Bom Sucesso estreia no próximo dia 29 e Shirley Cruz não vê a hora de apresentar a sua personagem, Gláucia, ao público. “Ela é a diretora comercial da Editora Prado Monteiro e toda a sua preocupação é fazer com que a empresa volte a faturar”, explica Shirley, empolgada com o perfil da mulher poderosa que vai representar na telinha. “Estou preparada para qualquer polêmica! A minha presença nessa novela já vai ser um ato político. Quero contribuir com as manas”, dispara.
Durante a preparação para a novela, Shirley se viu diante de uma questão importante para entender melhor a sua personagem: “De onde Gláucia vem?”
“Uma mulher negra e bem-sucedida veio da pobreza e foi ascendendo? Não, eu não acho que ela veio da pobreza. Eu, por exemplo, vim de uma família classe média, nunca precisei estudar em colégio público. As pessoas não enxergam esse lugar como uma possibilidade na televisão e no cinema. Pensam: ‘ah, veio de um projeto social…’ Quero ajudar a construir essa visão junto ao público. Não dá mais pra ser artista sem contribuir”, defende Shirley.
Formada em Artes Cênicas, Shirley deu seus primeiros passos como atriz no longa “Cidade de Deus”, lançado em 2002. “Eu estava começando ali a minha trajetória. Não tenho dúvida nenhuma ao afirmar que ‘Cidade de Deus’ mudou a história do cinema e do artista negro”, diz Shirley, preparada para inspirar as novas gerações.
“Na minha época, quando alguém me perguntava quais eram as minhas referências, só viam a minha cabeça Glória Maria e Zezé Motta. Hoje as coisas estão mais amplas, mas ainda muito longe do ideal. Eu quero chegar numa entrevista e não precisar falar como ‘uma mulher negra’, mas como uma mulher. Não é uma negra bonita. É uma mulher bonita. A gente ainda vive isso! Por isso, uma personagem como Gláucia numa novela, com o alcance que tem, não sei se muda, mas contribui pra essa visão. Toda vez que tô na tela, eu penso: ‘aquela menina lá no Complexo do Alemão vai me ver e pensar que existe uma possibilidade. Abrir esse portal dentro do peito de meninas negras é o que me interessa”, afirma.
O novo papel na TV vem logo após Shirley celebrar a vitória do filme “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, que ganhou o prêmio principal da mostra paralela Um Certo Olhar, no Festival de Cannes, em maio deste ano. “Quando se ganha o prêmio de Melhor Filme, é o filme de todo mundo. É mérito de todos, desde o cara que segurou o cabo até quem está de frente para as câmeras”, afirma Shirley, que considera Bom Sucesso a sua primeira novela. “Já fiz duas ou três participações muitos anos atrás, mas que não me atenderam e eu falei ‘não quero saber disso’. E, graças a Deus, como artista negra não tenho do que reclamar, faço muito cinema. Mas chega uma hora em que a novela é importante por vários motivos. Principalmente, no momento em que a gente tá vivendo. Ter um ano de contrato é um negócio que me faz dormir tranquila”, diz Shirley, bem-humorada.
Bom Sucesso, escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, estreia dia 29/7. Direção artística de Luiz Henrique Rios e direção geral de Marcus Figueiredo. Produção de Samantha Santos.