Ao fincar o facão ao pé de um jequitibá nas roças de cacau de Ilhéus, José Inocêncio (Leonardo Vieira/ Antônio Fagundes) promete permanecer com o corpo fechado enquanto o objeto estiver ali. Ele afirma que não morrerá “nem de morte matada, nem de morte morrida”. E a promessa acompanha o protagonista da novela de Benedito Ruy Barbosa com direção de Luiz Fernando Carvalho, Emilio di Biasi e Mauro Mendonça Filho, exibida originalmente em 1993. A história, que fez enorme sucesso e marcou a história da teledramaturgia, faz parte do projeto de resgate dos clássicos da dramaturgia e passa a integrar o catálogo do Globoplay a partir desta segunda-feira (11).
A trama é dividida em duas fases. Nas roças de Ilhéus, o jovem José Inocêncio trabalha com muito empenho e consegue construir um império do cacau. Apaixonado por Maria Santa (Patrícia França) casa com ela e os dois têm juntos quatro filhos: José Augusto (Marco Ricca), José Bento (Tarcísio Filho), José Venâncio (Taumaturgo Ferreira) e João Pedro (Marcos Palmeira). Após o parto do caçula, Maria Santa morre. A tragédia faz com que José Inocêncio rejeite João Pedro durante toda a vida. Mas, apesar disso, ele cresce com um amor incondicional ao pai, apesar de saber que ele o culpa pela morte de sua mãe.
“João Pedro era o filho enjeitado com amor absoluto pelo pai. Um jovem trabalhador rural que nunca se deixou contaminar pela ambição, extremamente ético”, lembra Marcos Palmeira que, para compor o papel, fez laboratório em uma fazenda. “Fiz laboratório na fazenda de cacau do meu avô, na Bahia, e ali pude mergulhar no universo cacaueiro que me ajudou a ter até um outro olhar para essa lavoura tão importante”, lembra o ator.
Enquanto os três filhos mais velhos moram na cidade, João Pedro é o único que se mantém ao lado do pai, mesmo tendo ciência de toda a indiferença que desperta nele. Para complicar ainda mais essa relação entre pai e filho, os dois se apaixonam pela mesma mulher: Mariana (Adriana Esteves). João Pedro conhece e se encanta pela jovem e a leva para trabalhar na fazenda, sem saber que é neta do grande inimigo de José Inocêncio, Belamiro (vivido por José Wilker na primeira fase). Destinada a se vingar da família de José Inocêncio e João Pedro, Mariana acaba se envolvendo verdadeiramente pelo inimigo de seu avô.
José Inocêncio e Mariana se casam, o que faz com que João Pedro tenha que sufocar o amor que sente por ela. Com a notícia da união, os filhos mais velhos exigem que o pai faça logo a partilha entre os herdeiros. “Renascer foi uma novela linda, num ambiente baiano. Passamos muito tempo gravando e morando em Ilhéus. Uma novela altamente poética, e minha personagem foi riquíssima para mim. Diferente de todos os trabalhos urbanos que já haviam me dado”, lembra Adriana Esteves, que deu vida à protagonista aos 23 anos de idade.
A trama de Benedito Ruy Barbosa ainda abordou o hermafroditismo por meio da personagem Buba, interpretada por Maria Luisa Mendonça, em sua primeira novela na TV Globo. Buba se envolvia com um dos filhos de José Inocêncio, José Venâncio. Também foi o primeiro papel de Jackson Antunes, intérprete de Damião. Contratado para matar José Inocêncio, ele acaba se tornando um fiel trabalhador da fazenda do coronel. Outro personagem de destaque foi Tião Galinha, vivido por Osmar Prado. O elenco contava ainda com Patricia Pillar, Herson Capri, Eliane Giardini, Isabel Fillardis, Gésio Amadeu, Roberto Bonfim, Regina Dourado, Chica Xavier, Fernanda Montenegro, Ana Lucia Torre, Cacá Carvalho e José Wilker.
ENTREVISTA COM MARCOS PALMEIRA
Como era trabalhar em uma novela de Benedito Ruy Barbosa dirigida por Luiz Fernando Carvalho?
Foi maravilhoso para mim, depois de ter feito Pantanal voltei pra Globo nesse projeto incrível. Poucas vezes tive tanta sintonia num trabalho.
Como você construiu esse personagem?
Fiz um laboratório na fazenda de cacau do meu avô, na Bahia, e ali pude mergulhar no universo cacaueiro que me ajudou a ter até um outro olhar para essa lavoura tão importante.
Como era contracenar com Antonio Fagundes e Adriana Esteves?
Adriana virou minha grande amiga até hoje. Fizemos outras coisas juntos, inclusive no teatro. Fagundes eu já tinha trabalhado com ele em Vale Tudo e a partir dali estabelecemos também uma relação mais próxima e acabamos fazendo vários trabalhos juntos, ou ele como meu pai (Renascer), como antagonista (Porto dos Milagres) ou sendo o mesmo personagem em épocas diferentes, como no filme Villa-Lobos – Uma Vida de Paixão, do Zelito Viana.
Você lembra como era a abordagem do público nas ruas em relação ao João Pedro?
As pessoas adoravam, torciam muito por ele. O fato de ele enfrentar essa rejeição do pai gerava muita empatia e o público foi sempre muito carinhoso.
“Renascer” tem um lugar especial em sua carreira? Por quê?
Tem, claro! Emendar Renascer depois de Pantanal fortaleceu essa minha imagem com personagens mais rurais. E foi depois de Renascer que pude protagonizar “Irmãos Coragem”, com direção do próprio Luiz Fernando Carvalho.
Muitas novelas estão sendo revisitadas no momento. O que você destacaria em “Renascer” como um atrativo para o público que não conheceu a novela quando foi exibida originalmente?
A novela mostra a realidade de uma região, é muito interessante. O Benedito sabe como ninguém desenvolver uma saga familiar, ele sempre merece um olhar atento, independente da época.
ENTREVISTA COM ADRIANA ESTEVES
Qual a principal lembrança que você tem da novela “Renascer”?
Acho que uma das grandes lembranças é a linda parceria com meu grande amigo Marcos Palmeira. A outra, sem dúvida, foi ter feito amizades tão sólidas como com Tarcisinho, além do encontro com Marco Ricca, que resultou num lindo casamento de dez anos e um filho incrível, hoje com 21 anos, Felipe Ricca.
Como era trabalhar em uma novela dirigida por Luiz Fernando Carvalho?
Luiz Fernando Carvalho foi muito importante em minha formação como atriz. Antes de Renascer ele havia me dirigido em “Pedra Sobre Pedra”, novela de Aguinaldo Silva. Ele me ensinou a procurar um olhar aprofundado, despertou em mim a paixão por criar as minhas personagens.
Como “Renascer” marcou a sua carreira? Por quê?
Renascer foi uma novela linda, num ambiente baiano. Passamos muito tempo gravando e morando em Ilhéus. A novela tinha elenco e equipe de muitos craques. Uma novela altamente poética, e minha personagem foi riquíssima para mim. Diferente de todos os trabalhos urbanos que já haviam me dado.
Você acredita que amadureceu profissional e pessoalmente nesse trabalho? O que mais aprendeu com essa personagem?
Essa personagem foi dificílima para mim na época. Tive que me dedicar muito para dar conta do enorme desafio. Mas acho que consegui. Aprendi muito com esse trabalho. Assim que ele acabou, fui fazer teatro com Gabriel Villela, Maria Padilha, Marcelo Escorel. Fizemos uma grande turnê com “A Falecida”, de Nelson Rodrigues. E posso dizer que o que me fez querer me jogar nessa aventura teatral foi a necessidade de vida na arte. E foi a novela Renascer que despertou em mim essa necessidade.
Muitas novelas estão sendo revisitadas no momento. O que você destacaria em “Renascer” como um atrativo para o público que não conheceu a novela quando foi exibida originalmente?
Renascer é uma das novelas mais lindas que já vi. É uma honra imensa ter sido tão jovem protagonista dela.
Seu último trabalho, Amor de Mãe, acabou de ser indicado ao Emmy Internacional. Como é para você como protagonista da história receber essa indicação que, aliás, não é a primeira em sua trajetória?
O Emmy só me traz felicidade! Tenho duas indicações como atriz, por “Dalva e Herivelto” e “Justiça”; e duas indicações para novelas que protagonizei, “Avenida Brasil” e “Amor de Mãe”. Essas indicações dão muito orgulho dos trabalhos que fazemos no Brasil. Tenho honra de ser uma atriz brasileira.
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