Os fãs de teledramaturgia já podem comemorar. Em outubro, o VIVA estreia três novelas emblemáticas: “Torre de Babel”, “Pai Herói” e “A Gata Comeu”. O mês começa com “Torre de Babel”, que substitui “Meu Bem, Meu Mal” a partir do dia 10. Em 1998, a ousadia de Sílvio de Abreu vinha mais uma vez à tona no horário nobre da Globo. A trama repleta de mistérios, vinganças e conflitos marcou o folhetim, considerado um dos mais importantes da carreira do autor. A abordagem de temas até então considerados incomuns na televisão, como homossexualidade, violência e drogas na classe média, inicialmente virou polêmica na mídia e causou incertezas para o público.
“A novela foi muito especial e difícil. Pela primeira vez, neste horário, tinha-se a liberdade de falar de todos os assuntos que eram, até aquele momento, tabus. O primeiro capítulo já foi um escândalo. No dia seguinte, os jornais só falavam disso. Aí teve início um rebuliço, uma revolução, digamos assim. A imprensa começou a fomentar ainda mais escândalo do que a novela tinha. Com o decorrer da história, consegui segurar o público. E ele veio… e aí, veio de coração aberto. A novela explodiu e foi um grande sucesso. A trama é muito forte, com personagens muito fortes. Eu tinha fé”, descreve o autor, em entrevista exclusiva ao canal.
De controvérsia e duvidosa, “Torre de Babel” conquistou o telespectador e virou mais um sucesso de tantos criados por Sílvio. Com colaboração de Bosco Brasil e Alcides Nogueira, direção geral de Denise Saraceni e direção de Carlos Araújo, José Luiz Villamarim e Paulo Silvestrini. Personagens ambíguos e um elenco de peso fazem parte da trama: Adriana Esteves, Cacá Carvalho, Christiane Torloni, Claudia Jimenez, Claudia Raia, Cleyde Yáconis, Danton Mello, Edson Celulari, Glória Menezes, Juca de Oliveira, Karina Barum, Letícia Sabatella, Maitê Proença, Marcello Antony, Marcos Palmeira, Natália do Vale, Silvia Pfeifer, Stênio Garcia, entre outros.
20 anos com sede de vingança
Ambientada em São Paulo, a produção começa com uma cena de crime: o ex-perito em fogos de artifícios José Clementino (Tony Ramos), que trabalha como pedreiro na construção de um luxuoso shopping center, assassina a esposa ao flagrá-la com outros dois homens. Ele é condenado a vinte anos de prisão e, ao ser libertado, coloca em prática seu plano de vingança contra o dono da construtora, César Toledo (Tarcísio Meira), que colaborou para sua acusação. A explosão tão planejada do Tropical Towers acontece, e o enigma da vez é descobrir o responsável, que só é revelado ao fim da trama. Mais de 200 mil dólares em equipamentos de efeitos especiais foram importados para as cenas da tragédia. A explosão durou aproximadamente seis minutos na novela.
De Jamanta à Sandrinha
A comédia também foi destaque em “Torre de Babel”, com personagens caricatos e bordões que ganharam as ruas. A espevitada Sandrinha enfatizou o lado cômico de Adriana Esteves por sua atuação. Ao som de “Só no Sapatinho”, as aventuras da interesseira garçonete eram marcadas por nuances e trejeitos que cativaram o público. Ela divide o quarto de um cortiço com Bina (Claudia Jimenez). As duas também trabalham na lanchonete de Edmundo Falcão (Victor Fasano). Se Bina tem uma qualidade, é o humor. Espontânea e engraçada, vê sua vida mudar de um dia para o outro ao receber uma herança. Junto à sua melhor amiga, a cozinheira Luzineide (Eliane Costa), eternizou o bordão “Cala a boca, Luzineide!”. Outra frase bastante repetida por Bina era: “Tô podendo!”. Durante a trama, ela divide-se entre Gustinho (Oscar Magrini), Boneca (Ernani Moraes) e Falcão.
Por falar em Gustinho e Boneca, os dois meio-irmãos de Clementino são um sucesso à parte em “Torre de Babel”. No dialeto de Gustinho, o “percebe” é tão usado para pontuar suas falas, que vira complemento de seu nome artístico: Johnny Percebe. Ele faz sucesso como cantor romântico, mas, na verdade, quem tem o talento vocal é Boneca. Por se achar feio, prefere não se apresentar diante do público e empresta sua voz ao irmão.
Mas quem rouba a cena em “Torre de Babel” é Cacá Carvalho, com o carismático Jamanta, dono do bordão “Jamanta não morreu!”. Portador de deficiência mental, o personagem foi abandonado na porta do ferro-velho de Agenor (Juca de Oliveira). Jamanta encantou o público com seu jeito ingênuo e suas trapalhadas. Cada vez que é contrariado, manifesta um tique nervoso que desenvolveu com o passar dos anos. O sucesso do personagem fez com que Silvio de Abreu o trouxesse de volta na novela “Belíssima” (2005).
Atores tradicionais em papéis inusitados
“Ninguém esperava um ator popular ser vilão. Era normal que as pessoas se assustassem com a violência daquela cena no primeiro capítulo”, comenta Tony Ramos em entrevista ao VIVA, ao recordar José Clementino. Através do personagem, Silvio de Abreu debate a dificuldade de ex-presidiários ao tentarem retornar ao mercado de trabalho, diante da escassez de oportunidades e do preconceito social.
E não foi só o veterano que impressionou o público ao aparecer como vilão em “Torre de Babel”. Outros atores também se arriscaram em personagens pouco comuns em suas carreiras. Símbolo sexual no país, Claudia Raia vive o oposto com Angela Vidal. Ao longo da novela, a calculista empresária revela seu lado psicopata e sua paixão doentia por Henrique (Edson Celulari).
Tarcísio Meira (César Toledo) e Glória Menezes (Marta Toledo), o casal símbolo da TV brasileira, também são casados na ficção. Na novela, eles vivem uma crise e se envolvem em relações extraconjugais. Enquanto César reencontra Lúcia (Natália do Vale), um amor do passado, Marta conhece Bruno (Stênio Garcia). Já Marcello Antony ganha notoriedade com Guilherme Toledo, filho do casal. O caçula da família tem temperamento esquizofrênico, e é viciado em drogas.
Christiane Torloni e Silvia Pfeifer formam o casal Rafaela e Leila. As duas mantêm uma relação amorosa há anos e, juntas, abrem uma butique de moda no shopping Tropical Towers.
Da Silva x Toledo
De um lado a poderosa família Toledo. De outro, o convívio amargurado dos Da Silva no ferro-velho. José Clementino (Tony Ramos) é filho do violento Agenor (Juca de Oliveira), pai de Sandra (Adriana Esteves) e Shirley (Karina Barum). Ele sofre com a rejeição da filha mais velha, Sandrinha, que não lhe perdoa pelo assassinato da mãe. Shirley é o oposto da irmã: é a única que aceita o pai sem julgamentos. A moça tem um defeito físico na perna que afeta seu jeito de andar, consequência de um desentendimento com Sandrinha no passado. Ao se infiltrar na família Toledo, José Clementino conhece Clara (Maitê Proença), irmã de criação de Marta (Glória Menezes). A convivência faz com que Clementino tenha a chance de se redimir.
César Toledo (Tarcísio Meira) e Marta Toledo (Glória Menezes) têm três filhos: Henrique (Edson Celulari), Alexandre (Marcos Palmeira) e Guilherme (Marcello Antony). Henrique é o primogênito do casal e comanda os negócios do pai. Casado com Vilma (Isadora Ribeiro), com quem tem dois filhos, Junior (Caio Graco) e Tiffany (Stephani Neves), não perde a oportunidade de viver relações fora do casamento. Já Alexandre é cheio de ingenuidade e bondade. Envolve-se com Sandra (Adriana Esteves), que só tem interesse em seu status social. O mais novo dos três, Guilherme, é a ovelha negra da família. Também é uma das vítimas da explosão do shopping Tropical Towers. Ao longo dos capítulos, Celeste (Letícia Sabatella) surge na trama, e revela que teve um filho com ele, durante um rápido relacionamento no Mato Grosso. Guiminha é interpretado por Felipe Latgé.
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