Todos dizem eu te amo, mas é em momentos adversos que o amor é posto à prova. Entre quatro paredes, ou algumas a mais, a quarentena trouxe para as pessoas rotinas e vivências nunca antes experimentadas. Muitos de nós se viram diante de conflitos internos, mas também externos, principalmente com as pessoas isoladas por tempo indeterminado. São situações nascidas neste cenário que levaram Jorge Furtado, autor de diversos programas de TV – entre os mais recentes, ‘Mister Brau’, ‘Sob Pressão’ e ‘Todas as Mulheres do Mundo’ –, a criar ‘Amor e Sorte’. A série tem previsão de estreia no canal internacional da Globo e Globoplay nos EUA no dia 8 de setembro.
Serão quatro episódios independentes, três deles com direção artística de Patricia Pedrosa, que assinou também a direção artística de ‘Cine Holliúdy’, ‘Shippados’ e ‘Todas as Mulheres do Mundo´, e outro com a direção artística de Andrucha Waddington, um dos grandes nomes do audiovisual brasileiro, à frente de filmes como ‘Casa de Areia’ e ‘Sob Pressão’. “A situação-limite que estamos vivendo, confinados, em convivência forçada, amplifica todos os princípios da relação. Casamentos, amizades e parcerias são colocados à prova numa quarentena e podem sobreviver, mais fortes, ou sucumbir”, comenta Jorge Furtado sobre a mensagem em comum nos episódios.
Para a diretora, Patricia Pedrosa, a série poderia ser considerada um “reality show da dramaturgia”, pois os bastidores, no contexto em que a produção está inserida, têm uma grande importância para a compreensão do conceito do produto. “A série tem três episódios filmados única e exclusivamente pelos nossos atores. Ninguém entra na casa deles. Deixamos a câmera, o equipamento de som, de luz, os figurinos, os materiais de arte, enfim, tudo que precisamos num set de filmagem, na porta da casa deles. Eles recebem todo esse material higienizado, montam e operam os equipamentos sozinhos, apenas com nosso direcionamento virtual. Há toda uma equipe on-line trabalhando com eles: fotógrafo, figurinista, assistentes de direção, diretores, técnicos, produtores de arte, etc. É como se fôssemos músicos de uma orquestra entregando flauta, violino, piano, oboé, harpa, entre outros instrumentos, para trompetistas tocarem. Estamos descobrindo uma nova maneira de filmar”, relata.
Três episódios gravados remotamente e um especial, gravado in loco
Cada episódio desta série é uma poesia diferente sobre a quarentena, e cada trama foi pensada especialmente para ser interpretada por grandes nomes da dramaturgia que passam este período juntos.
Lázaro Ramos e Taís Araujo são os personagens do episódio assinado por Alexandre Machado, autor de produções icônicas, como ‘Os Normais’ e ‘Shippados’, no primeiro trabalho após a partida de seu grande amor e parceira de profissão, Fernanda Young. Neste episódio, ele retrata um casal confinado que, ao divergir sobre uma questão ideológica, chega a uma grande discussão matrimonial turbinada pelos nervos à flor da pele.
Caio Blat e Luisa Arraes protagonizam texto deles próprios e de Jorge Furtado, que fala sobre um relacionamento que começa exatamente quando as pessoas precisam entrar em confinamento. Emilio Dantas e Fabiula Nascimento protagonizam a história de um casal que caminha para o divórcio quando o isolamento começa, com texto assinado pelas autoras Jô Abdu e Adriana Falcão, que têm em comum séries de sucesso no currículo como ‘A Grande Família’.
O quarto episódio promete surpreender o público em cenas protagonizadas por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, interpretando mãe e filha que precisam lidar com o isolamento e seus fantasmas do passado. O texto é de Antônio Prata – que tem tratado sobre o tema da quarentena semanalmente com seus leitores e seguidores – ao lado de Chico Mattoso, Fernanda Torres e Jorge Furtado. O episódio conta com a direção artística de Andrucha Waddington, marido de Fernanda, que conduziu as gravações ao lado dos filhos, Pedro e Joaquim e do diretor de fotografia João Faissal. A equipe contou com produção remota de arte e de figurino e foi captado presencialmente na região serrana do Rio de Janeiro, onde a família passa esse período.
No caso dos outros casais, os atores operam seus kits individuais de equipamento e são dirigidos à distância por Patricia Pedrosa. Neste momento em que as funções no “set” se misturam e se adaptam, Luisa Arraes, Caio Blat e Lázaro Ramos fazem uma dobradinha com Patrícia na direção de seus respectivos episódios, e o diretor Ricardo Spencer completa a equipe de direção no episódio de Emilio e Fabiula.
A produção à distância em si, inclusive, foi uma das razões que levaram Jorge Furtado a pensar na série. “Este projeto surgiu da vontade, da necessidade, da urgência de autores, atores e técnicos de produzir em tempos de pandemia. A doença impede o encontro de equipe e elenco, que é o fundamento do nosso trabalho. Então, lembrei que muitos atores estão confinados juntos, ou porque são casados, ou porque são mãe e filha, amigos, irmãos. E pensei na possibilidade de criar dramaturgia para duplas já confinadas, ambientadas em suas próprias casas. São pequenos duetos e jogos cênicos com grandes atores”, define Furtado.
Episódio escrito por Alexandre Machado para Lázaro Ramos e Taís Araujo traz homenagem a Fernanda Young
O episódio escrito por Alexandre Machado para Lázaro Ramos e Taís Araujo mostra como a exaustão pela convivência excessiva pode afetar um casal. “O episódio fala do limite emocional pelo qual todos nós passamos durante essa quarentena. O confinamento forçado leva as emoções ao extremo, e nos vemos vivendo conflitos antes inimagináveis, sobre os assuntos mais prosaicos. Na história, acompanhamos como um casal reage a um panelaço, transformando uma crise política numa crise matrimonial. Vemos a dor e o ridículo disso”, adianta Alexandre.
Este é o primeiro trabalho de Alexandre Machado após a morte de Fernanda Young, sua companheira de décadas. O autor relembra o amor e a sorte que envolveram este relacionamento. “Conhecer Fernanda foi a melhor coisa da minha vida. Em todos os sentidos. Amorosamente, profissionalmente, espiritualmente, existencialmente. Ninguém aproveitou mais a Fernanda do que eu, foram 25 anos casados, muita sorte, realmente. Eu não seria 10% do que sou se não fosse por ela. Na verdade, não estaria nem vivo se não fosse por ela. Não teria esses quatro filhos, que hoje são tudo para mim. Mas não foi apenas sorte, porque nós dois nos dedicamos a ter um projeto de vida que foi muito além de marido e mulher. Foi não, continua sendo, pois ainda continuo no mesmo projeto traçado por ela. E pretendo encontrar com ela em muitas outras encarnações”. O episódio tem uma pequena dedicatória no final. “Escrevi o texto para ela”, conta.
Com o texto em mãos, Lázaro Ramos e Taís Araujo precisaram realizar muito mais tarefas do que estudá-lo e interpretá-lo, como geralmente fazem. “A gente trabalhou duríssimo para colocar esse episódio na rua. O Lázaro tem muito mais knowhow do que eu tecnicamente, já dirigiu um filme, entende de lente e de coisas que eu não entendo. Tive que me esforçar para fazer e conseguir fazer. Até montagem de microfone a gente fez. A equipe estava remota, nos ajudando muitíssimo, mas não estavam aqui. Eles nos ajudavam, mas dependiam muito do nosso empenho. Então, era empenho dos dois lados, da equipe e nosso. Foi muito bonito de ver esse trabalho colaborativo”, comenta Taís.
Apesar da experiência como diretor, Lázaro também destaca o grande aprendizado que foi realizar este trabalho: “Foi difícil porque é uma demanda muito diferente de quando trabalhamos com a equipe próxima. E, mesmo eu tendo experiência como diretor, tendo estudado um pouco para exercer minha profissão, tudo era muito diferente. Os equipamentos que chegaram, a maneira de se relacionar e conversar com os técnicos, com o diretor de fotografia à distância, a gente teve que criar nosso próprio vocabulário para esse momento. Mas, ao mesmo tempo, foi tudo muito prazeroso. Porque nesse momento em que está difícil exercer a nossa profissão, porque é uma profissão que necessita muito de proximidade, poder estar em cena, decorar o texto, atuar… Com um texto da qualidade do Alexandre Machado, trouxe alegria junto. Valeu muito a pena”.
Alexandre também falou sobre a felicidade de participar do projeto. “Eu adorei! Foi um desafio animador, em meio a esses momentos tão difíceis. A dramaturgia serve para isso: fazermos uma reflexão sobre o que passamos, para que o trauma possa ser curado. Além disso, há muito tempo esperava uma oportunidade de escrever algo para o Lázaro e a Taís fazerem juntos”, finaliza.
‘Amor e Sorte’ é uma série em quatro episódios, criada por Jorge Furtado. O episódio ‘Linha de Raciocínio’ tem roteiro de Alexandre Machado, direção artística de Patrícia Pedrosa e direção de Lázaro Ramos.
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