Eles transitam por todos os núcleos e fazem parte da primeira e segunda fases da nova versão de ‘Pantanal’, escrita por Bruno Luperi, com direção artística de Rogério Gomes: Osmar Prado e Almir Sater dão vida, respectivamente, ao Velho do Rio e ao chalaneiro Eugênio. O primeiro é uma lenda, apenas quem o vê tem certeza sobre sua existência. Há quem acredite que quando o velho Joventino (Irandhir Santos) desaparece sem deixar rastros, na verdade morre e encanta no Velho do Rio. O segundo é bem vivo, e visto por todos que chegam e saem do Pantanal. O que têm em comum? Grandes conhecedores daquelas terras, assumem a função de protegê-las.
Mais que isso, o Velho do Rio (Osmar Prado) é o ponto de contato entre o mundo físico e espiritual, e a síntese de uma consciência ecológica coletiva. Ele é um encantado, uma espécie de guardião deste paraíso em terra que se chama Pantanal. Apresenta-se vezes em forma de gente, vezes em forma de sucuri, a maior de todas que já se viu pelo Pantanal.
Já Eugênio (Almir Sater) é condutor de chalana desde que se compreende por gente. Assim como o Velho do Rio, pode-se dizer uma figura encantada, mítica, que abriga aquela planície alagada. Tal qual as águas, Eugênio e sua chalana têm um propósito muito forte, de purificar e trazer vida nova, preservando o equilíbrio daquele paraíso.
Nas entrevistas abaixo, Osmar Prado e Almir Sater comentam sobre os personagens e contam mais sobre os bastidores da novela.
Entrevista Osmar Prado
Como está sendo interpretar o Velho do Rio?
Eu já estou falando meio com o jeito do Velho do Rio. Esse é um personagem especial. É um poeta, um filósofo, um homem que só na transcendência poderia ser o que é, falar o que tem que falar. Ele representa a libertação do mundo, da terra. Como diz “somos filhos de uma mãe gentil e generosa a quem tentamos há muito tempo escravizar”. O Velho do Rio representa a defesa da terra, da fauna, da água. E a defesa também da alegria das pessoas, num mundo mais justo, mais cooperativo, mais solidário, com empatia.
O que você destacaria do personagem?
Ele é uma espécie de guardião da felicidade, mas não da felicidade efêmera, e sim a felicidade baseada no amor verdadeiro. Naquele que você se sacrifica pelo outro. O mundo só é viável se for cooperativo. No dia que o homem entender que ele é parte de um processo global, teremos um mundo correto. “Nós não somos donos de nada”, diz o Velho. Isso é um fato, é uma oportunidade de você atuar com uma personagem de uma profundidade filosófica enorme.
O Velho do Rio seria, então, um protetor daquele local que habita?
Ele é justiceiro, faz justiça. Faz parte do processo também fazer justiça. Eu estou aprendendo muito com ele. A cada fala, eu entendo perfeitamente o que ele quer dizer e estou perfeitamente de acordo. Isso é um privilégio.
Você já conhecia o Pantanal?
Eu nunca tinha ido ao Pantanal, e agora estou apaixonado pelo que conheci. Eu sabia que encontraria pessoas legais, mas estou em êxtase porque essa viagem foi uma oportunidade muito boa. Tenho 63 anos de carreira e 74 de idade. Ser chamado para fazer o Velho do Rio é uma convocação. Como se eu fosse para um movimento revolucionário, com a mesma integridade, força e dedicação. Nada mais atual do que a fala e as coisas que o Velho do Rio defende.
Entrevista Almir Sater
Poderia nos contar um pouco sobre sua relação com o Pantanal?
Minha relação com o Pantanal vem de menino, criança. Um amigo do meu pai tinha fazenda lá e eu fui passar umas férias e me apaixonei. Sempre que falava de férias, eu ficava na porta da casa desse meu vizinho para falar que eu queria ir com ele para o Pantanal. Prometi para mim mesmo que assim que eu pudesse, um dia iria morar nesse lugar. E sonho é tudo na vida. Eu tinha esse sonho, e quando aconteceu a primeira novela Pantanal, eu fiz uma música para o Sergio Reis gravar, ele elogiou muito meu toque de viola, disse que eu tinha que levar minha música nas rádios para eles tocarem, levar meus discos para um programador. Aí ele me falou que tinha um projeto chamado “Amor Pantaneiro”, que eles iam gravar umas músicas para essa obra. Eu nem tinha intimidade com ele nessa época, mas falei: já que você quer que eu faça sucesso, me chama pra fazer essa novela junto com você. Ficamos rindo, ele acabou gravando minha música, nem fazia muito o estilo dele, mas senti que houve uma empatia.
E o que houve depois?
Sergio Reis me ligou, voltou com o assunto da novela e disse que ia se chamar ‘Pantanal’, seria exibida na Manchete e perguntou se eu não gostaria de participar com ele, fazer uns toques de viola. No começo eu tive uma certa resistência porque estava pensando numa carreira instrumental, tinha pensado em ir para os Estados Unidos, tinha umas propostas de ficar por lá um tempo. Aí eu perguntei se ele ia gravar no Rio de Janeiro, ele disse que não, que gravaria no Pantanal mesmo. Aí eu falei: a gente vai passar um ano no Pantanal e ainda receber por isso? Topo!
Como foi seu primeiro contato com a novela, mais de 30 anos atrás?
Era para eu me apresentar como Almir Sater. Aí eu não quis, não queria misturar ficção com realidade, queria um personagem. O Jayme Monjardim, diretor, me perguntou se eu queria trabalhar na novela, então. Eu disse que sim. Aí ele disse, então espera aí, vamos falar com o Benedito Ruy Barbosa. Ele perguntou se eu tinha alguma ideia, eu disse que eu era violeiro e que poderíamos trabalhar no folclore da viola. Ruy falou que gostou e ia começar a escrever. Ele realmente escreveu muito bem meu personagem, eu pude tocar, e meu personagem cresceu muito, tanto que o Jayme me convidou para ser o protagonista de uma outra novela dele depois.
O que mudou na sua vida depois que gravou a primeira versão da novela?
Na minha vida artística, ‘Pantanal’ foi um divisor de águas. Todo artista quer que sua arte se divulgue. Quando eu entrei na novela, ela já era sucesso. Comecei a tocar, e de cara o Sergio Reis falou que eu podia levantar o queixo, colocar preço no show, porque estava fazendo sucesso. Comecei a trabalhar muito, como nunca trabalhei na vida, ganhei meu primeiro dinheirinho e comprei meu primeiro pedacinho de terra no Pantanal.
Quando recebeu o convite para estar nesta nova versão, como se sentiu?
Primeiro começaram a brincar comigo, me sugerindo para papeis grandes. Já me acovardei (risos). Mas também fiquei instigado porque é bonito o projeto. Eu disse que já passou meu tempo, mas chegamos à conclusão de que poderia ser uma participação musical menor. Conversamos eu e Bruno Luperi, autor, e encontramos um papel no qual eu pudesse contribuir. Não adianta ser um papel que não toco. Eu sou músico. Eu faço um chalaneiro, viúvo, cara que vive nesse rio desde que se entende por gente. É um papel bonito, tem falas bonitas. Quando comecei a gravar agora me emocionei. É um papel muito carinhoso.
Qual é a emoção de ter seu filho gravando esta novela com você?
Não só meu filho. Essa novela trouxe para perto de mim pessoas com quem eu convivo desde menino. O Chico Teixeira, a Isabel Teixeira, vieram por outras fontes, não foram influências nossas. O Gabriel, meu filho, já tinha feito ‘Meu Pedacinho de Chão’, do Ruy Barbosa; já tinha trabalhado com o Irandhir; e outros trabalhos. Quando eu soube que seria o Gabriel quem faria o Trindade, fiquei muito feliz. O Bruno criou uns enfrentamentos do Trindade com o Eugênio, enfrentamentos musicais. Eu falei para o meu filho, não vou dar moleza, hein. Meu filho toca bem, toca violão erudito. Há uns anos começou a estudar viola. É um cara que se dedica muito. Eu espero que seja tão bom para ele quanto foi para mim, o personagem Trindade.
Agora nos conte quem é o Eugênio, o chalaneiro.
Eu não sei quem ele é, se é primo do Velho do Rio (risos)… Ele é um mascate, está na canoa desde que se entende por gente, o pai dele provavelmente era o dono, e na beira de rio, embarcação, às vezes é o único canal de comunicação que temos com o mundo. O que nos leva, nos traz, leva e traz mercadorias. Ele é um cara que fala coisas muito bonitas, tem um toque de magia no que fala. É um homem solitário, gosta da solidão. Estou aprendendo mais sobre ele. Cada vez que leio o texto, entendo mais. Ele é uma certa entidade, um pouco atemporal, está nas duas fases da novela e chega na segunda fase com poucas mudanças físicas. É um cara calmo, que não come bicho de sangue quente, vive de peixe. As mensagens dele dizem que ele é um colaborador do Velho Do Rio, tanto que ele tem certeza de que o Velho do Rio está aí, mas eles passeiam por águas parecidas.
‘Pantanal’ é escrita por Bruno Luperi, baseada na novela original escrita por Benedito Ruy Barbosa. A direção artística é de Rogério Gomes, direção de Walter Carvalho, Davi Alves, Beta Richard e Noa Bressane. A produção é de Luciana Monteiro e Andrea Kelly, e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim.