Artista multifacetada, Ana Flávia Cavalcanti acaba de apresentar seu curta-metragem “Rã” no Festival Internacional de Cinema de Berlim. Além de protagonizar, ela escreveu e dirigiu o curta ao lado de Julia Zakia. “É um filme que homenageia esse lugar de ser no brasil, que é ser negro e ser pobre”, conta a atriz, que se inspirou em sua própria história. “Não quero parar de dirigir nem de escrever jamais”, diz ela, que tem outros filmes e até um livro em produção.
A história da primeira vez em que Ana Flávia Cavalcanti e Julia Zakia provaram rã foi o mote para a criação do curta-metragem. A trama veio à tona por acaso, quando as duas estavam justamente jantando rã. A diretora pediu então que Cavalcanti escrevesse esse enredo – em um primeiro momento, o material era apenas um conto; mais tarde, a quatro mãos, virou um projeto de curta-metragem que tomou forma a partir de um edital da Spcine. “Desde o começo, nosso processo foi feito com muita parceria. Tudo o que eu escrevia mandava para a Júlia, e vice-versa. Foi um trabalho muito rico e sem vaidade. A melhor ideia sempre ganhou. É uma história muito minha e particular, mas é antes de tudo uma história”, analisou Ana Flávia.
“Enquanto ela, por ter uma experiência de peso na direção de fotografia, trouxe esse olhar artístico, eu fiquei com a espinha dorsal da história, que fala de uma família preta, pobre, do ABCD paulista. Consegui levar muito para o filme o que eu vivi na minha primeira infância. E eu e a Júlia nos complementamos muito nesse trabalho”, concluiu.
No enredo de “Rã”, Val e suas duas filhas vivem numa casa de 16 metros quadrados. Em uma madrugada, mãe e filhas são subitamente acordadas com palmas – era alguém chamando por Val no portão. A voz é de Neném Preto, amigo de Val e funcionário do mercadinho. No portão, a moça ouve dele um estranho pedido: usar seu quintal para colocar uma carga exótica. Mãe de família, ela hesita, mas acaba cedendo.