Com dois filmes de longa-metragem e nove peças de teatro em seu currículo, Thuany Parente (26) é uma das revelações do ano de 2018 em sua estreia na televisão. Em entrevista exclusiva para o site Noticiasdetv.com, a atriz fala sobre esse momento de transição da sua carreira e sobre sua vida.
Apesar de você ter nove peças de teatro em seu currículo (“Trapa Rasa”, “Hair”, “Um Violinista no Telhado”, “As Mulheres de Grey Gardens”, “Vampiras Lésbicas de Sodoma”, “Todos Os Musicais de Chico em 90 Minutos”, “Wicked”, “Rent” e “A Era do Rock”), “Apocalipse” é sua primeira novela e seu primeiro trabalho na televisão. Você teve alguma dificuldade para decorar uma quantidade maior de texto e/ou se posicionar em cena por causa das câmeras?
— Como nos musicais, o tempo também é curto para se absorver muitas informações, não tive grandes dificuldades com o volume de textos para decorar, não. Minha maior dificuldade foi com a linguagem mesmo; os palcos e as câmeras têm dinâmicas completamente diferentes. Ambos têm como objetivo fazer o público acreditar naquela história que está sendo contada. A diferença é nas ferramentas que utilizamos. É como escolher a chave de fenda certa para cada parafuso, entende? Tem que encaixar direitinho, senão não adianta. O teatro é grandioso, a câmera é minimalista. É preciso ajustar as intensidades. Esses dias fiz um teste pra teatro e a banca veio me avisar que eu estava muito contida, falando baixinho. É tudo questão de equalizar.
Na novela “Apocalipse”, sua personagem, Alice, mente para a família e para o namorado que cuida de uma senhora inválida, com o intuito de realizar o sonho de cantar em um bar. Sua família te apoia desde o início do seu interesse pelo meio artístico?
— Felizmente, sempre tive apoio da minha família. Meu pai foi cantor durante muitos anos, meu tio teve uma banda. Acho que essa coisa artística está um pouco no sangue. É claro que há muitas incertezas nesse meio, é difícil alcançar alguma estabilidade nesse ramo. Mas, sou muito pé no chão e gosto sempre de planejar. Então, consigo expor dados sólidos mesmo nesse furação que é ser artista no Brasil.
A novela “Apocalipse” é um drama bíblico. Como você lida com a fé e com a religião?
— Tento sempre ser a melhor, dentro das minhas limitações e, ao mesmo tempo, superá-las. Ou seja, busco uma constante evolução. Procuro praticar o bem e vejo isso voltando positivamente para mim. Uma vez me disseram: “Existem duas formas de se ver a vida: uma é que tudo é um milagre e outra que nada é”. Eu fico com a primeira opção. Faço minhas preces todas as noites, agradecendo por tudo de bom que tenho na vida e mentalizando aquilo que ainda não alcancei; tenho fé de que tudo vai chegar na hora certa.
Como foi a experiência de fazer “Intimidade Pública” e “Maria e Eduardo” no cinema? O que você destaca de mais curioso nas diferenças entre cinema, teatro e televisão?
— Bom, o teatro e o cinema são obras fechadas, você sabe onde o personagem começa e onde termina, as curvas são mais claras. Além disso, o tempo de pesquisa é maior, você consegue degustar mais cada cena. Na TV, as coisas são mais corridas, muitas cenas pra gravar no mesmo dia. Fora que a obra é aberta, tudo pode mudar. Cansei de me surpreender recebendo os capítulos. Isso é um exercício diário, mas é uma delícia indescritível, uma verdadeira corda bamba. O cinema e a TV têm uma linguagem parecida, a que eu citei na primeira resposta, sobre as sutilezas, a intenção no olhar, tudo menor, mais enxugado. Digamos que os três sejam sotaques diferentes da mesma língua.
Seu pai era músico de uma banda cover de rock, certo? Foi ele quem te ensinou a cantar? E como surgiu seu interesse em se tornar atriz? Qual é sua formação?
— Isso mesmo. Ele não me ensinou a cantar de maneira formal, mas com certeza contribui muito na minha percepção musical. Via meu pai aquecendo a voz e ensaiando músicas desde muito pequena. Lembro de eu reclamando que não conseguia fazer vibrato (aquela tremidinha clássica com a voz) de jeito nenhum e ele me dizia: “É só se trancar no quarto e tentar até sair”. Quando comento isso com meus colegas de musical hoje em dia, eles riem muito. A maioria aprendeu a partir de exercícios específicos com seus professores de canto. Sobre a formação de atriz, foi mega por acaso; sempre gostei de fazer ceninhas para minha família, decorava todas as falas das princesas da Disney, tentava chorar de mentira, etc, mas comecei a fazer aula de teatro com 7 anos porque um curso de teatro alugou um espaço da minha casa (o primeiro andar funcionava como casa de festas), então, seria de graça. Meus pais acharam que seria uma boa no meu desenvolvimento, mas nunca imaginaram que eu adotaria isso como profissão. Aos 14 anos, comecei a estudar teatro musical num curso e, aos 18, quando terminei a escola, ingressei no curso profissionalizante da CAL, no Rio.
Recentemente, em seu Instagram, você apareceu de cara limpa em uma foto para falar sobre a pele natural por trás dos filtros. Como é ter que fazer exercícios físicos e tratamentos estéticos em prol da sua profissão, mesmo quando há dificuldades financeiras?
— Olha, tenho pensado muito sobre isso ultimamente. Esse processo é todo muito louco e ingrato. É assim: eu me sinto obrigada a seguir determinado padrão por conta do trabalho, então gasto uma grana com procedimentos, alguns para a saúde (que são excelentes, precisamos cuidar do nosso corpo) e outros puramente estéticos. O que acontece é que, a partir disso, eu acabo influenciando meninas jovens a fazerem a mesma coisa, buscando uma perfeição inexistente, impossível de se alcançar. É quase uma doença contagiosa: eu me contamino e acabo contaminando outras pessoas. É muito ingrato. Fico me perguntando até onde posso romper com isso sem me prejudicar. Sou peixe pequeno, ainda busco meu lugar ao sol, mas não quero ser conivente com esse movimento de desumanizar o humano. Esses dias fiz um post no meu Facebook sobre esse assunto. Hoje, ouço músicas gravadas e parece que são robôs cantando, de tanto efeito. E, às veze, é um excelente cantor. Quer dizer, o máximo que o ser humano pode oferecer já não é mais suficiente. Estamos nos tornando máquinas. Isso nos faz um mal danado, não à toa estamos começando a tomar remédios cada vez mais cedo. Todo mundo tem uma criança na família tomando ritalina. Não é pra ser assim.
Você é vaidosa ou é tudo pela arte?
— Você me pergunta se sou vaidosa, sou sim, mas estou fazendo um resgate à minha essência, passando por um detox psicológico. Estou tentando entender como tirar o melhor de mim sem me cobrar ser uma boneca ambulante. É delicado. Minha geração foi a última do mundo analógico. Agora estamos caminhando rumo ao (completo) desconhecido. Isso é muito bonito, porém perigoso.