Em 2018, visitei o Instituto Criar, organização sem fins lucrativos de formação profissional de jovens carentes no meio audiovisual. Fui selecionar o primeiro grupo de participantes para visitar o estúdio da série 3% pelo Crew Base Boost Initiative, programa da Netflix que visa ensinar e preparar jovens da periferia para cargos iniciantes em produção.
Nós brasileiros não somos acostumados a nos ver na tela, e foi um prazer poder ajudar a mudar isso. No entanto, não fazia sentido eu selecionar profissionais para uma série que critica processos de seleção. Por isso, decidi contratar todo mundo. Isso causou muita comoção e empolgação.
Esse espírito de inclusão foi muito importante desde o lançamento de 3% em 2016. Ele marcou a primeira série original Netflix brasileira, que também foi a estreia do showrunner Pedro Aguilera. No entanto, nosso objetivo também era amplificar novas vozes. Por isso, na terceira e na quarta temporadas, adotamos duas iniciativas locais da Netflix para que a série pudesse servir como treinamento para novos cineastas e outros profissionais iniciantes da área.
Pelo Crew Base Boost Initiative, treinamos e empregamos quase 30 jovens, em sua maioria negros, mulheres e LGBTQ+, para diversas áreas, como arte, produção, maquiagem e figurino.
Entre as pessoas que participaram, está Jacqueline Viana, que trabalhou em 3% como maquiadora e cabeleireira. Ela contou que se sentiu “realizada” com a oportunidade de poder trabalhar com um elenco negro. Para a produção, foi um grande benefício ter alguém com a experiência dela no estúdio, e isso se refletiu na tela.
Na quarta e última temporada de 3%, que estreou no dia 14 de agosto, também adotamos o programa piloto Shadowing, iniciativa que permite a diretoras negras promissoras observar uma produção de perto no estúdio, preparando-as para trabalhar em futuras séries.
Recém-formada pelo Instituto Criar, Jessica Queiroz acompanhou três diretores por quatro meses. Editora aspirante a diretora, Jessica aprendeu sobre efeitos especiais, pós-produção e elenco em primeira mão.
O recrutamento dessas vozes jovens de fora dos canais mais comuns foi um processo emocionante e gratificante para todos que trabalharam na série. Trabalhar com aprendizes com diferentes experiências ajudou a expandir minha visão de mundo como produtor e artista. Aprendi com eles tanto quanto eles aprenderam comigo.
É gratificante ver os participantes desses programas, como Jessica, avançarem em suas carreiras. Depois de 3%, Jessica dirigiu a série Fim de Comédia, do CINEBRASiLTV, recebeu propostas para dirigir episódios de séries e foi convidada por duas produtoras para começar a desenvolver outras séries. Segundo Jessica, poder acompanhar os profissionais no estúdio foi essencial: “A oportunidade possibilitou que eu participasse de processos de seleção aos quais eu não teria acesso de outra forma, em um mercado fechado”.
A premissa de 3% sempre foi fomentar a igualdade no Brasil. Portanto, o fato de termos conseguido proporcionar isso nos bastidores é impagável. A série pode ter chegado ao fim, mas continuará disponível na Netflix para futuros fãs. Também esperamos que nossos esforços para criar uma rede com mais diversidade e inclusão no país tenham um impacto duradouro.