Com mais de 20 anos de carreira, Guilhermina Guinle conta que interpretar a sofisticada Pia, em ‘Verdades Secretas’, foi muito diferente de todos os trabalhos que realizou anteriormente. Entre os motivos, ter sido o seu primeiro papel depois da maternidade. “Na primeira reunião da novela, quando conversei com o Maurinho (Mauro Mendonça Filho), ele me falou: ‘Eu adoro trabalhar com atrizes depois que elas se tornam mães. É o seu primeiro trabalho depois da maternidade. Você vai ver que será diferente’. Eu saí da reunião pensando nisso, em que sentido seria diferente, e depois cheguei à conclusão de que foi em todos os sentidos. Levei mais profundidade para a personagem”, relembra a atriz.
Na trama de Walcyr Carrasco, Pia é ex-mulher de Alex (Rodrigo Lombardi), com quem teve dois filhos: Giovanna (Agatha Moreira) e Bruno (João Vitor Silva). Com dificuldade de lidar com o temperamento dos adolescentes, especialmente Giovanna, ela encontra refúgio nos braços de seu personal trainer, Igor (Adriano Toloza). “A Pia casou muito cedo, teve os dois filhos, se separou. Não trabalha, vive à custa do patrimônio do ex-marido. Ela chega aos quarenta e poucos anos com dois filhos adolescentes e sem um objetivo de vida. Então, precisa aprender a se refazer. É quando conhece o personal trainer e tudo começa a mudar”, analisa. Em entrevista, Guilhermina relembra um pouco mais o trabalho e os bastidores.
‘Verdades Secretas’ é escrita por Walcyr Carrasco, com direção de núcleo de Mauro Mendonça Filho e direção geral de André Felipe Binder, Natália Grimberg e Mauro Mendonça Filho, direção de Allan Fiterman, Mariana Richard e André Barros. A obra vai ao ar às segundas após ‘Império’, às terças depois de ‘The Masked Singer Brasil’, às quintas na sequência de ‘Sob Pressão’, e às sextas após o ‘Globo Repórter’.
ENTREVISTA COM GUILHERMINA GUINLE
Como você descreveria a Pia?
A Pia é um dos personagens mais reais que eu fiz nos últimos anos, porque ela é uma mulher comum, no sentido de que existem muitas Pias por aí. Em todos os lugares existe uma mulher de classe alta, sofisticada, que se casou com um homem rico muito cedo, na faixa dos vinte anos. Aquela mulher que foi criada para ser dona de casa, não trabalhar, cuidar do marido, dos filhos. A Pia fez isso muito cedo, teve os dois filhos e se separou. Ela acaba vivendo sem muito propósito, com o patrimônio do ex-marido, cuidando dos filhos. E aí chega aos quarenta e poucos anos com dois filhos adolescentes e sem um objetivo de vida. Então, ela tem que aprender a se refazer. É quando conhece o personal trainer e tudo começa a mudar.
Como a Pia marcou a sua carreira?
Pia marcou muito minha carreira porque foi o primeiro personagem que eu fiz depois de ter minha filha Mina, e eu lembro que, na primeira reunião, quando conversei com o Maurinho (Mauro Mendonça Filho), ele me falou: “Eu adoro trabalhar com mulheres depois que elas se tornam mães. É o primeiro trabalho seu depois da maternidade. Você vai ver que vai ser diferente”. Eu saí da reunião pensando nisso, em que sentido seria diferente, e cheguei à conclusão de que foi em todos os sentidos. A mulher é uma outra mulher depois que ela tem um filho. Os valores são outros, então, claro que a gente acaba levando isso para o personagem. A gente acaba levando essa profundidade. Profundidade seja ela de amor, de dor, de tudo. Acho que carregamos um pouquinho de nós, da nossa vida, para todos os personagens. A Pia me marcou muito por essa questão.
Qual a principal lembrança que você tem do período de gravação da trama?
As lembranças são de um momento único, porque foi a primeira vez que me senti fazendo cinema na televisão. Depois de vinte anos trabalhando na TV, era a primeira vez que não tinha a parede onde ficam as câmeras. Era um cenário fechado, como se fosse uma locação, como é no cinema e com o diretor de fotografia de cinema. A gente fazia todo um lado, depois todo o outro lado. Então, foi uma sensação muito única neste momento.
O público a abordava muito nas ruas por conta da trama quando ela foi exibida originalmente?
Nunca me abordaram tanto no sentido de quererem falar sobre o assunto. Era uma novela muito comentada na época. As pessoas estavam todas em casa assistindo, querendo saber o que vai acontecer, o que não vai acontecer. E foi diferente também porque foi uma das primeiras novelas que eu fiz que consegui assistir aos capítulos no horário. Eu assistia todos, porque a novela era exibida mais tarde, eu estava em casa, e era uma delícia de acompanhar. Eu adorava assistir tudo. O trabalho de todo mundo era impecável. A direção foi incrível. Eu queria saber o que acontecia com os personagens quando eu lia os capítulos e depois eu queria ver como tinha ficado no ar.
A trama fez muito sucesso em 2015 e está sendo muito bem recebida agora. A que você atribui o êxito da história?
Acho que um sucesso nunca vem de uma coisa só, é um conjunto. O Walcyr sempre é um sucesso como autor, é inacreditável, né? Ele faz novela das seis, das sete, das nove, das onze e são todas um sucesso. Ele é um grande autor e construtor de histórias e de enredos. Ele não deixa o público pensando: “Ah, tá bom. Já sei. Vai por esse caminho”. Não! Ele sempre te surpreende. Acho que a direção do Maurinho Mendonça foi impecável. A trilha sonora teve uma importância enorme. A iluminação também impecável, os cenários… Acho que os atores estavam muito bem, e uma das razões para isso foi que a gente começou dois meses antes uma preparação com o Sergio Penna, fazendo leituras, ensaios, encontrando com o núcleo. Fazendo vários e vários ensaios. Foi muito legal, teve muita preparação. Quando a gente chegou no set, a gente já tinha toda uma intimidade que, às vezes, na correria de outras produções, não temos esse tempo. Isso com certeza foi um diferencial.
Você está revendo a trama? É muito autocrítica ao revisitar um trabalho antigo?
Sou muito autocrítica, sim, com o meu trabalho. Eu gosto de rever, porque acho que a gente sempre pode melhorar. Fazer televisão é um grande exercício para o ator. Às vezes você chega em um estúdio e tem 20, 25 cenas pela frente. Você precisa ter todo aquele texto decorado e conseguir fazer todas as cenas bem. E às vezes você não consegue. Então, você pensa: “Poxa, eu podia ter dado uma pausa maior aqui ou não precisava ter dado essa pausa…”, “Podia ter falado dessa maneira…”. É uma autocrítica constante.