”.
Entrevista com o autor Bruno Luperi
Bruno Luperi passou a infância acompanhando de perto o avô, Benedito Ruy Barbosa, escrever algumas das mais memoráveis novelas do Brasil. Em 2014, deixou a carreira publicitária para dedicar-se exclusivamente à dramaturgia. Fez a sua estreia na televisão dois anos mais tarde quando, ao lado de sua mãe, Edmara Barbosa, escreveu a novela ‘Velho Chico’. Desta forma, se tornou, aos 28 anos, um dos mais jovens autores a escreverem para o horário nobre. Em 2020, Bruno foi convidado para escrever a adaptação da novela ‘Pantanal’, um clássico da teledramaturgia, escrito por seu avô, e exibida pela primeira vez em 1990, na extinta Rede Manchete.
Seu avô, Benedito Ruy Barbosa, escreveu ‘Pantanal’ há mais de 30 anos. Agora, você recebe a missão de escrever uma nova versão da novela. O que o público pode esperar?
Para mim, o pilar central dessa adaptação é preservar a história que foi contada há 30 anos. Ela tem de ser traduzida para os dias de hoje, para os conceitos e valores de hoje. Muitas coisas nesses 30 anos ficaram para trás, mas a essência da história permanece a mesma. É sobre afeto, relações familiares, uma grande saga familiar, e fala sobre a relação do homem consigo mesmo, com o meio ambiente, com o meio onde está inserido, sobre contratos sociais. É uma trama muito pertinente e ela foi pertinente 30 anos atrás porque, na época, foi contemporânea. Hoje, para ela ter a mesma força e o mesmo significado que teve, precisa ser fresca e moderna, ressignificando alguns assuntos e tentando traduzir esse espaço para o qual ele foi proposto para os dias atuais.
Sobre o que fala ‘Pantanal’?
‘Pantanal’ é uma saga familiar, uma trama sobre encontros e desencontros. Uma história com poucos personagens para o padrão de hoje, mas muito densa na intimidade de cada um deles. Ela traz o choque de cultura entre o mundo urbano e rural; e resgata heróis, uma característica muito forte da obra do meu avô, esse caráter épico, que fala muito sobre valores. São personagens inspiradores, como o José Leôncio, que te faz acreditar que o mundo pode ser melhor, que existem pessoas que são corretas, dignas. O fio central de ‘Pantanal’ é a relação do José Leôncio com o pai, o velho Joventino, que na segunda fase passa para a relação de José com o filho, Jove. Ele quer ser para o filho o que o pai foi para ele. Ao longo da vida, cumpre todas as funções paternais, mas esquece de colocar o afeto no meio. Ele cumpre as obrigações enquanto pai divorciado, acha que está tudo em ordem, mas falta o amor.
Como a natureza é abordada na novela?
‘Pantanal’ permite esse mergulho no Brasil profundo, nesse universo forte da cultura pantaneira, de peão de boiadeiro, na cultura das mulheres. A maior força dessa novela é colocar a natureza como protagonista. Na trama, o Pantanal determina a vida de todo mundo, todos os personagens e essa é a grande mensagem. Tudo começa com o velho Joventino, que entende que não precisa dominar o boi, ele entende que não tem domínio sobre a natureza, e por isso se entrega à ela. E daí surge o Velho do Rio, que está ali como maestro, conduzindo aquele espaço para que funcione de maneira mais digna. Dele vem os diálogos mais importantes sobre a conexão do homem com a natureza, sobre essa reconexão.
Houve muitas mudanças no comportamento da sociedade de 30 anos para cá. No que diz respeito ao machismo e à pauta feminista, como esses temas foram abordados?
Procurei ser honesto na trama e também responsável. O público verá situações de machismo porque elas existem, mas verá também personagens contestando essas falas e atitudes. Jove e Guta são personagens que trazem bastante essa conversa, são as vozes dos novos tempos. Procurei legitimar as personagens femininas, trazer luz para as questões que envolvem elas e para a força que elas têm. A Filó tem uma força brutal, a Irma, a Madeleine e a Mariana seguram uma barra, a Guta tem uma função naquele universo e isso não pode passar sem a devida importância, assim como as mulheres que vivem na tapera. Dentro dessa história, temos a Maria Bruaca. Para esse núcleo que está ao redor do Tenório, foi preciso um olhar delicado. O Tenório é um vilão tão possível, tão frequente… São muitas as mulheres que se submetem a esse jogo como a Maria Bruaca. E essa história permite uma grande emancipação. Queremos fustigar mudança. A novela permite isso. São vários os temas que vamos abordar e estamos fazendo isso com muita responsabilidade, com um estudo grande por trás, buscando argumento com uma equipe muito competente.
Algo mudou da Juma de Benedito para a Juma do Bruno?
Não de essência. A Juma da essência do meu avô é minha Juma. Enxergo muita beleza ali! Gosto dela mais bicho e menos mulher. Eu vejo o Jove como um corpo masculino, sem nenhum problema com a sexualidade dele, mas com a essência do que a gente entende que é mulher. Ele é criado por três mulheres no Rio de Janeiro, tem espaço para ser mais sensível, mais empático, tolerante”. A Juma não tem medo de ser masculinizada, de ocupar um espaço mais forte na relação, enquanto Jove não se incomoda em ocupar o extremo oposto.
Entrevista Rogério Gomes, diretor artístico
Rogério Gomes participa do universo da televisão desde os cinco anos, quando acompanhava o pai, o locutor Hilton Gomes, aos estúdios da TV Tupi. Iniciou a carreira como operador de VT da primeira versão do ‘Sítio do Pica-Pau Amarelo’, na Globo, e depois passou a editor de imagens. Antes de começar a trabalhar com dramaturgia, Rogério editou e dirigiu diversos clipes exibidos no ‘Fantástico’, algumas edições do Hollywood Rock e também o primeiro Rock in Rio. A primeira novela que assinou como editor foi ‘Sexo dos Anjos’. Depois dela, editou ainda ‘Juba e Lula’, ‘Rainha da Sucata’, entre outras obras. Seu próximo passo foi dirigir a minissérie ‘O Sorriso do Lagarto’, adaptada do romance de João Ubaldo Ribeiro e, logo depois, a novela ‘Deus nos Acuda’, de Silvio de Abreu. ‘Vira-Lata’, de Carlos Lombardi, exibida em 1996, foi a primeira novela que assinou como diretor-geral, ao lado de Jorge Fernando. De lá para cá, dirigiu diversas outras produções. Seus últimos trabalhos na Globo foram os sucessos ‘Império’, de Aguinaldo Silva, que ganhou o prêmio Emmy Internacional como melhor novela; ‘Além do Tempo’, de Elizabeth Jhin; a ‘A Força do Querer’, ao lado da autora Gloria Perez; e ‘O Sétimo Guardião’, escrita por Aguinaldo Silva. Em 2021, foi o responsável pelo desenvolvimento artístico da nova versão de ‘Pantanal’.
O que o público que é fã de ‘Pantanal’ pode esperar da nova versão?
O público que é fã vem nos acompanhando desde que soube que haveria a nova versão. A primeira curiosidade foi saber quem ia fazer o que, quem interpretaria Juma, Velho do Rio, Maria Marruá etc. Já fiz alguns remakes do Benedito, ‘Sinhá Moça’, ‘Paraíso’, ‘Cabocla’ e sempre há muita curiosidade das pessoas sobre as mudanças que serão feitas, adaptações etc. O que temos a nosso favor é a tecnologia hoje em dia. Na época, Jayme Monjardim conduziu muito bem a novela, foi ousado, fez um desenho de produção diferente, mesmo com todas as dificuldades. Acredito que as pessoas ficarão felizes com o que estamos produzindo.
De 30 anos para cá, a tecnologia vai fazer uma grande diferença no que as pessoas veem na tela, certo?
Certamente. As câmeras são menores, a qualidade de captação é outra, tudo muito mais moderno do que naquela época. As dificuldades técnicas que eles tiveram são diferentes das que encontramos. É claro que ainda houve dificuldade, estávamos em fazendas, em locais muito distantes, tinha a questão do deslocamento, de transportar tudo de um lugar para o outro. É uma empreitada bem complexa. Mas temos essa facilidade das câmeras pequenas, dos drones, câmeras que podem entrar na água. Naquela época, para imagem aérea era necessário um balão. Por tudo isso, conseguimos captar imagens do Pantanal de maneira diferente daquele tempo, quando eles não tinham esses recursos.
Poderia comentar sobre a escolha das locações no Pantanal?
Visitamos vários lugares e acabamos entendendo que o melhor local era o mesmo onde o Jayme Monjardim gravou a novela há 30 anos. Foi engraçado que o Almir Sater comentou conosco que o Jayme rodou, rodou e terminou ali naquele local. Nós fizemos o mesmo. O local está diferente, as mudanças climáticas também tiveram impacto ali, mas conseguimos uma janela interessante. Além disso, eu já tinha feito ‘Paraíso’ no Pantanal de Poconé (MT), mais próximo a Cuiabá. Lá é muito bonito. Quando começamos a procurar, nós fomos lá, mas optamos por ficar nessa região da Nhecolândia porque tinha tudo o que precisávamos.
Houve uma preocupação em causar o menor impacto possível no meio ambiente?
Com certeza, uma preocupação minha, da equipe e da Globo. Eu sempre tenho um cuidado muito grande com a natureza quando vou a qualquer locação. Demanda energia, investimento e dedicação ter que conscientizar uma equipe com mais de 100 pessoas, mas vale a pena e pudemos ver o resultado lá. Fizemos várias mudanças, tiramos os copos descartáveis, fornecemos a todos garrafas e copo reutilizável, orientamos as fazendas quanto à reciclagem e separação dos lixos, e eles foram muito parceiros nesse trabalho. Sabemos que as gravações impactam de qualquer maneira, mas tentamos gerar o mínimo possível de impacto.
Entrevista com Gustavo Fernandez, diretor artístico
‘Órfãos da Terra’ marca a primeira direção artística do gaúcho Gustavo Fernández na TV Globo. Ele estreou na emissora, em 1999, na minissérie ‘Os Maias’. Em 2004, passou a integrar a equipe da novela ‘Um só Coração’ e no mesmo ano dirigiu ‘Começar de Novo’. Em seguida, dirigiu ‘Belíssima’ (2005), ‘Pé na Jaca’ (2006), ‘Duas Caras’ (2007), ‘A Favorita’ (2008), ‘Cama de Gato’ (2009), ‘A Cura’ (2010), ‘Cordel Encantado’ (2011), ‘Avenida Brasil’ (2012) e ‘Velho Chico’ (2016). Como diretor-geral, assinou a minissérie ‘O Brado Retumbante’ (2012), as novelas ‘Além do Horizonte’ (2013) e ‘Boogie Oogie’ (2014) e a série ‘Os Dias Eram Assim’ (2017). Gustavo será o responsável pela direção artística da nova versão de ‘Pantanal’ a partir da segunda fase.
Como foram as primeiras semanas de gravação?
Foi bastante interessante. Quando cheguei, estava começando a trilha do José Lucas de Nada, segundo personagem de Irandhir Santos. Foi importante ter começado com um assunto e um personagem um pouco mais apartado da trama principal. Eu e Irandhir já tínhamos trabalhado juntos em ‘Velho Chico’, nos demos muito bem, tínhamos feito um trabalho bacana, então foi um prazer, uma diversão. Estreamos juntos, eu e José Lucas de Nada.
Qual o sentimento de trabalhar nessa obra tão importante na história da teledramaturgia?
É bacana ver como a expectativa é grande, como as pessoas estão receptivas à ideia do remake. Todos falam com muito carinho. Ouço no condomínio, na piscina, desde que foi anunciado que eu faria parte da novela, muita gente mandando mensagem, amigos de Porto Alegre, de onde sou. É uma responsabilidade grande porque tem essa expectativa alta, mas é estimulante também.
Como diretor, qual seu maior ponto de atenção nesta novela?
Manter a mesma qualidade do trabalho que vem sendo feito até agora, seguir o mesmo caminho de Rogério Gomes. Eu chego num momento em que a novela está estabelecida, temos uma frente de gravações significativa, e a linguagem da novela já está bem consolidado, a textura, os personagens.
PERFIL PERSONAGENS PANTANAL
Fazenda Leôncio – 1ª fase
Joventino Leôncio (Irandhir Santos) – Peão e ponteiro de uma comitiva que toca com rara maestria, Joventino (Irandhir Santos) faz seu nome tangendo boiadas pelos sertões deste país. Por onde quer que passe, é tido como o maior entre todos os peões. Com o filho José Leôncio (Drico Alves/ Renato Góes/ Marcos Palmeira), se estabelece no Pantanal. É um pai amoroso, um homem justo e honesto. Quer começar uma criação de gado à sua maneira. Joventino quer ver a vida caminhar no passo da natureza, não dos homens. E, como bom peão que é, não tem pressa. Sabe que, mais importante que o destino, é a jornada.
José Leôncio (Drico Alves/ Renato Góes/ Marcos Palmeira) – Criado no lombo do cavalo de seu pai, Joventino (Irandhir Santos), cortando em comitiva os interiores deste país, conhece a vida e é talhado por ela em meio à peonada, simples e bronca, apartado de uma figura feminina desde a morte muito precoce da mãe. O que a vida furta a ele em carinhos, o pai compensa em valores. Após o desaparecimento de Joventino, José Leôncio carrega essa dor em ferida aberta a vida inteira. Foi casado com Madeleine (Bruna Linzmeyer/ Karine Teles), com quem teve Jove (Jesuíta Barbosa). E também é pai de Tadeu (José Loreto), fruto de seu relacionamento com Filó (Letícia Salles/ Dira Paes). E será surpreendido com a chegada de um filho desconhecido, José Lucas de Nada (Irandhir Santos). José Leôncio carrega, além de suas amarguras, a frustração de nunca ter sido para nenhum dos três filhos o que o velho Joventino foi para ele.
Filó (Leticia Salles/ Dira Paes) – Filó (Leticia Salles) surge grávida de Tadeu (José Loreto) na fazenda de José Leôncio (Renato Goes/ Marcos Palmeira), onde passa a viver e trabalhar como empregada. Sempre foi, na verdade, muito mais que isso. Filó é a alma e o coração daquela casa. O esteio. É uma mulher religiosa, apegada à sua fé. Após ser expulsa de casa pela mãe aos 12 anos, encontra abrigo em uma currutela, local onde conhece José Leôncio meses antes de procurar por ele na fazenda. Recebe dele emprego, carinho, abrigo e, acima de tudo, proteção. Vira fera para proteger seu “Zé” contra tudo e contra todos, disposta a trair até mesmo os seus sentimentos pelo bem dele.
Quim (Chico Teixeira) – Quim (Chico Teixeira) não consegue se furtar de pontuar os seus comentários quase sempre impertinentes. Tem a língua maior que a boca e o olho maior do que a barriga, e por isso é constantemente reprimido por todos ao seu redor, inclusive por Tião (Fabio Neppo), seu amigo inseparável. Quim e Tião se mantêm firmes e fortes ao lado de José Leôncio (Renato Goes), após o desaparecimento de Joventino (Irandhir Santos).
Tião (Fabio Neppo) – Tião (Fabio Neppo) é filho da liberdade como todo peão. Por isso se adaptou tão bem à vida pantaneira, de lonjuras sem fim e horizontes distantes, onde tudo é possível e nada é necessário. Como todos os que seguem a toada de Joventino (Irandhir Santos) – e, mais tarde, a de José Leôncio (Renato Góes) –, Tião é da confiança dos patrões. Tião e Quim (Chico Teixeira) se tornam mais que bons amigos, se tornam irmãos, e têm, um com o outro, a liberdade de sentir o que sentem e dizer o que pensam.
Mansão Novaes – 1ª fase
Antero Novaes (Leopoldo Pacheco) – Eloquente, educado e sagaz, Antero (Leopoldo Pacheco) é um bon-vivant, um tipo tão polido quanto dissimulado. Embora não seja um sujeito íntegro, no sentindo literal da palavra, é absolutamente honesto. É herdeiro de uma família tradicional da alta sociedade, casado com Mariana (Selma Egrei), com quem tem duas filhas, Madeleine (Bruna Linzmeyer/ Karine Teles) e Irma (Malu Rodrigues/ Camila Morgado).
Mariana Braga Novaes (Selma Egrei) – Intuitiva, observadora e perspicaz, Mariana (Selma Egrei) é uma verdadeira raposa, capaz de antever onde cada passo irá terminar. Afeita à vida em meio à alta roda, assimila uma personalidade controladora e moralista, sem se tornar hipócrita. Casada com Antero Novaes (Leopoldo Pacheco), tem duas filhas, Madeleine (Bruna Linzmeyer/ Karine Teles) e Irma (Malu Rodrigues/ Camila Morgado).
Irma Novaes (Malu Rodrigues/ Camila Morgado) – Irma (Malu Rodrigues/ Camila Morgado) vive uma vida sem grandes emoções. Primogênita da família Novaes, nasce sob os firmes cabrestos impostos pela mãe, Mariana (Selma Egrei), sem liberdade para muita coisa além de obedecer. Na juventude, tem um pudor extremo, sempre muito cordata, obediente. Esse recato autoimposto a faz sofrer, sem que as pessoas imaginem o quanto lhe custa toda essa repressão. O que ninguém percebe também é o fardo que Mariana impõe a Irma sempre que a usa de sarrafo para a caçula Madeleine (Bruna Linzmeyer/ Karine Teles). Forjadas sobre esse paralelo constante, e injusto, cada uma reage à sua maneira. Enquanto Madeleine responde com rebeldia, Irma se embrenha cada vez mais no jogo da mãe, sem notar que a vida escorre por entre os dedos sem que ela tenha sentido sequer o seu sabor.
Madeleine Novaes (Bruna Linzmeyer/ Karine Teles) – Provocante, subversiva por natureza e sensual, Madeleine arrebata corações por onde passa, e, mesmo com a marcação acirrada da mãe, Mariana (Selma Egrei), vive rodeada de amigos e pretendentes. Madeleine não dá a mínima para normas ou qualquer convenção social que a mãe tenta ditar. É capaz de sair com o primeiro que cruzar seu caminho só para deixar dona Mariana de cabelo em pé. Enquanto sua irmã Irma (Malu Rodrigues/ Camila Morgado) reza pela cartilha da mãe, Madeleine reza pela do pai, blefando, aqui e acolá, para conseguir o que quer. Não tem medo de nada, muito menos de jogar alto.
Gustavo (Gabriel Stauffer/ Caco Ciocler) – Gustavo (Gabriel Stauffer/ Caco Ciocler) é oriundo de uma tradicional família carioca e, seja pela vontade de dona Mariana (Selma Egrei), os laços entre os Sousa Aranha e os Novaes se estreitariam através do sagrado matrimônio entre ele e Madeleine (Bruna Linzmeyer/ Karine Teles). Mestre em análise comportamental, é equilíbrio, lucidez e a razão que Madeleine tanto carece. Ela, a paixão, o desejo e, de certa maneira, o tempero que a vida de Gustavo precisa. Embora seja capaz de analisar com profundidade todos à sua volta, não encara seus problemas de frente e, por isso, porque não se dá o devido valor, atende sempre aos apelos de Madeleine.
Tapera – 1ª fase
Gil (Enrique Diaz) – Gil é um sujeito simples, sem muita de cultura nem modos e com um jeito brando de ser. É um tipo correto, honesto e muito decente, tendo se tornado um ótimo marido, dedicado e atento à sua Maria Marruá (Juliana Paes). É um homem bom que nasceu em um mundo ruim e perverso. É enganado no Sarandi, no Paraná, onde comete um crime que o leva fugido ao Pantanal ao lado de Maria, onde tenta reconstruir sua vida e onde nasce sua filha, Juma (Alanis Guillen) .
Maria Marruá (Juliana Paes) – Era Maria antes de se tornar Marruá. Esposa dócil e dedicada, levava uma vida feliz até enterrar cada um dos três filhos que tinha. Maria “morreu” com eles, de forma que quando chega ao Pantanal ao lado do marido Gil (Enrique Diaz), é um retalho de gente, sem vida, sem alma, sem esperança. Ao engravidar de Juma (Alanis Guillen), recebe a filha com ar de maldição, em um parto na beira do rio com o intuito de colocá-la na canoa e empurrá-la para as águas. Não por falta de amor, mas por não suportar a ideia de perder outro filho. O destino, contudo, as quis juntas. E a natureza encontrou uma maneira de fazer isso acontecer.
Outros moradores do Pantanal (1ª e 2ª fase)
Velho do Rio (Osmar Prado) – Ponto de contato entre o mundo físico e espiritual e a síntese de uma consciência ecológica coletiva, o Velho do Rio (Osmar Prado) é um encantado. Uma espécie de guardião deste paraíso em terra que se chama Pantanal. Apresenta-se vezes em forma de gente, vezes em forma de sucuri, a maior de todas que já se viu pelo Pantanal.
Eugênio (Almir Sater) – Condutor de chalana desde que se compreende por gente, Eugênio (Almir Sater) é, como Trindade (Gabriel Sater) e o Velho do Rio (Osmar Prado), uma figura encantada, mítica, uma entidade que abriga aquela planície alagada. Tal qual as águas, Eugênio e sua chalana têm um propósito espiritual muito forte, o de carregar as almas, eliminar o mal, purificar e trazer vida nova, preservando o equilíbrio daquele paraíso.
Fazenda Leôncio – 2ª fase
Somado aos personagens da primeira fase:
Tadeu (José Loreto) – Tadeu (José Loreto) é um sujeito muito simples, de poucas palavras e sem grandes ambições na vida, além de aproveitar a jornada. Na infância, troca os estudos pela garupa do padrinho, José Leôncio (Renato Goes/ Marcos Palmeira), e se torna homem tangendo a boiada junto dele por essas estradas da vida. Recebe de José Leôncio a mesma educação que ele próprio havia recebido do velho Joventino. Mesmo depois que Filó (Leticia Salles/ Dira Paes) diz a José Leôncio que Tadeu é seu filho, a pedido dela, o menino não tem um tratamento diferenciado. É peão e pronto. Tadeu se apaixona por Guta (Julia Dalavia), enquanto ela está interessada em Jove (Jesuita Barbosa).
Tibério (Guito) – Homem maduro, Tibério (Guito) é do tempo em que a palavra valia mais que qualquer pedaço de papel. Não à toa, logo que José Leôncio (Renato Goes/ Marcos Palmeira) o conhece faz dele capataz da sua fazenda mais preciosa: a do Pantanal. Peão de carreira e de rara competência, não fosse Tibério, José Leôncio não teria construído o império que construiu. Isso porque ele é o guardião do paraíso sagrado de José Leôncio e, de certa forma, o lastro que permite o patrão se afastar do Pantanal pelo tempo que for necessário, sem medo do que irá encontrar ao retornar. Ele é a ordem e a justiça e, na ausência do patrão, sua palavra é a lei. Tibério se impõe aos demais através da conduta irreparável e da competência, e não pela força.
Trindade (Gabriel Sater) – Trindade (Gabriel Sater) é violeiro antes de ser peão. E sua sina, como de todo tocador, é seguir o som da viola, e nada mais. Assim Trindade compõe o seu caminho, pingando de fazenda em fazenda, trabalhando sempre em troca de provisão e guarida, até o dia em que bate na fazenda de José Leôncio (Marcos Palmeira), para o estranhamento de todos. É por caridade de Tibério (Guito), que Trindade pernoita por ali, mas é por obra da sua viola enfeitiçada pelo cramulhão que ele se assenta por lá. Da sua viola e das premonições que ele vaticina com tamanha propriedade que faz até os mais céticos darem fé do impossível.
Levi (Leandro Lima) – Ávido por conquistar o seu espaço no mundo, Levi (Leandro Lima) vai trabalhar na fazenda de José Leôncio (Marcos Palmeira) para fazer seu nome enquanto peão, não por qualquer simpatia ou lealdade que tenha ao patrão. Tem imenso respeito por José Leôncio, naturalmente, mas no seu íntimo, e lá bem no íntimo mesmo, Levi acredita que pode ser um dia maior do que ele. Ele encara o emprego como uma etapa a mais no seu processo de maturação enquanto peão e sabe que para ter sucesso na sua empreitada é preciso ter humildade e saber a hora de baixar a cabeça.
José Lucas de Nada (Irandhir Santos) – Fruto de uma relação fortuita de José Leôncio (Renato Góes/ Marcos Palmeira) com uma prostituta, não é batizado “De Nada” por ódio ou rancor, mas por ser, de fato, filho de pai desconhecido. José Lucas nunca ganhou nada de mão beijada. Orgulhoso, mesmo que tivesse tido a chance de ganhar, não teria aceitado. Fora educado pela mãe, pela avó, e pelos muitos peões que pousavam pela currutela onde elas trabalhavam. Foi com aqueles homens, simples e rudimentares, que José Lucas aprendeu o ofício de peão e saiu, em companhia deles, para ganhar o mundo como caminhoneiro. Quando chega à fazenda e à vida de José Leôncio, além da surpresa pela semelhança com o velho Joventino, vive ainda a tensão de se interessar por Juma (Alanis Guillen), que tem um relacionamento com seu irmão Jove (Jesuíta Barbosa).
Ari (Claudio Galvan) – Ari é a ponte entre a fazenda do Pantanal e o mundo. De Campo Grande, é ele quem opera o rádio pelo qual as informações vão e vêm até a fazenda de José Leôncio (Renato Góes). Ari é também o piloto que leva e traz o patrão de suas fazendas quando os negócios começam a crescer, e antes de Tadeu (José Loreto) assumir este posto de pilotar a aeronave.
Mansão Novaes – 2ª fase
Somado aos personagens da primeira fase:
Jove (Jesuita Barbosa) – Inteligente e irreverente, Jove (Jesuíta Barbosa) é um jovem que, embora tenha nascido no Pantanal, pode-se dizer um autêntico carioca. Filho de Madeleine (Karine Teles) e José Leôncio (Marcos Palmeira), é levado ainda bebê para o Rio de Janeiro. E é criado achando que o pai morreu. Quando jovem, vai para o Pantanal conhecer o pai e descobre que é a antítese dele. Não que seu caráter seja menor, mas Jove é produto de seu meio. Lá, conhece e se apaixona por Juma (Alanis Guillen), com quem descobre que suas raízes estão plantadas naquelas terras.
Nayara (Victoria Rossetti) – Jovem, cheia de vida e sem juízo nenhum, Nayara (Victoria Rossetti) está habituada a arrebatar corações por onde passa, quando Jove (Jesuíta Barbosa) cruza o seu caminho. Ela se apaixona por Jove à medida em que ele perde o interesse por ela. A jovem revela uma imagem incongruente, oca, vazia e superficial. Acredita que sua vida vai mudar quando descobre que Jove é filho de Madeleine (Karine Teles), a quem segue nas redes sociais.
Zaquieu (Silvero Pereira) – Zaquieu (Silvero Pereira), o mordomo très chic de Mariana (Selma EgreI), é para lá de alto astral. Talhado a esconder as cicatrizes de uma vida sofrida atrás do seu jeito irreverente de ser, que, de tão cômico, chega a beirar o caricato. Com vasta experiência como mordomo e um currículo invejável, Zaquieu é contratado quando a família Novaes passa por dificuldades financeiras, mas goza de bom prestígio. O mordomo se sente realizado em meio a toda aquela pompa e circunstância. E rege com delicadeza ímpar e muita classe a sensível sinfonia que o lar da família. E é peça-chave na dinâmica da família Novaes, desenvolvendo uma relação muito forte com Mariana.
Tapera – 2ª fase
Somado aos personagens da primeira fase:
Juma Marruá (Alanis Guillen) – Filha de Gil (Enrique Diaz) e Maria Marruá (Juliana Paes), Juma cresce sob os cuidados da mãe, que a ensina a se defender de tudo e todos. Nasceu e viveu limitada ao pedacinho de terra que era de José Leôncio (Renato Góes/ Marcos Palmeira), mas que seus pais tomaram posse ao desembarcarem no Pantanal. Tal qual a mãe, Juma incorpora Marruá. Mais do que o nome, a forma selvagem e visceral de viver. De Maria, Juma herda os hábitos, as artes da caça e a capacidade de não depender de ninguém para nada. Acredita, como a mãe, que nesta vida está melhor quem está só. Até conhecer Jove (Jesuíta Barbosa), por intermédio do Velho do Rio (Osmar Prado), que traz o rapaz ferido para sua tapera. Deste momento em diante, Juma, que vivera sempre tão atenta e alerta aos ardis do “bicho homem”, se torna cativa de um novo sentimento. A mãe não a preparou para se defender do amor.
Muda (Bella Campos) – Ela vai ao Pantanal em busca do que considera justiça pela morte de seu pai, assassinado por Gil (Enrique Diaz) quando ela era ainda um bebê. Quando Maria Marruá (Juliana Paes) a surpreende espreitando a tapera, ela finge não falar. E engana Maria e Juma, que a abrigam com compaixão, sem saber que um dos seus capatazes matou Gil. Seus planos de vingança começam a mudar quando Juma apresenta um sentimento novo a ela. Maior que o perdão, o amor. Amor de irmã.
Núcleo Tenório – 2ª fase
Tenório (Murilo Benício) – Assim como Muda (Bella Campos) e Maria Marruá (Juliana Paes), Tenório (Murilo Benício) vem do Paraná para o Pantanal com um passado que prefere esconder. Fazendeiro, marido de Maria Bruaca (Isabel Teixeira) e pai de Guta (Julia Dalavia), é um sujeito prático, frio e extremamente racional. Perspicaz, logo percebe que a vida é um jogo de cartas marcadas. Para ele, não há justiça, não há mérito, não há nada. Lição que aprende a duras penas. Muito antes de começar a ganhar, Tenório aprende a perder, até se tornar um verdadeiro mestre no jogo da vida. Para a família, é um homem moralista, retrógrado, conservador e preconceituoso. Por isso a surpresa quando Guta descobre que o pai tem outra família em São Paulo.
Maria Bruaca (Isabel Teixeira) – Maria é mulher feita, madura e maltratada, tanto pela vida quanto pelo marido, Tenório (Murilo Benício), que a chama de Bruaca, marcando a falta de apreço e respeito que tem pela esposa. Sua relação com a filha, Guta (Julia Dalavia), é seu esteio. Por isso sofre quando ela parte para São Paulo para estudar, e seu retorno é motivo de alegria. Maria casou grávida com Tenório e, embora fosse filha de um cafeicultor muito próspero, vê suas terras ficarem devastadas após uma grande geada. Quando seu pai morre, Tenório vende as terras e Maria se torna um fardo para o marido. Quanto mais ele viaja sozinho por esse país, mais culpada ela se sente. Por isso se submete a tudo sem imaginar que Tenório tem uma outra família em São Paulo.
Guta (Julia Dalavia) – Guta é filha de Tenório (Murilo Benício) e Maria (Isabel Teixeira). Volta de São Paulo, onde formou-se Engenheira Civil, mais livre, forte e independente. É uma mulher à frente do seu tempo, senhora de si. Livre para escolher, volta ao Pantanal para a alegria da mãe e desconfiança do pai. O que este não sabe é que ela descobriu da pior maneira possível que Tenório tem uma segunda família em São Paulo: apaixonando-se pelo irmão, Marcelo (Lucas Leto). Seu retorno ao Pantanal é mais que um acerto de contas com o pai, mas uma fuga desta situação estranha na qual a mentira de Tenório a colocou.
Alcides (Juliano Cazarré) – Por baixo da sua casca grossa e maltratada pela vida, o capataz de Tenório (Murilo Benício) guarda um bom coração. Por isso, luta contra seus instintos para tentar ser um homem decente. Misterioso, não bate na fazenda de Tenório por acaso, também não vai até o Pantanal em busca de emprego: quer justiça. O que não pode imaginar é que a esposa do patrão, Maria (Isabel Teixeira), vai projetar nele todo o seu desejo sexual reprimido. Bem como não está nos seus planos que Guta (Julia Dalavia), a filha dos patrões, pinte por ali para bagunçar de uma vez por todas com o seu juízo. Alcides entrega o seu coração para Guta de imediato e, por isso, fica tão valente sempre que alguém se engraça com ela. Acontece que Guta, para o mal de todos seus pecados, o acha um pobre coitado, um tipo tosco, bronco e machista, muito diferente de Jove (Jesuíta Barbosa), o filho progressista e estudado de José Leôncio (Marcos Palmeira).
Zefa (Paula Barbosa) – Zefa adora cozinhar e cuidar da vida alheia. Bocuda e altiva, Zefa vai trabalhar para Tenório (Murilo Benício) por imposição de Maria Bruaca (Isabel Teixeira), logo após ela descobrir a outra família que o marido mantinha em segredo em São Paulo. Zefa cai de paraquedas no centro do olho de um furacão, se tornando alvo dos destemperos do patrão e da opressão da patroa.
Núcleo Tenório (São Paulo)
Zuleica (Aline Borges) – Zuleica é mãe de três jovens adultos: Marcelo (Lucas Leto), Renato (Gabriel Santana) e Roberto (Caue Campos). Os seus “meninos” são fruto da duradoura relação com Tenório (Murilo Benício). Relação, não casamento. No passado, ele jurou largar a Maria Bruaca (Isabel Teixeira) e constituir ao lado de Zuleica a sua família. Mas isso não aconteceu, pois Maria engravidou e Tenório mudou de ideia. E manteve sua outra família em São Paulo, de forma a não levantar qualquer suspeita.
Marcelo (Lucas Leto) – Primogênito de Tenório (Murilo Benício) e Zuleica (Aline Borges), Marcelo (Lucas Leto) sempre foi um filho exemplar. Dedicado, inteligente e disciplinado, é o homem da casa na ausência de Tenório – uma constante naquela família que é a segunda família de seu pai. Dentre os três irmãos, Marcelo é o mais pé no chão, mas, nem por isso, o menos sonhador.
Renato (Gabriel Santana) – Prático, metódico e bem resolvido, Renato é o mais temperamental dos três filhos de Zuleica (Aline Borges) e Tenório (Murilo Benício). Explosivo, esquentado e impulsivo, ele tem para si que sua família está acima de tudo e de todos, principalmente da outra família de seu pai.
Roberto (Caue Campos) – Roberto é o caçula de Zuleica (Aline Borges) e Tenório (Murilo Benício). Estudioso, introvertido, inteligente e afeito aos livros, Roberto passaria a vida sentado em uma boa cadeira de balanço lendo sobre qualquer assunto que fosse. Durante as brigas de família – raras, mas que acontecem – é ele quem vem sempre com os panos quentes para apaziguar a situação e, mais tarde, serve de ouvido para escutar ambos os lados desfiarem os seus rosários. Em termos de personalidade, é o oposto do irmão do meio, Renato, enquanto o mais velho, Marcelo, é a soma dos dois. Embora seja o mais jovem da casa, por muitas vezes se mostra o mais sensato de todos.