“Apaixonado, particípio passado do verbo apaixonar, dominado de paixão, entusiasmado, possuído de grande amor”.
Paulo (Emilio Dantas) é um homem apaixonado. Pela liberdade, pela poesia e pelas mulheres. Por todas as mulheres. Do mundo. É capaz de encantar-se à primeira vista por diversas vezes e se entregar, a cada relação, com a intensidade de quem vive o eterno amor. Arquiteto, morador de Copacabana, Paulo tem a paixão como combustível para a vida. Acredita firmemente que o amor alimenta sua alma de poeta e enxerga a essência de cada uma das mulheres com as quais se relaciona.
‘Todas as Mulheres do Mundo’, série original Globoplay’, faz uma homenagem à obra do autor, diretor e dramaturgo Domingos Oliveira, que morreu em março de 2019, aos 82 anos. A releitura, adaptada aos dias de hoje, traz reflexões filosóficas sobre a vida, o amor e a morte com um humor inteligente e refinado, características marcantes do universo de Domingos. “‘Todas as Mulheres do Mundo’ é uma série sobre o amor, sobre liberdade. É uma oportunidade para os brasileiros conhecerem a poesia de um grande artista”, afirma o autor Jorge Furtado. No elenco, estão nomes como o da atriz Sophie Charlotte – considerada uma das “musas” do dramaturgo – que dá vida à Maria Alice, além de Lilia Cabral, Fernanda Torres, Maria Ribeiro, Fábio Assunção e Felipe Camargo, entre outros.
Aos seus dois melhores amigos, Cabral (Matheus Nachtergaele) e Laura (Martha Nowill), Paulo faz confidências sobre sua vida e suas aventuras amorosas, assim como busca consolo para suas frustrações. A cada episódio, uma nova história de amor vivida pelo arquiteto, que se apaixona à primeira vista por mulheres livres, inteligentes, intrínsecas e autênticas. Únicas. “O que liga essas mulheres é o fato de se relacionarem com o mesmo homem em algum momento de suas vidas e por coincidência o abandonarem”, afirma Patricia Pedrosa, que assina a direção artística da série.
A partir de uma ideia original de Domingos Oliveira e Maria Ribeiro, ‘Todas as Mulheres do Mundo’ é uma série criada e escrita por Jorge Furtado e Janaína Fischer, com direção artística de Patricia Pedrosa e direção de Ricardo Spencer e Renata Porto D’Ave. A série exclusiva Globoplay é produzida pelos Estúdios Globo e estreia no dia 23 de abril.
“O mundo é uma festa elegante, cheia de gente”.
Amor à primeira vista
Coração acelerado, boca seca, frio na barriga, pernas bambas. Quem nunca se apaixonou à primeira vista? É assim que Paulo (Emílio Dantas) se sente todos os dias, inebriado. Paulo ama o amor, ama amar e se envolve de corpo e alma em cada uma das relações que vivencia. Se deixa levar a um estado de êxtase que só o amor sem clichê é capaz de proporcionar.
O ator Emilio Dantas descreve seu personagem como alguém capaz de enxergar uma verdade nas paixões sem as amarras dos conceitos sociais. “O Paulo é um cara que distribui afeto. Ele é muito afetuoso com o Cabral (Matheus Nachtergaele), com a Laura (Martha Nowill), que é a melhor amiga dele, com todas as mulheres com quem ele se relaciona. O que bate nele é a paixão da inflamação por se conhecer alguém muito interessante. E, muitas vezes, uma paixão pode desvirtuar para uma bela amizade, para uma grande admiração, ou até para uma conquista, uma relação”, descreve Emilio Dantas.
A diretora artística da série endossa a visão do ator. “O Paulo percebe que é muito difícil se apaixonar por uma mulher só. Cada uma tem as suas características, suas idiossincrasias, suas qualidades. E são muitas e muito diferentes umas das outras. Então, ele se vê numa grande cilada porque todas são envolventes, todas têm coisas muito interessantes, universos pelos quais ele transita com paixão, afeto e admiração. O Emilio (Dantas) tem um carisma e uma doçura muito importantes para o personagem. Ele consegue reunir diversas qualidades do Paulo”, relata Patricia Pedrosa.
Paulo se apaixona à primeira vista quando vê Maria Alice (Sophie Charlotte), que chega em seu apartamento para a festa de Natal. “Um momento de beleza é uma alegria para sempre”. A jovem bailarina, que está noiva de Leopoldo (Ricardo Gelli), acha graça da gentileza exagerada do anfitrião. Com o tempo, compreende a verdade do sentimento do arquiteto por ela e acaba se envolvendo com ele.
Considerada uma das “musas” de Domingos Oliveira, a atriz Sophie Charlotte interpreta na série o papel que foi de Leila Diniz no filme homônimo da década de 60. “A Maria Alice é uma mulher livre, para além de qualquer amarra, de qualquer convenção. E, ao mesmo tempo, muito doce. É um pouco raro encontrar personagens femininos falando de amor e dos encontros de uma forma bonita, livre e poética. Isso diz muito sobre o Domingos, sobre a Leila e sobre mim também. A Maria Alice e o Paulo retratam um pouco da história de amor da Leila com o Domingos”, aponta a atriz.
A tentativa frustrada de uma vida a dois com Paulo, no entanto, faz com que Maria Alice decida ir morar na Alemanha. E, com o passar do tempo, Paulo conhece Adriana (Samya Pascotto), Elisa (Marina Provenzzano), Martinha (Veronica Debom), Renata (Maria Ribeiro), Pâmela (Sara Antunes), Gilda (Mariana Sena), Sara (Maeve Jinkings), Natália (Natasha Jascalevich) e Pink (Naruna Costa). E, com elas, vive diferentes histórias de amor.
“O Paulo tem uma grande paixão, mas ele acha que todas as outras mulheres também são apaixonantes. A ideia de que fosse um amor à primeira vista a cada episódio foi da Patricia (Pedrosa, diretora artística). Ela queria que, a cada capítulo, uma atriz fosse apresentada. Então, o Paulo vai se apaixonar à primeira vista e nós, espectadores, também vamos”, aponta o autor Jorge Furtado, explicando a escolha proposital de atrizes menos conhecidas do grande público com a intenção de gerar, também na audiência, um amor à primeira vista.
Duas grandes paixões da vida de Paulo são seus melhores amigos: Laura (Martha Nowill) e Cabral (Matheus Nachtergaele). “A Laura é um pouco de todas as mulheres do mundo. Acho que ela é uma mulher não idealizada e cheia de defeitos. É uma mulher que quer ser feliz, quer ter filho, não importa se será fruto de um amor romântico ou não. E é uma amiga fiel, leal e dedicada. Ela, Paulo e Cabral são como os três mosqueteiros, muito amigos”, descreve a atriz Martha Nowill.
“Os três são alter egos, cada um a seu modo, do Domingos Oliveira, homenageado desta série. O Cabral é um homem mais velho, que tem um pouco mais de sabedoria por estar há mais tempo no mundo, e é quem carrega em si as falas mais filosóficas do Domingos Oliveira. Cabral ama a vida, apesar de saber que a vida é muito dura. Tem um único amor, ao qual ele é totalmente dedicado, a Glorinha (Priscilla Rozenbaum)”, detalha Matheus Nachtergaele sobre o personagem que está sempre acompanhado do mascote da turma: o cãozinho Oliveira.
“Amar é querer o bem do outro”.
A Domingos, com amor
Reconhecido e referenciado por sua atuação como cineasta, diretor de teatro, roteirista, dramaturgo e ator, Domingos Oliveira era um homem à frente do seu tempo e se consagrou com uma vasta produção no cinema em quase 60 anos de carreira. Engenheiro de formação, Domingos nunca trabalhou na área. Se envolveu no teatro amador, campo pelo qual se apaixonou e onde começou a escrever e produzir. Quando lançou seu primeiro longa-metragem, “Todas as Mulheres do Mundo” (1966), já havia escrito dezenas de peças de teatro e dirigido diversos filmes nacionais. “Domingos era um poeta da paixão. Era apaixonado pelo amor, pela vida e pela arte, e apresentava sua visão de mundo, sua originalidade, em tudo que produzia”, relata Jorge Furtado, que assina o roteiro da série com Janaína Fischer.
Segundo o autor, o projeto da série tomou forma dois anos antes da morte do dramaturgo. A obra ganhou histórias e personagens inéditos e contou com a valiosa contribuição do próprio Domingos, que ainda em vida leu roteiros e fez sugestões ao que foi escrito pelos autores. “Domingos e eu trocamos muito sobre os personagens. Nos episódios, há vários trechos originais e poesias inéditas dele”, explica Jorge Furtado. Sete textos originais do dramaturgo foram usados como referência: “Todas as Mulheres do Mundo”; “Amores”; “Separações”; “Os Inseparáveis”; “A Primeira Valsa”; “BR 716”; e “Largando o Escritório”.
Diretora artística da série, Patricia Pedrosa destaca a importância da obra de Domingos para a dramaturgia brasileira e conta os desafios de manter a essência de seu universo ao trazer a narrativa para os dias atuais. “O filme ‘Todas as Mulheres do Mundo’ foi muito importante para a época. Domingos conseguiu conduzir essa narrativa de uma forma muito naturalista em um período em que Glauber Rocha (cineasta 1939 – 1981), Nelson Pereira dos Santos (cineasta 1928 – 2008), por exemplo, faziam filmes mais políticos. E veio o Domingos fazendo essa dramaturgia mais leve, mais solar, e ao mesmo tempo, um retrato muito fiel da sociedade e das pessoas daquela época. Na série, tentamos pegar a essência do que o Domingos fez em sua obra, adaptando e transportando-a para o agora. Fizemos esse trabalho com todos os personagens, em todos os episódios, trazendo-o para mais perto do que vivemos hoje, fazendo essa transposição”, explica.
A presença de Domingos também se reflete no elenco. Fazem parte do casting atores que trabalharam ou conviveram com Domingos Oliveira, como a filha, Maria Mariana, a produtora cultural Renata Paschoal, com quem o dramaturgo trabalhou por 15 anos, as atrizes Maria Ribeiro e Fernanda Torres e a companheira Priscilla Rozenbaum.
“Jorge Furtado (autor) foi até a minha casa e me disse, emocionado: – Finalmente vamos conseguir mostrar para muita gente quem é o Domingos. Na série, faço uma participação afetiva, a Glorinha, o grande amor do Cabral (Matheus Nachtergaele). Patricia (Pedrosa, diretora artística) é só delicadeza, parecida com o Domingos no set: nada pode atrapalhar o ator. Foi bonito, todos se emocionaram”, conta Priscilla Rozenbaum.
Maria Mariana também conta sobre o clima no set. “Essa produção foi muito bem cuidada, com presença do coração, com amor, com sensibilidade. Desde a escolha dos atores e da diretora artística. Achei genial ser uma mulher”, afirma.
“É um desafio muito grande dirigir uma série que homenageia Domingos Oliveira. Eu quis me cercar de pessoas que fizeram parte da vida dele e que pudessem agregar, trazer informações e essa energia. É impressionante como todas as falas sobre o Domingos são repletas de afeto e, hoje em dia, de muita saudade. Fomos atrás dessas pessoas para compor o universo e tentar trazer o que o Domingos tinha de mais importante, que era o afeto nas relações e o amor ao trabalho e à vida”, relata a diretora Patricia Pedrosa.
“Meus olhos, quando veem uma coisa deslumbrante, não podem parar de ver”.
Releitura adaptada aos dias de hoje
Integralmente gravada no Rio de Janeiro, a série tem o bairro de Copacabana, reduto de Domingos Oliveira, como o coração das cenas. “O Domingos morou por muitos anos em Copacabana. É o lugar onde todas essas mulheres que passam pela série podem transitar, existir. Copacabana ferve, tem gente de todos os tipos”, comenta Patricia Pedrosa sobre a escolha das locações. Ao todo, foram escolhidas 71 locações externas para rodar 60% das cenas. A produção também gravou sequências na Região Serrana do Rio de Janeiro, onde uma casa virou cenário para um dos episódios.
“A biografia do Domingos Oliveira foi uma fonte de pesquisa muito preciosa. O mundo particular dele está muito presente em todo seu trabalho. Identificamos traços e características de muitos personagens que ele criou, assim como os lugares, as situações. A unidade entre os ambientes é a arte. A arte que inspira, que apaixona, que subverte, que resiste”, explica Anna Helena Saicali, que assina a produção de arte da série.
Anna Helena aponta que os cenários dos apartamentos de Paulo (Emilio Dantas), Laura (Martha Nowill) e Cabral (Matheus Nachtergaele) são os mais expressivos, com mais referências e riqueza de detalhes. A cobertura de Paulo em Copacabana ganhou ares sustentáveis. “Um projeto moderno de loft amplo e luminoso, com elementos ligados a literatura, arquitetura e artes plásticas para despertar a criação e celebrar o amor. É o espaço onde Paulo escreve poemas nas paredes, desenha as mulheres por quem se apaixona, lê seus autores prediletos e dá muitas festas”, detalha.
O cenário do personagem de Matheus Nachtergaele também conta com muita literatura, música e arte, porém com o ar nostálgico da arquitetura dos prédios de Santa Teresa. “É onde ele lê, ouve música, recebe seus melhores amigos e filosofa sobre a vida e sobre o amor. O sobrado tem pilhas de livros, objetos antigos que ele guarda pelo valor afetivo, pôsteres de filmes a que assistiu, inclusive alguns de Domingos Oliveira”, aponta a produtora de arte.
Já Laura tem afinidades com os mundos de Paulo e Cabral. “Ela cuida dos dois, é a companheira de todas as horas. Sua casa tem elementos ligados ao seu trabalho na área cultural – ela promove saraus de poesia, música, leituras – mas também tem detalhes mais pessoais, alguns toques mais delicados como plantas, objetos, cores”, afirma.
A paleta de cores, aliás, é um detalhe à parte. A diretora Patricia Pedrosa conta que, no processo de conceituação da série, a intenção era fazê-la em preto e branco. “Eu quis trabalhar com o mínimo de cor possível. Os planos têm pouquíssimas cores para ter o efeito do preto e branco com cor”, explica.
Essa suavidade é logo percebida na cenografia e no figurino. “Optamos por cores mais agradáveis aos olhos. São várias histórias de amor, românticas, e quisemos dar esse tom quentinho, aconchegante”, explica Fumi Hashimoto, que assina a cenografia da série. “A seleção de materiais também foi feita dentro da gama de cores que atendesse à paleta. Desde roupas de cama, louças, impressos, capas de livros, objetos de decoração até rótulos de produtos cenográficos. O resultado é muito agradável, harmonioso e de muito apuro estético”, endossa a produtora de arte Anna Helena.
Natália Duran, que assina o figurino da série com Cao Albuquerque, conta que entre as peças de Maria Alice (Sophie Charlotte) são comuns os tons rosados. “A Maria Alice usa roupas politicamente corretas. Tivemos uma pegada mais consciente na construção do figurino da personagem. Por isso, apostamos em profissionais que trabalham com sustentabilidade e tingimentos orgânicos”, explica. “O figurino dança junto com a caminhada da Maria Alice. Ela caminha e a roupa desfila com ela, flui. E tem os tons do amor, os rosados, tons agradáveis de serem vistos”, complementa.
Para a personagem Laura (Martha Nowill), a aposta foi no vermelho. “A Laura é a consciência, a intensidade, a amiga que vai falar para o Paulo a verdade do que está acontecendo”, detalha. Para o Paulo (Emilio Dantas), foram adotados os tons de cinza e verde. “Pensamos em um jovem arquiteto dos dias de hoje que não está nem aí para roupa. É um personagem que repete muita roupa. Já para o Cabral (Matheus Nachtergaele), a pesquisa levou em conta o perfil de filósofos e professores universitários. O Cabral é todo de brechó, de roupa usada. Aliás, usamos muito brechó na série, de maneira geral”.
Natália endossa que, em todos os personagens, está presente a ‘carioquice’ do Domingos Oliveira. “Tivemos a intenção de transportar o clima carioca dos anos 60 para os dias de hoje de uma maneira bem gostosa. É um figurino despretensioso, que conta a história de uma maneira mais cinematográfica. É como se uma personagem passasse o bastão para a personagem do próximo episódio. Elas têm um salto de personalidade de uma para outra, mas existe uma harmonia no visual no figurino todo”, descreve.
A atemporalidade é um ponto forte da produção, que traz referências de todas as décadas, sem ficar datada. Anna Van Steen, responsável pela caracterização da série, explica que cada personagem homenageia uma época ou estilo, e todas fazem parte das décadas em que Domingos Oliveira viveu. “Definimos, por exemplo, modelos de cabelos do século passado e que ainda usamos hoje em dia. A beleza está em todas as mulheres, seja qual for o estilo. A Maria Alice é a mais clássica e atemporal de todas. A Laura foi inspirada na Monica Bellucci. A Renata (Maria Ribeiro) e a Pâmela (Sara Antunes) revisitam os anos 60. A Natalia (Natasha Jascalevich) vem de uma pin up dos anos 50. A Martinha (Verônica Debom) tem livre inspiração na cantora Patty Smith nos anos 80. A Elisa (Marina Provenzzano) lembra uma mulher dos anos 40 e a Pink (Naruna Costa) está mais antenada com o nosso século, aproveitando a beleza dos cachos naturais”, detalha.
“Fernanda Torres, que interpreta Estela, mas que já foi Maria Alice na década de 90, homenageia esta época, com os cabelos levemente repicados. Já Dionara (Lilia Cabral), foi inspirada na atriz britânica Tilda Swinton nos anos 2000. Para Mariana Sena, que na série interpreta Gilda, a inspiração foi Grace Jones nos anos 70 e Sara, vivida por Maeve Jinkings, revisita a atriz dinamarquesa Anna Karina, também nos anos 60. Adriana (Samya Pascotto) representa a androginia – mistura de características femininas e masculinas em uma única pessoa – que é extremamente atual”, explica a caracterizadora.
Trilha sonora
Considerada uma das obras mais importantes da música popular brasileira, “Carinhoso”, de Pixinguinha, é o tema de abertura de ‘Todas as Mulheres do Mundo’ e será interpretada, a cada episódio, por uma grande cantora. A primeira é Marisa Monte. Foi a própria Marisa quem teve a ideia de que a clássica canção da MPB fizesse parte da abertura”, conta Patricia Pedrosa.
Rafael Langoni Smith, que assina a produção musical da série com Iuri Cunha, explica que o uso da música é pontual, ao invés de um pano de fundo para a ação. “A série é sobre mulheres e dá destaque a grandes intérpretes que, uma por uma, sonorizam os 12 episódios. ‘Todas as Mulheres do Mundo’ celebra essas cantoras e suas grandes personalidades quase como se fossem narradoras da história”, afirma o produtor.
“Como cada episódio tem uma mulher protagonista, pensei que seria envolvente ter uma cantora diferente fazendo a trilha de cada uma delas. Sendo assim, temos apenas vozes femininas, num leque bastante diverso, caminhando em paralelo à narrativa, ajudando, com sua obra, a contar nossas histórias e desvendar os universos de nossas personagens. Revisitamos, então, discografias de vários nomes nacionais, como Alcione, Rita Lee, Elis Regina, Cassia Eller, Marisa Monte, Céu, Ana Canãs, Nara Leão, Elza Soares e Maria Bethânia”, explica a diretora artística.
Entrevista com o autor Jorge Furtado
Nascido em Porto Alegre, Jorge Furtado começou sua vida profissional na TV no início dos anos 80. Foi repórter, apresentador, roteirista e produtor. No cinema, escreveu e dirigiu diversos curtas e longas-metragens, entre eles “Ilha das Flores”, “O homem que copiava”, “Saneamento Básico” e “Rasga Coração”. Na TV, foi roteirista de séries como ‘Agosto’, ‘Memorial de Maria Moura’, ‘Programa Legal’, ‘Cidade dos Homens’ e ‘Ó Paí Ó’, e dirigiu, entre outras obras, ‘Comédias da Vida Privada’, ‘Decamerão’ e ‘Doce de mãe’, que recebeu dois prêmios Emmy Internacional, o de Melhor Comédia e Melhor Atriz (para Fernanda Montenegro). Seus mais recentes trabalhos para a televisão são as séries ‘Mister Brau’ e ‘Sob pressão’. Jorge vê com entusiasmo a homenagem a Domingos Oliveira e acredita que o humor e a delicadeza de ‘Todas as Mulheres do Mundo’ farão bem ao Brasil.
Como começou o projeto da série?
O projeto da série começou há dez anos, quando falei para o Domingos que gostaria de filmar algumas de suas histórias. Sempre sonhamos em fazer alguma coisa juntos, trocávamos muita correspondência, nos encontrávamos. Mas a gente sempre adiava. Até que um dia, a Maria Ribeiro (atriz) me ligou dizendo que o Domingos estava interessado em retomar esse projeto. Propus que a Globo comprasse textos dele, chamei a Janaína Fischer para trabalhar comigo e começamos a estruturar a história. Troquei muito com ele, por e-mails e encontros, conversamos bastante sobre a série e finalmente estamos concretizando esse antigo sonho. Infelizmente, Domingos não está mais aqui para acompanhar, mas acho que ele ficaria muito feliz com o resultado. O universo, a sabedoria e o humor dele estão muito bem representados na série. É uma grande produção, com um grande elenco, com a direção espetacular da Patricia Pedrosa. A série vai fazer muito bem ao Brasil.
O que torna o texto da série tão especial?
‘Todas as Mulheres do Mundo’ é uma comédia romântica muito original. Nos últimos dois anos, mergulhei nos textos do Domingos, li tudo o que ele escreveu, trocamos muitos e-mails enquanto ele estava vivo. Ele tem muito humor, é um filósofo, um grande poeta, um homem apaixonado, com profundo conhecimento de dramaturgia. Mas talvez o que torne o texto do Domingos mais especial é que ele não tem nenhum clichê. Não tem nenhuma frase feita, nenhuma obviedade. É surpreendente como ele é tão original. Domingos construiu uma obra muito única. O maior desafio de escrever uma série que homenageia a obra dele foi criar um material original.
Foram criados personagens exclusivamente para a série?
Muitos personagens da série são baseados em textos originais do Domingos e vários outros foram criados por mim e pela Janaína Fischer. Tivemos que ampliar muito o texto, criando cenas e personagens novos, e fazendo com que eles se encaixassem no espírito do Domingos. Aos poucos, fomos pegando o estilo dos personagens e a lógica dele de escrever diálogos, de pensar o mundo de outro jeito. Acho que a gente conseguiu dar uma unidade para o texto. Uma coisa curiosa: usamos muitos textos inéditos do Domingos. Até o fim da vida, ele continuou escrevendo poemas, reflexões, livros, e a Priscilla (Rozenbaum, companheira de Domingos Oliveira) nos passou esse material. Nessa série não tem bandidos, não tem ninguém ruim, do mal. Todo mundo na série é bacana de algum jeito. É gente tentando viver, se apaixonar e ser feliz. Mas há vários conflitos, é claro. As pessoas têm desejos e medos distintos, e por isso os conflitos.
Como foi atualizar a obra do dramaturgo para os dias de hoje?
Trabalhamos com textos que foram escritos entre 1965 e os anos 2000. Mas, curiosamente, todos os textos originais têm muita atualidade. Tirando pequenas questões, como a existência de celulares, redes sociais, computadores – coisas que não existiam nos anos 60 –, o texto dele é muito atual. Continua sendo muito atual, assim como os clássicos, que são eternos e podem sempre ser refeitos. Com algumas cenas dos anos 60, talvez a gente tenha até andado para trás. Em termos de comportamento, de pensamento, havia uma vanguarda no jeito de pensar o amor, a vida naquela época. O Domingos, seja dos anos 60 ou de poucos anos atrás, continua à frente do seu tempo.
Qual é a sua relação com a obra do Domingos Oliveira?
Domingos era um amigo e meu ídolo, sempre foi uma grande inspiração para mim. No meu primeiro filme, “Houve uma vez dois verões”, eu segui exatamente as regras que ele usava de como filmar, dando privilégio total aos atores. Ele achava que os atores deviam ter a primazia do set, não podiam ser atrapalhados pela tecnologia, pela câmera ou pelo som. Eles deviam ter liberdade para criar. O “Todas as Mulheres do Mundo” é meu filme brasileiro preferido, que mais vejo e revejo com prazer. Ele era um criador que transformou a sua vida, com muita generosidade, em obras para dividir com as pessoas. O Domingos levou a fundo a ideia de que a arte requer comunhão. Isso é comovente.
O que o público pode esperar desse trabalho?
‘Todas as Mulheres do Mundo’ tem o humor e a delicadeza que estão fazendo muita falta para o Brasil, para o mundo. A série vai apresentar ao Brasil a obra de Domingos Oliveira, uma figura incrível que construiu um universo romântico, filosófico que eu tenho certeza que vai encantar a todos. O Domingos era um homem apaixonado pela humanidade. Um sujeito que amava as mulheres, os homens, amava o Brasil. E ele colocou todo amor, todo conhecimento que ele tinha do ser humano em suas peças, no seu teatro, nas suas poesias, nos seus livros. Falar de poesia e de amor, de uma maneira delicada, vai ser um respiro na dramaturgia brasileira.
Entrevista com a diretora artística Patricia Pedrosa
O elenco da série é unânime sobre a condução de Patricia Pedrosa na direção: ela sabe o que quer, é suave e vibra com o resultado das cenas. A jovem diretora começou a trabalhar na Globo como estagiária de assistente de direção na ‘Grande Família’ (2007) e foi assistente de direção na novela ‘A Favorita’ (2008). Começou a dirigir quando retornou para ‘A Grande Família’ (2011) e depois em ‘Chapa Quente’ (2015). Assinou a direção geral de ‘Mister Brau’ (2015) e ‘A Fórmula’ (2017), e a direção artística de ‘Cine Holliúdy’ (2019) e ‘Shippados’ (2019), dois recentes sucessos de crítica e audiência. Patricia empresta seu olhar feminino e sensível à direção artística de ‘Todas as Mulheres do Mundo’.
Como o projeto chegou a você?
O Jorge Furtado (autor) me ligou fazendo o convite e eu aceitei na hora. Procurei me cercar dos melhores profissionais porque acredito que o sucesso do trabalho que a gente faz é coletivo. Mergulhei completamente no universo do Domingos Oliveira, que eu conhecia, mas não tão profundamente a ponto de me sentir preparada para dirigir uma série. Assisti a todos os filmes, li muitas peças, a biografia dele, e coisas lindas que a Priscilla Rozenbaum dividiu com a gente. Essa série tem muita energia, ficamos muito envolvidos nessa atmosfera de felicidade do Domingos. A gente vibrou a cada cena. Foi como se o Domingos estivesse com a gente.
O que torna o texto da série especial?
O texto não tem julgamentos. É muito leve, fala do cotidiano, da relação entre namorados, entre amigos, entre mãe e filho, essas relações familiares tão presentes no nosso dia a dia e que a gente acaba falando pouco sobre elas. A gente passa por elas sem perceber. Colocamos uma lente de aumento, dilatamos um pouco esses momentos.
O que as mulheres têm em comum?
O amor pela vida. São amantes do que fazem, do que são, do que falam, são convictas, têm personalidades muito fortes e têm em comum o Paulo passando pelas vidas delas. ‘Todas as Mulheres do Mundo’ não é uma série sobre o Paulo. É sobre suas paixões, sobre todas essas mulheres que por acaso esbarraram com o Paulo ao longo do caminho.
Fale um pouco sobre a escalação do Emílio Dantas para viver o Paulo e da Sophie Charlotte para Maria Alice.
A primeira pessoa que me falou sobre o Emilio Dantas foi o Silvio de Abreu. Eu conhecia pouco o trabalho dele, o chamei para uma leitura e me apaixonei. O Emilio é uma pessoa muito leve, lida com o outro de maneira despretensiosa, sem julgamentos, tem um frescor de que o personagem precisava. A Sophie Charlotte foi o primeiro nome que pensamos para a Maria Alice. Ela era uma das musas do Domingos, fez filmes, peças, parte do universo dele, era realmente muito próxima. Era importante tê-la na série como a Maria Alice, o grande amor do Paulo. Quando se pensa no que a Leila Diniz (que interpretou a personagem no filme homônimo na década de 60) representou na época, a gente tinha que buscar uma atriz com essa força. Não havia outra Maria Alice possível para nós.
Como foi a escolha de pessoas próximas ao Domingos para participações especiais?
É um desafio muito grande dirigir uma série que homenageia Domingos Oliveira. Eu quis me cercar de pessoas que fizeram parte da vida dele e que pudessem agregar, trazer informações e essa energia. É impressionante como todas as falas sobre o Domingos são repletas de afeto e, hoje em dia, de muita saudade. Priscilla Rozenbaum; Maria Mariana; Maria Ribeiro, que fez um documentário lindo sobre ele; a própria Sophie Charlotte; a Sara Antunes, que também tinha uma relação extremamente próxima. Fomos convidando essas pessoas para compor o universo e tentar trazer o que o Domingos tinha de mais importante, que era o afeto nas relações e o amor ao trabalho e à vida. E é isso que a gente tenta ter na série em todos os takes, em todos os planos.
Como surgiu a ideia de escalar mulheres pouco conhecidas do grande público para cada um dos episódios?
Em sua biografia, o Domingos Oliveira diz que ele é o que as mulheres que passaram por ele o fizeram. Em cada episódio, o Paulo se apaixona por uma mulher. São paixões à primeira vista. A mulher causa um impacto e tira dele uma paixão quase incontrolável. Como são amores à primeira vista, achei que seria interessante termos atrizes pouco conhecidas para que o público também possa se apaixonar à primeira vista por essas mulheres.
A escolha de mulheres na produção da série foi proposital ou coincidência?
Foi proposital. Desde o início da formação da equipe, buscamos ter o maior número possível de mulheres envolvidas em todas as áreas. Temos todas as mulheres do mundo na frente e por trás das câmeras.
Qual é a mensagem da série ‘Todas as Mulheres do Mundo’?
De que as pessoas são muito interessantes em todas as suas maneiras. No jeito de ser, de pensar, de falar, de agir. Dentro de cada pessoa há um universo enorme e é nele que a gente mergulha a cada episódio.
PERFIL DOS PERSONAGENS
Paulo (Emilio Dantas) – arquiteto de profissão, mas poeta de coração. Morador de Copacabana, é um homem apaixonado pela vida, pela liberdade, pelo amor e pelas mulheres. Por todas as mulheres do mundo. Se envolve verdadeiramente em todas as relações que vivencia, mas reconhece que seu coração é de Maria Alice. Tem Laura e Cabral como seus melhores amigos.
Laura (Martha Nowill) – melhor amiga de Paulo e de Cabral. Produtora cultural, decide que quer ser mãe antes dos 40, mas logo percebe que não será fácil encontrar um pai para a criança.
Cabral (Matheus Nachtergaele) – melhor amigo de Paulo e Laura. Filósofo, romântico e sonhador, decidiu apostar em seu grande amor, Glorinha, que agora está casada e morando em Amsterdã. Mora em um sobrado em Santa Teresa e tem um cãozinho chamado Oliveira.
Maria Alice (Sophie Charlotte) – bailarina, rompe o noivado com Leopoldo após conhecer Paulo em uma festa. Vivem um intenso romance, até que ela decide morar na Alemanha. Mantém contato com Paulo por vídeos.
Leopoldo (Ricardo Gelli) – noivo de Maria Alice.
Adriana (Samya Pascotto) – jovem, moderna, questionadora. Vem de uma família culta que ela muito admira. Adriana é uma mulher muito livre, mais livre até que Paulo.
Estela (Fernanda Torres) – mãe de Adriana. Intelectual e amante da arte, está casada há mais de 30 anos com Cândido.
Cândido (Felipe Camargo) – pai de Adriana, marido de Estela. É um engenheiro que tentou ser escritor e virou um filósofo. Tem grande empatia pelo Paulo.
Elisa (Marina Provenzzano) – moradora de Madureira, conhece Paulo quando Cândido, pai de Adriana, é hospitalizado.
Martinha (Verônica Debom) – é uma viciada em drogas legalizadas. Acredita em orquestrar a própria vida manipulando as reações químicas no seu corpo.
Dionara (Lilia Cabral) – mãe de Paulo e noiva de Evaristo, com quem decide se casar.
Evaristo (Floriano Peixoto) – noivo de Dionara
Clarissa (Maria Mariana) – filha de Evaristo.
Renata (Maria Ribeiro) – arquiteta que trabalha no mesmo escritório que Paulo. Acabam se envolvendo e decidem passar um fim de semana na casa de campo do chefe, na serra.
Rui (Fábio Assunção) – dono do escritório de arquitetura onde trabalham Paulo e Renata. É casado com Pâmela.
Pâmela (Sara Antunes) – mulher do chefe de Paulo e Renata.
Gilda (Mariana Sena) – jovem cantora que sonha em ser famosa. Diz que não tem tempo para romance.
Sara (Maeve Jinkings) – conhece Paulo em um bar, onde recita poesias.
Natália (Natasha Jascalevich) – conhece Paulo na sala de espera da terapeuta. Faz aula de bordado e de trapézio.
Dra Jones (Renata Paschoal) – terapeuta.
Pink (Naruna Costa) – atriz, ganha o papel para representar Maria Alice na peça escrita por Paulo.
Glorinha (Priscilla Rozenbaum) – grande amor da vida de Cabral.
Oliveira (Flint) – cachorro de Cabral.
** As frases usadas ao longo do texto são originais de Domingos Oliveira.
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